Na última quarta-feira (22), a Fundação Nacional de Artes (Funarte) abriu inscrições para o Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020. De âmbito nacional, o objetivo é distribuir gratuitamente 790 instrumentos de sopro para 158 conjuntos musicais.
O edital explica quem pode participar da seleção. Estão aptas “banda de música”, “banda municipal”, “banda sinfônica”, “banda de concerto”, “banda filarmônica”, “sociedade musical” e orquestra de sopro. O intuito é ampliar ou repor os instrumentos musicais desses grupos.
O documento de inscrição também aponta quem não pode participar do processo seletivo:
"Bandas de rock", "big-bands", "fanfarras", "bandas marciais" (ligadas ou não a instituições do ensino regular público ou privado) e "bandas de pífanos" estão fora. O edital não contempla conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares e bandas de instituições de segurança pública.
E, finalmente, bandas de música beneficiadas com recursos oriundos das emendas parlamentares e pelos órgãos estaduais de cultura nos anos de 2018 e 2019 não podem concorrer.
Discussão
Na manhã de quinta-feira (23), o assunto foi bastante discutido nas redes sociais. Adeptos do rock criticaram o Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020 e a exclusão do gênero musical no edital. Declarações passadas do atual presidente da Funarte, Dante Mantovani, explicam a reclamações.
O maestro, via canal no Youtube, afirmou que os Beatles eram agentes comunistas infiltrados na Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Mantovani associou o gosto pelo rock ao uso da droga, que “ativa a indústria do aborto”:
“O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo”, disse o presidente da Funarte.
Mantovani foi indicado ao cargo pelo ex-secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 17 de janeiro. Um vídeo publicado por Alvim foi acusado de fazer apologia ao nazismo.
Anos passados
Em 2010, o prêmio se chamava "Edital Pró-Cultura de Apoio à Banda de Música". Diferente de 2020, o prêmio era em dinheiro. Naquele ano, o edital selecionava 176 projetos que poderiam adquirir instrumentos de sopro e percussão. O valor era de até R$ 25 mil reais por grupo.
O texto daquele edital tinha as mesmas regras do atual. Ele explicava:
"Não poderão participar deste certame pessoas jurídicas que representem “fanfarras” ou “bandas marciais” ligadas ou não a estabelecimentos de ensino público ou privado,
“bandas de pífanos”, “bandas de rock”, bem como conjuntos musicais assemelhados, conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares e bandas de instituições de segurança pública".
“bandas de pífanos”, “bandas de rock”, bem como conjuntos musicais assemelhados, conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares e bandas de instituições de segurança pública".
O prêmio de apoio em 2013 também exigia os mesmos critérios:
"Não poderão participar deste Edital “fanfarras” ou “bandas marciais” ligadas ou não a instituições do ensino regular público ou privado, “bandas de pífanos”, “bandas de rock”, “bigbands”, orquestra de sopro, bem como conjuntos musicais assemelhados, conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares e bandas de instituições de segurança pública".
Premiados cerenses
Em 2014, dez municípios cearenses receberam, no Teatro Carlos Câmara, instrumentos de sopro oferecidos pelo Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música. Maranguape, Guaraciaba do Norte, Icapuí, Irauçuba, Sobral, Pires Ferreira, Granjeiro, Russas, Santana do Cariri e Viçosa do Ceará foram as cidades agraciadas.
A diferença mais visível no documento de 2020 quando comparamos a edições anteriores é a inclusão de "big-bands". Atualmente, cada proponente pode escolher até cinco instrumentos, sendo um de cada naipe.
Eles são “Bombardino em Sib”, “Bombardão Tuba ¾ em Sib”, “Clarineta 17 chaves em Sib”, “Saxofone Alto em Mib”, “Saxofone Tenor em Sib”, “Trompete em Sib”, “Trombone de Vara em Sib”, “Flauta Transversa em Dó” e “Trompa Cromática em Fá/Sib”.
Atualizando
Ao jornal O Estado de S. Paulo, a Funarte confirma os dados contidos na reportagem do Diário do Nordeste. O edital 2020 é semelhante ao apresentado em edições anteriores do Prêmio.
A redação atual é quase igual nas três versões anteriores, 2007, 2010 (Procultura) e 2012, não sendo absolutamente uma novidade da gestão Dante Mantovani. A redação desse item sempre visou apenas a evitar confusão com outros tipos de bandas, não somente as de rock. Estas, como outros tipos de bandas diferentes das bandas civis tradicionais, nunca foram incluídas nesse prêmio", diz trecho da nota.
A entidade negou qualquer tipo de preconceito.
Além disso, bandas de música sempre foi considerada pela Funarte como uma linguagem musical específica, distinta das demais. As bandas tradicionais realizam, em milhares de municípios brasileiros, um trabalho de formação musical, que qualifica artistas para orquestras", prossegue o texto. "A Funarte nunca teve, não tem e nunca poderá ter preconceito contra nenhum estilo musical - como se espera de uma instituição federal de Estado."
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/online/alvo-de-critica-edital-funarte-de-apoio-a-bandas-nao-contemplou-o-rock-em-edicoes-anteriores-1.2202084
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