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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Piscicultores não sabem como retomar cultivo no Castanhão

Jaguaribara. Nos últimos dez anos, centenas de piscicultores que investiram na criação de tilápia no Açude Castanhão, o maior do Ceará, obtiveram resultados positivos e a atividade expandiu-se. Movimentava a economia local. Todos os dias, eles tinham o que fazer. Não faltava trabalho e renda. Duas semanas após a morte generalizada do pescado nas gaiolas, a pergunta persiste: o que fazer? Os produtores têm uma resposta comum: "O dia amanhece e a gente não sabe para onde ir".
O cenário nas águas escuras é desolador. Centenas de gaiolas estão vazias e abandonadas depois de concluído o trabalho de retirada de 3,5 mil toneladas de pescado morto, apodrecido, que boiava nos tanques-redes.

 O mau cheiro ainda exala nas margens do reservatório próximas aos criatórios. A ampla maioria dos piscicultores não tem condições de recomeçar a atividade. "Perdemos tudo e sem a ajuda do governo, dos bancos não temos como fazer nada", disse o vice-presidente da Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão (Acrítica), Elianildo Clemente, 43.
O quadro é de tristeza generalizada. "Só ficou dívida com os fornecedores de ração e com os bancos", disse o piscicultor, Francisco Alves, 66. "A gente ia tão bem, mas tudo se acabou rapidamente". No açude, alguns criadores encontram coragem para transferir as gaiolas para águas mais afastadas do vertedouro e tentar reiniciar em menor quantidade, por conta própria, a criação intensiva da tilápia. Por enquanto, é um número reduzido.
Os números apresentados pela Secretaria de Aquicultura e Pesca do município justificam o cenário de preocupação de produtores, moradores e autoridades. A estimativa inicial é de que foram afetados diretamente 163 produtores e 558 famílias (produtores, trabalhadores) atingidas com a mortandade. Os prejuízos estão entre R$ 18 milhões e R$ 21 milhões. As dívidas com o Banco do Brasil é de R$ 1,3 milhão; com o Banco do Nordeste chega a R$ 1,6 milhão; com os fornecedores de alevinos é de R$ 170 mil; mas com os vendedores de ração salta para R$ 2,9 milhões. O quilo da tilápia era vendido por R$ 6.
A cidade de Jaguaribara, inaugurada em 2001, após a construção do Açude Castanhão, tem economia dependente da atividade da piscicultura. Outros projetos de produção de fruticultura e de leite ainda são insignificantes. "Não tenha dúvida. O peixe é a principal atividade. Gera emprego e renda", disse o prefeito, Francini Guedes. "Esse desastre vai afetar o comércio e agravar a crise que as pequenas cidades já enfrentam".
O gestor municipal e os piscicultores vivem a esperança de que o governador do Ceará vai agir rápido em socorro aos produtores de tilápia. Recentemente, o governador Camilo Santana visitou a barragem e se reuniu com os criadores.
A reivindicação dos piscicultores e da gestão municipal inclui o perdão das dívidas com os bancos ou pelo menos a prorrogação do vencimento e a concessão de novos financiamentos. A Prefeitura já decretou estado de calamidade pública.
Foi criado um Conselho Gestor do Castanhão para tratar da questão. Representantes do governo federal, estadual e de municípios no entorno do açude (Jaguaribara, Jaguaretama, Alto Santo e Jaguaribe) integram o órgão que deve discutir ações para organizar a atividade.
Apesar de o reservatório acumular 19% de sua capacidade, os produtores e administração local acreditam que ainda é viável a continuidade do projeto até a Semana Santa do próximo ano. "É preciso distanciar as gaiolas, entre si, e colocá-las em águas mais afastadas da parede", disse Guedes. Antes da tragédia, a produção mensal era de 1.500 toneladas de tilápia.
Técnicos locais criticam o modelo de criação de apenas quatro parques aquícolas no açude, segundo projeto do Ministério da Pesca. As gaiolas ficaram concentradas próximas uma das outras e do vertedouro. "Defendemos a instalação de pelo menos 24 parques, segundo projeto do Dnocs", disse o secretário de Infraestrutura e Urbanismo do município, Roberto Colares.
O Estado anunciou a liberação de R$ 70 mil para apoiar a retirada do pescado morto, em convênio com o município, mas até agora o recurso não saiu.
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"Sem ajuda do governo, dos bancos, não temos condições. Não dá para fazer nada. Perdemos tudo, mas ficaram as dívidas com os bancos e os fornecedores. Precisamos de novos financiamentos e do perdão da dívida"
Elianildo Clemente
Piscicultor

"Faz dez anos que trabalhamos aqui. Começamos com poucas gaiolas, e sempre precisamos de financiamento. Agora precisamos mais ainda porque não sabemos o que fazer e não temos condições de recomeçar"
Davi de Oliveira
Piscicultor

Mais informações:
Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ceará - (85) 3241-0561
Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão - (88) 9730- 5556
Honório Barbosa
Colaborador

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