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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Ceará tem segunda maior redução no Bolsa Família em um ano

Os números importam, apesar de a realidade ir muito além deles. Se o bloqueio de um benefício do Bolsa Família (BF) já torna incertos o alimento e a realidade de várias pessoas, 20.905 pagamentos cortados de um mês para o outro têm impacto certo. Essa foi a diferença na folha de pagamento do Governo Federal aos cearenses entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, logo após a posse da nova Presidência - a maior redução desde abril do ano passado.



A diminuição de 1.067.409, em dezembro, para 1.046.504 famílias recebendo o benefício nos 184 municípios do Estado neste mês fica atrás apenas dos 21.875 pagamentos cortados pelo Governo Temer de março para abril. Atualmente, o valor médio destinado às famílias no Estado é de R$ 187, variando de acordo com o município e a demanda de cada grupo beneficiário.

Os reflexos negativos dos cortes, ao contrário da cobertura, tendem a aumentar - impactando áreas como Economia, Saúde, Educação e até Segurança Pública. De acordo com estudo inédito realizado em todos os municípios brasileiros pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as taxas de homicídio e de hospitalizações por agressões tendem a diminuir em locais onde a cobertura do programa é ampla e contínua. No Ceará, a redução nas taxas foi de até 35% entre os municípios com 70% ou mais da população recebendo o auxílio, entre 2004 e 2012.

Homicídios

"Embora a taxa de homicídio no Ceará tenha dobrado no período analisado, de 20,5 para 44 a cada 100 mil habitantes, fica evidente que se não houvesse a alta cobertura do Bolsa Família, o número de óbitos teria sido ainda maior", sentencia a doutora em Epidemiologia e Saúde Coletiva e pesquisadora principal do estudo, Daiane Machado. Segundo a psicóloga, as localidades do Estado com cobertura mais estável do programa federal reduziram as taxas de homicídio em 4% no primeiro ano, 13% no segundo, 31% no terceiro e 35% no quarto ano de pagamento contínuo.

O levantamento da Fiocruz monitorou as taxas de homicídios e internações por violência durante nove anos, considerando também "variáveis que a literatura indica como associadas à violência como baixa escolaridade, renda, taxa de policiamento e disponibilidade de armas", para verificar a associação com o BF.

"Educação é uma das condicionalidades para a família ser beneficiada. Quando a criança fica na escola, diminui a exposição a situações de violência, deixa de estar nas ruas e, além disso, aumenta as chances de, quando adulta, conseguir emprego e aumentar renda. Estudos internacionais mostram que, quanto maior a escolaridade, menor o envolvimento com o crime", ressalta a pesquisadora, definindo a tendência de cortes no programa social como "lamentáveis, principalmente em se tratando de pessoas em situação de vulnerabilidade", afirma Daiane.

famílias precisam desse recurso até para sustentar crianças na escola. O Bolsa Família tirou muitas crianças, adolescentes e até jovens da rua. Nosso receio é que, por falta de oportunidades, eles voltem, e que as taxas de hospitalizados e de homicídio aumentem".

Sustento
A importância do programa federal, apesar do valor considerado baixo, é reconhecida até hoje pela dona de casa Josélia Melo, 34, que fez malabarismo com os R$ 102 que recebia mensalmente para auxiliar na criação da filha, hoje com 9 anos de idade.

"Faz três anos que deixei de receber, porque arranjei um emprego e deixei a vaga pra quem precisasse mais do que eu. Só que agora, eu fiquei desempregada, então solicitei de novo e estou esperando. Com certeza a bolsa era fundamental, porque eu reverti o dinheiro todo em prol da minha filha, com roupa, alimentação e material escolar, pra ela continuar estudando", lista Josélia, que, mais do que nunca, "sente falta de um dinheirinho certo todo mês".

Resposta

A redução nos pagamentos do Bolsa Família no Ceará e no País, de acordo com o Ministério da Cidadania, é registrada devido a "oscilações, movimentos de entrada e saída de famílias, que fazem com que o total da folha de pagamentos do programa nunca seja o mesmo quando comparado mensalmente". Além disso, "as manutenções dos benefícios por conseguinte, os cancelamentos estão relacionados aos procedimentos de averiguação e revisão cadastrais, fiscalização, desligamentos voluntários, descumprimento de condicionalidades ou superação das condições necessárias para a permanência no Bolsa Família", explicou a Pasta.

Uma dessas "condicionalidades", compromisso assumido pela família ao ingressar no programa, é a permanência da criança ou adolescente em sala de aula. Conforme ressalta a Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), "a frequência escolar mensal deve ser de, pelo menos, 85% para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, e de 75% para jovens de 16 e 17 anos". Do total de beneficiários com frequência escolar acompanhada no período, 95% cumpriram as metas exigidas.
Em relação à saúde, as famílias precisam manter em dia o calendário de vacinação das crianças menores de 7 anos, além de levá-las ao posto de saúde para que tenham o crescimento monitorado. Para as gestantes, é necessário fazer o pré-natal.

O Ministério da Cidadania, porém, não respondeu quando questionado sobre as mudanças previstas para o programa já a partir deste ano, sinalizadas pelo ministro Osmar Terra pouco depois da posse, no início de janeiro; e que apontam para uma minimização do programa federal na nova gestão. Sobre a possível redução do número de beneficiários no Ceará e intensificação dos cortes, a Pasta também não deu resposta.

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/ceara-tem-segunda-maior-reducao-no-bolsa-familia-em-um-ano-1.2056348




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