Barbalha Servidores da área da Saúde deste município completam, hoje, um ano
desde a deflagração da greve. Segundo a presidente do Sindicato dos Servidores
Públicos Municipais de Barbalha (Sindmub), Maria Jacqueline Ferreira de Sá
Barreto, "já é a greve mais longa registrada no País em âmbito
municipal". Os profissionais reivindicam reajuste salarial, concurso
público e melhores condições de trabalho. "A classe já acumula perda
salarial de 130% ao longo dos últimos dez anos", ressalta a sindicalista.
Adesão
Mais de 100 profissionais, entre médicos, dentistas, enfermeiros e técnicos
de enfermagem já aderiram à paralisação. O atendimento está comprometido em
todos os 22 postos de Saúde do Município, nas unidades do Centro de Atenção
Psicossocial (Caps), no Centro Materno Infantil e no Serviço de Verificação de
Óbitos (SVO). "A salvação da população tem sido os médicos inseridos nos
programas federais", disse Jacqueline.
De acordo com o Sindmub, apenas 17 médicos, todos do Programa Mais
Médicos, continuam atendendo. Já entre enfermeiros, dentistas, atendentes de
consultórios e outras oito categorias apenas 50% estão trabalhando, "em
conformidade com a petição do Tribunal de Regional Federal", salientou
Jacqueline.
Na manhã de hoje, os servidores se reúnem, em frente ao prédio da
Secretária da Saúde de Barbalha, para satirizarem a data. "Não estamos
comemorando um ano da greve, mas a persistência dos servidores que lutam por
uma saúde mais digna", destacou a sindicalista.
Em um ano de greve, a categoria revela que se reuniu somente três vezes
com a Prefeitura do Município. "A primeira negociação só veio a acontecer
em 2 de fevereiro passado, após o TRF julgar, por nove votos a zero, a
legalidade da greve", pontuou Jacqueline.
Em 26 de fevereiro, o gestor municipal José Leite Gonçalves Cruz (PT)
apresentou proposta de reajuste salarial de 10,67%. Mas a categoria recusou.
"Além de ele ter desprezado as outras reivindicações, condicionou o
aumento à verba vinda do Fundeb, o que é um completo absurdo. Como se aplica o
dinheiro da Educação para a área da saúde? Não só não aceitamos como acionamos
o Ministério Público Federal (MPF), por considerar a prática fora da lei",
explicou a presidente do Sindmub.
Diante da negativa, os servidores enviaram contraposta ao gestor
municipal e, segundo os grevistas, só receberam retorno em abril, um dia após o
encerramento do prazo da lei eleitoral, que impõe restrição a reajuste de
servidores públicos.
"Foi tudo meticulosamente pensado. Zé Leite esperou em silêncio
todo esse tempo e só respondeu no dia 6 de abril, ou seja, um dia após ter
entrado em vigência a lei que não permite que o reajuste supere a inflação
apurada no ano do pleito", critica Jacqueline Barreto.
"Apesar desse artifício raso, a classe está unida e não recuará.
Vamos seguir com a paralisação até 31 de dezembro, se for preciso. Até o TRF já
reconheceu a legitimidade de nossas reivindicações, então não há porque nos
darmos por vencidos pelo cansaço e sair sem nenhuma conquista. A Saúde de
Barbalha precisa ser vista com mais atenção. Já que a lei não permite reajuste
acima da inflação, vamos negociar por meio de gratificação, mas a greve não
acaba enquanto as pautas mínimas não forem contempladas", finalizou.
Prejudicados
Enquanto perdura o impasse entre os servidores e a Prefeitura, a
população mais carente se vê desassistida. Em vários postos de saúde, não há
medicamento, faltam profissionais e o tempo de espera para marcar exames pode
chegar a seis meses. A dona de casa Francisca da Rocha, 58, conta que, desde
novembro, tenta, sem sucesso, um exame para o esposo: "Quem é pobre, morre
esperando por consulta. Remédio mais bestinha até tem, mas se é pra marcar um
exame ou ficar doente de algo mais grave e precisar de uma medicação, reze para
não morrer esperando".
Com o filho nos braços, a também dona de casa, Aurilene Batista, critica
o tempo da greve ao passo em que pede melhorias na saúde do Município.
"Claro que a greve atrapalha porque a gente fica sem dentista, sem médico,
sem nada. Mas o problema não é só esse. A maioria dos postinhos está acabada.
As paredes todas rachadas, o mato entra nas salas e quase nunca tem todos os
remédios que a gente procura. O jeito é voltar pra casa com o filho
doente", desabafa.
Insalubridade
Além da falta de profissionais e medicamentos, as condições de muitos
PSFs são precárias. Em três dos quatro Postos visitados, a reportagem do Diário
do Nordeste flagrou infiltrações, rachaduras, banheiros com falta de água e
luz, salas sem climatização, vacinas acondicionadas em locais impróprios e até
baratas nos corredores. "Nem no banheiro podemos ir, pois não tem água",
critica uma atendente que pede para ter sua identidade preservada.
Dentro do PSF da Cirolândia, o matagal serve de alimento para animais
pastarem. A vegetação chegou a invadir a sala dos atendimentos médicos, por
entre as frechas da janela. "Se você falar a qualquer pessoa que tem um
burro pastando dentro de um Posto de Saúde, próximo aos pacientes, muitos não
vão acreditar. Mas isso é o de menos aqui nos PSFs de Barbalha", expôs
Maria Jacqueline.
A reportagem do Diário do Nordeste tentou contato com a secretária de
Saúde de Barbalha, Desiree de Sá Barreto Dias Gino, mas as ligações não foram
atendidas. A titular da pasta também não foi localizada no prédio da
Secretaria, assim como o prefeito José Leite também não foi encontrado para
comentar a paralisação.
Mais informações:
Secretaria Municipal da Saúde
Telefone: (88) 3532-0521
Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Barbalha
Endereço: Rua Padre José Correia, 123, Bairro do Rosário
Telefone: (88) 3532-0022
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