De Minas Gerais, Gabriel tinha ainda menos detalhes. Até um boato de que o irmão teria morrido aos 12 anos, ele ouviu, mas não acreditou. “Essa informação foi para mim extremamente irrelevante, pois toda vez que eu pensava nele, eu sentia sua vida em mim”, recorda. “Fiz muitas tentativas de encontrá-lo. Porém, todas foram de grande frustração, pois eu não sabia nada da minha família genética, e tão pouco de meu irmão. Não sabia seu nome, onde estava, se foi adotado, quem o adotou. Então, sempre foi muito difícil pra mim conseguir encontrar ele, mas nunca impossível”.
Reencontro
Quando a notícia chegou em Gabriel, ele estava no trabalho, e não podia imaginar que a ligação de sua mãe, chorando, mudaria completamente sua vida. “Para mim, foi um grande choque, tive que me sentar e parar para raciocinar o que estava acontecendo. Minha cabeça ficou a um milhão e eu não conseguia acreditar nisso. Entrei em contato com ele pelo Facebook, e fomos para o Whatsapp”, relata. A primeira chamada de vídeo dos gêmeos foi no intervalo do trabalho de Gabriel.
“Não sabíamos o que fazer, e nem o que falar um para o outro. Ficamos chocados com a nossa semelhança e confesso que estava um pouco assustado com ela. Mas foi um misto de sentimentos tão grande que eu me sentia anestesiado e com uma paz interior, um alívio enorme, e surpreso por ter acontecido tão cedo”, partilha.
Tomaz, por sua vez, admite que o reencontro tem sido lindo a cada chamada. Desde o dia primeiro de junho, o contato entre os dois intensificou-se. Os gêmeos passam várias horas da madrugada conversando, quase todos os dias. Já tiraram de 21h30 às 9h só se atualizando de tudo que a distância os privou nesses anos todos.
Descobertas
Entre as semelhanças, uma em especial os marcou profundamente: a paixão comum por fotografar.
“Meu choque foi maior quando vi a foto dele vestido com roupa social e câmera pendurada no pescoço. Não acreditei, e me choco até hoje. Foi ali que realmente vi que a fotografia não estava à toa na minha vida”, detalha Tomaz sobre uma imagem encontrada no facebook do irmão.
A linguagem fotográfica foi um escape de uma época complicada da vida de Gabriel, onde surgiram vários questionamentos sobre sua existência, além de alguns problemas financeiros. Nesse período, ele chegou a desenvolver uma marca própria para trabalhar em eventos, casamentos e fotografia de casais. Mas hoje, traz mais isso como um hobbie.
Já Tomaz, iniciou seu percurso fotográfico quando estava no Ensino Médio, e desde então fez disso seu objetivo profissional. “Em 2017, cursei fotografia no Porto Iracema das Artes e, de lá, consegui ser voluntário no educativo do Museu da Fotografia, onde sempre sonhei em estar. O voluntariado durou seis meses e fui contratado como secretário estagiário. Após um ano como estagiário, passei a fazer parte do quadro de funcionários. Hoje estou como assessor da gestão”, detalha.
Outras semelhanças também foram evidenciadas nos diálogos, como o apreço pela natureza, pelo leite com nescau toda noite, ou pelo arrumar e consertar as coisas.
Tivemos ainda vários acontecimentos ocorridos nas mesmas épocas de nossas vidas. Um deles foi um acidente de moto gravíssimo que sofri em outubro de 2018, e logo naquele mesmo fim de ano, um ônibus atingiu o Tomaz, que estava de bicicleta”, conta Gabriel
O irmão mineiro” trabalha atualmente numa farmácia, mas faz cursos voltados para a área automotiva, a qual pretende se dedicar neste futuro-presente. Além disso, é casado, fato que também causou surpresa a Tomaz. “Vi que tinha ganhado não só meu irmão, mas também uma cunhada chamada Carol, uma mulher doce, sensível, muito incrível e que tem me acolhido tão bem”, diz.
Conversa com a mãe
O reencontro dos dois com a mãe biológica, Liduina, por videochamada, também já aconteceu.
“Fiquei muito feliz em poder estar vendo quem me gerou e conhecer a minha raiz. Pedi que ela sentisse paz em seu coração, pois o ato de nos entregar para a adoção foi heróico, e mostrou que realmente queria nos ver bem e com saúde, como o sentimento de qualquer mãe que ama seus filhos”, reconhece Gabriel.
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