Quando todas as outras medidas de combate a uma doença falham, a única forma de proteger a população é a produção de vacinas. Com a dengue, a saída parece estar se encaminhando para isso. Após três décadas, as tentativas do poder público de controlar o mosquito transmissor não tiveram resultados significativos. A população não colaborou. Agora, para evitar que novas epidemias aconteçam, o País tem investido, tardiamente, em imunizações.
No entanto, ainda deve levar algum tempo para que medicamentos com alta eficácia cheguem aos postos de saúde.
A série de reportagens especiais sobre os 30 anos de dengue no Ceará se encerra hoje trazendo os avanços da ciência no que diz respeito ao desenvolvimento de vacinas contra os sorotipos da doença. No rol de projetos em andamento, duas imunizações despontam. Uma delas é a vacina fabricada pelo laboratório francês Sanofi-Pasteur, que recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado, e pode começar a ser aplicada neste ano.
O medicamento passou por experimentos em todo o Brasil até receber o aval do órgão, mas seu alcance deve ser restrito. O baixo grau de proteção (65%, em geral), a necessidade de três doses para obter máximo desempenho e os altos custos (estima-se que uma dose deva custar em torno de R$ 400,00) tornam a disponibilização gratuita quase inviável.
Altos custos
No Ceará, a vacina foi testada entre os anos de 2011 e 2013 em 600 crianças e adolescentes de 9 a 16 anos. Segundo Luis Carlos Rey, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da análise no Estado, diz que a imunização teve bons resultados na prevenção de casos graves e, consequentemente, internações por dengue. O médico, contudo, aponta outras dificuldades, como a incerteza sobre o tempo de duração dos efeitos. "Ainda estamos investigando. Já faz quatro anos que vacinamos os voluntários e temos que ver se a proteção é a mesma do início. Teremos que acompanhar por mais uns dois anos para saber", observa Rey.
A vacina brasileira gera mais expectativas. Dez centros de pesquisa nacionais se preparam para iniciar a última fase de testes. Dentre eles, está o Núcleo de Medicina Tropical da UFC. Ivo Castelo Branco, coordenador do núcleo e responsável pelo trabalho, explica que 1.200 voluntários cearenses receberão a imunização. No Brasil, serão 16 mil, ao todo. Conforme ele, resultados de testes iniciais indicaram a eficácia de 80% para os quatro sorotipos da doença com uma só dose.
Acompanhamento
A previsão é que a avaliação comece neste mês, mas o processo pode ser prejudicado por questões financeiras. Além disso, ainda serão necessários cinco anos de acompanhamento após os testes para averiguar a real proteção conferida pela vacina e os efeitos colaterais.
"Temos perdido essa briga contra a dengue há 30 anos, porque as medidas de controle do Aedes aegypti não tiveram bons resultados e as pessoas esperam pelos governantes", diz Castelo Branco. "A vacina é só uma das maneiras de combater a doença. Ela deve existir, mas ainda devem haver medidas para controlar o mosquito", acrescenta.
ENQUETE
O que você faz para combater o mosquito?
"Estou sempre de olho na minha casa e dos meus vizinhos. Tenho medo não só da dengue, mas da zika e da chikungunya. Por isso, faço faxina toda semana sem exceção"
Luzia Cícera Mendes de Lima
Diarista
"Não temos recipiente que acumule água. Tenho cuidado até com tampinha, mas dependo também de meus vizinhos. Moro perto de um sítio meio abandonado e tenho medo"
Teresa Vieira Guimarães
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