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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Maré alta causa destruição em comunidades de Icapuí


Ondas fazem desabar muros, ameaçam estruturas de edificações e trazem prejuízos para o turismo.

Icapuí. O avanço do mar tem preocupado moradores e empresários que vivem do turismo em várias praias do Litoral Leste. Edificações estão comprometidas e o turismo local poderá, nos próximos anos, sofrer o reflexo da mudança no comportamento das marés, que estão invadindo a costa. Em algumas praias, o turismo está abaixo da média para a época do ano.O mar avançou cerca de 1,5 a 3 metros naquele trecho do Litoral Leste do Estado e ameaça a estrutura de edificações, como as barracas.


 fotos: Ellen Freitas

O avanço do mar é um problema que vem afetando todo o litoral brasileiro. As principais causas estão relacionadas com as mudanças climáticas, à erosão costeira, a ocupação desordenada da orla marítima e outros fatores. No Litoral Leste do Ceará, a alta das marés tem deixado rastro de destruição, causando sérios prejuízos à população e ao turismo local.

Na praia de Redonda, pescadores explicam que o mar tem avançado rapidamente nos últimos 20 anos e que nos últimos 10, as marés estão cada vez mais violentas. A água chega próximo às casas e chalés construídos na orla, causando riscos de desabamento das edificações. Um dos empresários do setor hoteleiro, Miguel Guillen, está há 12 anos no local. Ele possui cinco chalés à beira-mar e conta que, desde que chegou, faz o monitoramento do mar. "Quando vim para cá, o mar ficava longe, tinha muita salsa aqui na frente e hoje ele já encosta perto da subida da orla. O mar avançou cerca de 1,5 a 3 metros por ano e isso tem preocupado todo mundo", lamenta.

Em um trecho da orla, a maré destruiu parte do muro de contenção e a força da água tem dizimado, aos poucos, parte do asfalto. Em fevereiro do ano passado, desmoronou parte da falésia, conhecida como Ponta de Redonda. A chuva e a forte maré foram os responsáveis pelo desabamento. Na ocasião, ninguém se feriu. Devido ao episódio, os pescadores estão apreensivos quanto aos próximos meses de janeiro e fevereiro, quandoa maré costuma se comportar de forma mais ofensiva.

"Quem tem um pedacinho de terra na serra começou a construir uma casinha lá, quem não tem fica sob as graças de Deus", afirma o pescador João de Deus, 60 anos, que conta que nunca tinha visto nada parecido.

Contenção

Na praia de Requenguela, também neste município, moradores construíram um muro de contenção para evitar que a água tomasse a rua e invadisse as casas. O morador e dono de uma barraca, Rogério Nogueira, conta que gastou cerca de R$ 2 mil para construir o muro. "Nossa sorte é que o mar daqui não tem onda. Se tivesse, não teria mais ninguém aqui", afirma. Segundo ele, o muro é uma solução temporária, já que a maré pode, a qualquer momento, derrubar a construção.

Além das construções, o avanço do mar tem prejudicado o turismo. Quem trabalha no local, diz observar a frequência da alta das marés. Há dias, o mar começa a subir por volta de 10 horas da manhã, horário em que não é adequada a exposição ao sol.

"O turista não quer vir para a praia ficar na barraca. Ele quer tomar sol, aproveitar a praia. Se não tem lugar para ficar, ele vai embora procura outras praias", lamenta Silvestre Maciel, 35 anos, que trabalha na barraca Sol Nascente, junto com a irmã.

ELLEN FREITAS
COLABORADORA

Invasão das águas chega às barracas

Icapuí. Na praia de Barrinha, localizada neste município, 16 famílias tiveram que ser reassentadas porque o mar invadiu as casas. O problema também tem afetado as cidades de Beberibe e Cascavel. Parece não haver muito o que fazer. Esta é a conclusão dos moradores das principais praias deste município, diante da ação cada vez mais violenta do mar na região.Na praia de Morro Branco, os moradores e donos de barracas testemunham, diariamente, a briga do homem com o mar. O problema é antigo e, a cada ano, se agrava. Eles temem pelo futuro da localidade, diante da violência das marés

As comunidades litorâneas vivem clima de desesperança sem as ações emergenciais e efetivas do poder público local. Com o passar dos anos, a resposta do mar às mudanças climáticas é avançar para orla, e as famílias de moradores ficam de mãos atadas diante da situação.

O avanço do mar causou momentos de pânico na praia de Barrinha. Em março deste ano, o mar chegou a invadir as casas e as famílias foram reassentadas em casas populares na própria comunidade. "Eu não conseguia nem dormir direito. Tinha época que a água entrava na cozinha", lembra a marisqueira Eliane Rocha. Ela conta que abandonou sua casa no réveillon de 2010 para 2011 porque não era seguro continuar vivendo ali.

Pânico

Dezesseis famílias, que moravam próximo à residência de Eliane, também tiveram suas casas invadidas pelo mar. Moradoras contam que viveram momentos de pânico em períodos de maré alta. "Ou a gente fazia algo ou o a água entrava de vez. Era o mar subindo e todo mundo colocando sacos de areia", conta Eliane. Em março deste ano, as 16 famílias receberam casas populares do governo. Elas tiveram prioridade no reassentamento. Ao todo, foram construídas 30 casas populares. Elaine afirma que ainda há cerca de dez famílias que precisam ser reassentadas porque a maré já está atingindo o local. A construção de um muro de contenção do avanço do mar teve início há um ano. A obra consiste na elevação de um muro com placas de concreto e pedras para impedir que a água tome a orla. Foram construídos cerca de 200 metros e a obra está parada. O investimento foi em torno de R$ 3 milhões, segundo afirma o empresário Miguel Guillen, dono de chalés na praia de Redonda, também neste município, que acompanhou a obra na cidade vizinha. Os moradores pedem agilidade na conclusão do projeto, pois o mar está se aproximando da rua, nos locais onde a obra não foi concluída.

Mesmo passando por esses problemas, a população tem consciência de que a ocupação desordenada do homem também contribuiu muito para a difícil realidade. A moradora da praia de Morro Branco, em Beberibe, Carluscilda Pereira, vê diariamente a briga entre homem e mar e conta que seu pai, hoje falecido, contava que a água nunca chegou à sua porta. "O problema não é de hoje. O mar só esta tomando de volta o lugar que lhe pertence", afirma.

Situações mais críticas estão recebendo ações emergenciais por parte do município, com o auxílio do Governo Federal. Na praia da Caponga, em Cascavel, a primeira etapa da obra de contenção da maré está com 50% das obras concluídas.

Estão sendo construídos três quebra-mares, popularmente conhecidos como espigões, que são faixas de pedra de 70 metros entrando no mar, que quebram à força da maré evitando inundações. Está sendo investido mais de R$ 1 milhão na primeira etapa da obra. 

Copilado do Diário do Nordeste

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