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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Mangue seca e afeta meio de subsistência dos Balbinos

Cascavel. O assoreamento da barra do mangue dos Balbinos, em Cascavel, tem causado prejuízos aos pescadores, principalmente para os que tiram o sustento através da captura do caranguejo. Bancos de areia formados entre o mar e a área de pesca da comunidade impedem a circulação da água marinha e, com isso, tanto a vegetação quanto a fauna estão afetadas.

Moradores da comunidade afirmam que nunca como agora o mangue esteve tão seco. Em boa parte da área, onde antes se via uma vegetação exuberante e, sobretudo, uma fartura da pesca, há um cenário de desolação.
Numa caminhada pela mata, há a rápida constatação da natureza degradada. Bichos mortos e troncos apodrecidos se espalham num terreno seco, onde a água já foi abundante.
Interrupção
O presidente da Associação dos Moradores da Comunidade dos Balbinos, Francisco de Assis Ferreira Pires, conta que a única forma de recuperação de todo o sistema natural é a escavação com máquinas dos bancos de areia. Ele lembra que esse trabalho vinha sendo realizado sistematicamente pela Prefeitura de Cascavel, mas ultimamente o serviço foi interrompido.
Segundo Ferreira, com a seca, a vegetação que é preservada por lei e pela consciência dos moradores morre. Em consequência, a fauna também sofre com a falta d'água e, nos poucos locais onde o mar inunda, há um déficit de peixes.
Estuário
Na mesma caminhada mata adentro pelo mangue é fácil perceber o potencial do estuário para a vida dos bichos do mar e, particularmente, para a subsistência da comunidade. O estado de degradação atinge fauna e flora. Os galhos e até os troncos sucumbiram ao chão. Caranguejos e siris mortos são comuns em meio à lama ou entre as folhas secas das árvores tombadas.
"A única saída para nós é a construção de uma barra artificial. Sem isso, vamos assistir à piora dessa área", afirmou Ferreira. Sua preocupação não é exagerada, conforme ressalta. Aliás, disse que muitos ambientalistas têm chegado ao local e diagnosticando não apenas o processo decrescente da preservação do meio-ambiente litorâneo, quanto a perda da memória daqueles povos do mar.
Lutas
Ferreira conta que a realidade atual do mangue é mais uma das dificuldades impostas aos Balbinos, uma comunidade de pescadores a 52 Km da Capital do Ceará, onde a história registra uma presença forte do índio na composição étnica do povoamento, dentro do Município de Cascavel, já no limite com Pindoretama, ambos na Região Metropolitana de Fortaleza.
Estudos também apontam para uma longa luta pela posse da terra, em que houve a organização de uma associação de moradores para manter o pescador na sua terra e não morar distante da praia, como acontece em outros trechos litorâneos do Nordeste e, particularmente, no Ceará, onde estão cada vez mais restritas as aldeias de pescadores.
O comerciante Damião Reis Silva também é testemunha dessas lutas antigas em que os Balbino travaram para preservar suas terras e suas origens. No entanto, ele conta que algumas batalhas foram perdidas. Uma delas foi ter desistido da pesca e optado pela atividade comercial.
"Vivi muitas dificuldades como pescador e sem apoio de ninguém. Um dia a gente cansa e um dia eu resolvi instalar minha própria mercearia", conta Damião. Ele não vê perspectivas de melhoras para o pescador artesanal na localidade
Providências
O secretário de Finanças de Cascavel, Rocha Neto, informou que até o fim desta semana uma retroescavadeira dará continuidade ao trabalho de retirada dos bancos de areia. Ele explica que são esses bancos que impedem o escoamento da água do mar para alimentar o mangue e assim permitir a renovação de toda a cadeia produtiva do estuário.
Neto disse que a interrupção dos trabalhos se deu em decorrência de uma falha mecânica no equipamento, mas que voltará a atuar até amanhã, quinta-feira. A urgência é sentida pela gestão e o uso da máquina é considerado com imprescindível para a permitir que o mangue viva.
"Remover a areia tem sido um trabalho contínuo. É uma guerra contra o mar. Mas isso vem sendo feito há, pelo menos, cada três meses", disse.
No entanto, os moradores querem mais. Para Ferreira, a repetição do problema que se agrava a cada dia com a degradação ambienta, coloca em risco a sobrevivência do bioma. Para ele, a saída mais racional seria a construção de um canal artificial, que pudesse permitir o livre fluxo da água marinha.
"Muitos técnicos não veem outra saída, senão essa", afirmou o líder comunitário. Para ele, ações paliativas além de terem custos para os cofres municipais, adiam decisões mais efetivas para o problema. O temor maior, conforme salienta, é que essas ações venham a ser implementadas tarde demais.
ENQUETE
Como enfrentar a degradação da área do mangue?
"Não acredito em medidas paliativas. Acho que a solução é a construção de um canal, o que é defendido por técnicos que nos visitam. Agora, neste momento, é preciso que uma máquina faça a retirada da areia"!
Francisco de Assis Ferreira
Líder comunitário
"Remover a areia tem sido um trabalho contínuo. É uma guerra contra o mar. Mas isso vem sendo feito há, pelo menos, cada três meses. O que temos feito ao longo do tempo foi travar uma luta contra o mar"
Rocha Neto
Secretário municipal
Mais informações:
Prefeitura de Cascavel
Avenida Otávio Felíciano de Souza, 2920
Centro

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