De Pernambuco, o recurso hídrico segue para a barragem Jati, no Município homônimo cearense, onde passará por um processo de enchimento em três etapas, de acordo com o cronograma de segurança do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH) prevê que em 1º de agosto as águas estejam liberadas para o Cinturão das Águas do Ceará (CAC). No entanto, a expectativa do Estado é que se concentre o volume recebido durante o 1º semestre de cada ano, para ter menor perda e maior eficiência para o destino final.
Em Jati, a água será captada pelo CAC, onde percorrerá 53 km pelo chamado "eixo emergencial". "Já está pronto", garantiu o secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. A partir dele, a água seguirá até Missão Velha, onde desembocará no Riacho Seco e, por gravidade, segue até o Rio Salgado, que deságua no Rio Jaguaribe. Pelo seu curso natural, dará aporte ao Açude Castanhão.
A Superintendência de Obras Hídricas (Sohidra) espera uma vazão de 12 m³/s. Mesmo com uma possível perda no trajeto, de 3m³/s, ela será suficiente para a garantia hídrica da RMF. Porém, o tempo de transporte depende da calha do Rio Salgado. Se estivesse cheia, demoraria cerca de 20 a 25 dias até o maior reservatório do Estado. Seca, pode levar de 40 dias a dois meses. "Ainda tem que encher e preencher o solo, que é como uma esponja. Depois de cheio, flui naturalmente", frisa o diretor de águas superficiais da Sohidra, Antônio Lucena.
A chegada das águas no Salgado animou pequenos produtores e também pescadores que fazem dele sua subsistência. Em Aurora, a expectativa é pela perenização do rio, que costuma estar cheio apenas nos primeiros meses do ano, durante a estação chuvosa. "O rio era mais cheio. Eu pegava mais peixe. Quem sabe não volta esse tempo de fartura", torce o pescador Francisco José da Silva.
A notícia também anima os moradores das Vilas Produtivas Rurais (VPR's), que foram construídas para reassentar quem foi afetado pelo Pisf. No projeto, há a distribuição de lotes de um hectare para cada família com a promessa de que, a partir da chegada das águas, possam trabalhar com a terra irrigada. "É a nossa esperança. Nossa ideia é plantar banana para comercializar", diz a pedagoga e agricultora Maria das Dores Bezerra, moradora da Vila de Vassouras, em Brejo Santo.
Por outro lado, o agricultor Damião José Vieira, da VPR Malícia, na divisa entre Ceará e Pernambuco, crê que a burocracia para receber a água pode dificultar o acesso. "A gente tem expectativa, mas vê dificuldade. Não foi executada obra para trazer a água. Estão falando da gente arcar com a despesa da adutora para levar água até os terrenos irrigados. Desse modo, não vai ter como".
A reportagem questionou o MDR sobre o uso da água e como se dará a irrigação nas Vilas Produtivas Rurais. O Ministério respondeu que é prerrogativa dos governos estaduais o planejamento para as demandas de água, assim como a distribuição no seu território. O programa prevê a implantação de 93 sistemas para abastecer 276 comunidades rurais ao longo dos canais, na faixa de 10 km.
Quanto às águas que percorrerão o CAC, a SRH informou que os trechos perenizados são passíveis de outorga, mas o seu uso ainda será discutido. Teixeira reforçou que a utilização será "preponderante para o abastecimento humano. O projeto se dedica ao abastecimento de cidades e, complementarmente, pode aumentar e garantir a agricultura irrigada".
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/politica/chegada-das-aguas-da-transposicao-ao-ceara-e-motivo-de-esperanca-1.2959611
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