A febre chikungunya avança no Ceará e já representa enorme desafio para Poder Público e especialistas da área. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), já são 267 casos confirmados por laboratório, sendo que 120 ou 44,9% deles em Fortaleza. Os dados fazem parte do mais recente boletim epidemiológico do órgão e divulgado com exclusividade para o Diário do Nordeste.
Além da Capital, outros 29 municípios registram a doença. Assaré, com 34; Capistrano, com 24; São Gonçalo do Amarante (15); Juazeiro do Norte (14); Icapuí (10) e Crato (9) lideram a lista. Entre os bairros de Fortaleza, Monte Castelo soma 13 registros positivos para a enfermidade, seguido pelo Montese, com 11; Amadeu Furtado (9); Parquelândia e Vila Ellery, cada um com quatro casos.
"A maior preocupação é que como a chikungunya é uma nova doença, qualquer um pode ser contaminado. Ninguém no Estado está imune, pois é a primeira vez e isso é realmente temeroso", aponta o gerente da Célula de Vigilância Ambiental e Controle de Riscos Biológicos, da Secretaria de Saúde do Município (SMS), Nélio Moraes.
Dados
Conforme os dados da supervisora do Núcleo de Controle de Vetores, da Secretaria Estadual de Saúde, Roberta de Paula Oliveira, a doença se instalou no Ceará e será necessário, com urgência, refazer campanhas de conscientização para a população e revisar o Plano Estadual de Combate mais focado na enfermidade. "Quase como uma operação de guerra", defende.
Segundo ela, com epidemias na Bahia e Pernambuco era quase impossível o Ceará se livrar de ter tantos casos. "Sem falar que a transmissão está ocorrendo dentro de nosso território ou seja, autóctone. O vírus tem capacidade de se disseminar rapidamente. Por isso, a detecção precoce dos casos é fundamental para conter o avanço da doença", acrescentou a gestora.
O coordenador da Sala Estadual de Combate ao Aedes, Moacir Tavares, concorda com Roberta e se diz muito preocupado com a situação. "Até porque chegamos no período mais crítico do ano, abril e maio, quando historicamente são comprovados maior número de pessoas que contraem a dengue e, agora, com a chikungunya, temos um motivo a mais para redobrarmos nossos esforços para não enfrentarmos uma epidemia".
Por esta razão, ressalta Nélio Moraes, a população não pode baixar a guarda contra o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. "Temos observado que muita gente enfraqueceu suas ações dentro de casa e isso é péssimo", assevera.
A falta de participação da população em atitudes simples, como limpar quintal, vedar caixas-d'águas, entre outras, indica, potencializou o aumento do índice de infestação predial de Fortaleza, passando de 0,86%, em outubro passado, para 1,37%, em abril deste ano. Número acima do preconizado pelo Ministério da Saúde que é menor do que 1%. Sem falar na reincidência que chega a 60% no Estado. "Isso quer dizer que os agentes visitam o imóvel, orientam, acabam com os focos e sempre que retornam, detectam novamente o mesmo problema", explica.
Fumacê
Para reforçar a guerra conta o mosquito, o carro fumacê volta a circular em bairros da Capital, como Álvaro Weyne; Floresta;Carlito Pamplona; Monte Castelo; Vila Ellery; Alagadiço; ;São Gerardo; Amadeu Furtado; Rodolfo Teófilo; Parque Araxá; Presidente Kennedy; Parquelândia; Montese; Bom Futuro; Damas e Jardim América. Além dos municípios: São Gonçalo do Amarante; Apuiarés; Quixadá; Russas e Tabuleiro do Norte. "Não adianta nada se cada um não fizer a sua parte, até porque o borrifo não resolve tudo. É preciso fazer uma faxina semanal", complementa Nélio.
Limpeza
O inseticida não mata as larvas do Aedes aegypti, que estão em caixas d'água, potes, baldes, pneus, lajes. É preciso também manter os quintais sempre limpos, recolher, eliminar ou guardar longe da chuva todo objeto que possa acumular água, como pneus velhos, latas, recipientes plásticos, tampas de garrafas, copos descartáveis e até cascas de ovos. "O lixo doméstico deve ser acondicionado em sacos plásticos e descartado adequadamente, em depósitos fechados. A eliminação de criadouros deve ser realizada pelo menos uma vez por semana. Assim, o ciclo de vida do mosquito será interrompido", reafirma.
FIQUE POR DENTRO
Doença é contraída só uma vez
Chikungunya significa "aquele que se dobra", num dialeto da Tanzânia, país da África que registrou a primeira epidemia no mundo. A febre chikungunya é causada pelo vírus "chik" e pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti- o mesmo da dengue - e Aedes albopictus. Todavia, diferentemente da dengue, essa febre tem somente um sorotipo, ou seja, a pessoa pega a doença apenas uma vez.
Os sintomas típicos normalmente diminuem cerca de sete dias após o início do tratamento, mas o cansaço pode se manter por várias semanas, e a dor no corpo e nas articulações pode permanecer cerca de três meses. No entanto, as pessoas que desenvolvem a fase crônica da doença podem permanecer com dor nas articulações, semelhante à artrite reumatoide, por vários meses. "A pessoa não consegue nem abrir uma porta ou pegar um copo com água", explicam os especialistas.
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