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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Geração de emprego alcança apenas jovens de até 29 anos no Ceará

Não são apenas 11 anos que separam Ana Vitória Gadelha, de 21 anos, de Daiane Souza, de 32 anos. As duas cearenses vivem realidades opostas quando o assunto é emprego. Ana Vitória está empregada, enquanto Daiane vive de "bicos", sem um trabalho formal. Mas as duas compartilham a mesma opinião: a idade influencia na hora de conseguir um emprego.


O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, legitima o pensamento das duas jovens. Análise realizada pelo Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares com as informações do levantamento aponta que, dentre as 15 faixas de idade pesquisadas pelo Caged, apenas quatro apresentaram saldos positivos de emprego no ano passado no Ceará.


Essas quatro faixas etárias geraram juntas um saldo de quase 30 mil postos formais de trabalho no Estado em 2019 - somente o intervalo de 15 a 24 anos concentra 27,9 mil dos empregos gerados. O mesmo não ocorre para os trabalhadores com idade a partir de 30 anos. Nestas faixas, foram demitidas mais pessoas do que contratadas.
Para o professor do curso de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em Sociologia, Aécio Alves Oliveira, esse movimento de contratação de mais jovens em detrimento de pessoas com idades acima dos 30 anos é uma tendência mundial e não apenas no Ceará.
Na verdade, é uma tendência do sistema global capitalista. Em todos os lugares, eles (empresas) estão dando preferência à contratação de jovens inexperientes para demitir pessoas mais antigas. E a contratação é com salários relativamente mais baixos", explica. "As empresas usam a lógica de obter o máximo gastando o mínimo.Gastar o mínimo é contratar jovens pagando menos do que àqueles que já estavam há algum tempo na empresa. É uma espécie de substituição de mão de obra relativamente mais cara por uma mais barata".
Oliveira diz ainda que em época de recessão econômica a situação piora. "A lógica é a mesma, seja na crise ou na prosperidade. Mas no momento de crise, essa lógica aparece mais perversa", avalia.
O professor também afirma que as perspectivas não são muito favoráveis. "As tendências históricas do sistema capitalista apontam numa direção que não é nada alvissareira. A tendência do sistema é a introdução de inovações tecnológi-cas cada vez mais abrangentes. A tecnologia mais avançada vem para facilitar a substituição de trabalhadores altamente qualificados e especializados por trabalhadores menos qualificados".
Para Mardônio Costa, analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), a contratação de profissionais mais jovens está associada ao baixo nível de atividade econômica. "O emprego com carteira assinada está praticamente estagnado, e isso está associado à incerteza, ao baixo consumo, à lenta retomada, porque os jovens se sujeitam mais facilmente a salários mais baixos".
Esse comportamento, segundo Costa, acontece muitas vezes justamente pela falta de conhecimento. "Você tem uma força de trabalho com menos experiência, menos comprometimento da renda familiar, e muitos deles estão buscando a sua primeira colocação no mercado. Nessa fase de experimentação, de uma maneira geral, os jovens tendem a se sujeitar mais".
"Nunca é tarde"
Para Daiane Souza, a jovem de 32 anos, mãe de quatro filhos, nunca foi fácil conseguir oportunidades de trabalho. "Eu já tenho uns três anos desempregada. Eu vivo de reciclagem e faço faxina quando aparece, além de ter o meu benefício do Bolsa Família".
Ela conta que a renda média mensal de pouco mais de R$ 200 não dá nem para alimentar os filhos direito. "Eu não tenho nenhuma renda fixa. Na minha reciclagem, às vezes eu tiro até R$ 60. Com o Bolsa Família, mais uns R$ 175. Para sobreviver numa casa com cinco pessoas, contando comigo, fica difícil. Hoje em dia, as coisas estão muito caras".
Apesar dos 32 anos de idade, Daiane considera que o número tem influenciado na hora de conseguir um emprego. "Às vezes a idade atrapalha sim. O povo está dando mais oportunidade para os mais jovens, os jovens aprendizes. Quem tem uma idade mais avançada fica em último lugar. Eu conheço pessoas da minha idade que também estão desempregadas".
A jovem diz que não tem cursos de qualificação profissional e que isso também interfere na momento das entrevistas. "Eu não tive nenhum tipo de curso, porque a minha juventude já não foi tão fácil. A minha mãe não tinha condições de pagar cursos. E hoje em dia tudo é pago".
Mesmo com as dificuldade, Daiane ainda sonha poder fazer algum curso e encontrar um emprego que dê para sustentar os filhos. "Eu sempre tive vontade de fazer Informática ou Engenharia. Acho muito bonito quem é engenheiro. Eu acho que nunca é tarde para você realizar o seu sonho".
Desde cedo
Ana Vitória Gadelha trabalha desde os 15 anos de idade. "Comecei a trabalhar como jovem aprendiz. Depois que passei na faculdade, decidi ir atrás de emprego. Foi nessa época que eu procurei por todo canto. Fui ao Centro, shoppings, deixei uns 100 currículos".
Ela já trabalhou em empresa de tecnologia no Dragão do Mar e agora faz parte do time de um escritório de coworking (compartilhado). "Na época que eu estava buscando trabalho, a idade influenciou a minha contratação. Infelizmente, questão de idade influencia muito no mercado de trabalho. Uma pessoa com 21 anos vai ter mais facilidade do que uma pessoa com 40 anos, por exemplo", opina.
Formada em Gestão Ambiental, Vitória atualmente atua no setor financeiro e na parte ambiental da empresa. "Eu comecei na parte de atendimento ao cliente e na parte financeira. Acredito que aqui eu tenho chance de aumentar de cargo. Tenho inclusive participado de treinamentos".

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/negocios/geracao-de-emprego-alcanca-apenas-jovens-de-ate-29-anos-no-ceara-1.2206585

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