Mesmo com a atual retração no consumo das famílias brasileiras em função
da crise econômica, os preços de bens e serviços continuam subindo e impactando
o poder de compra dos trabalhadores. Em Fortaleza, as constantes altas da
gasolina são um dos fatores responsáveis por encarecer produtos que compramos
no supermercado, por exemplo. Só de janeiro a dezembro do ano passado, o valor
do litro do combustível na Capital cearense saltou 22,85%, o dobro da inflação
para o período (11,43%).
Enquanto o preço médio do litro da gasolina custava R$ 3,15 no início de
2015, no fim do ano, valia R$ 3,87. De acordo com dados da Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Fortaleza apresentou a quarta
maior variação da região Nordeste, atrás de Alagoas (23,27%), Piauí (23,34%) e
Recife (31,54%).
No Ceará, a oscilação foi de 22,53%, bem acima da inflação nacional em
2015 (10,67%). O valor médio saiu de R$ 3,15 para R$ 3,86, segundo a ANP.
E a inflação de bens e serviços tende a subir ainda mais. Como o Diário
do Nordeste noticiou da edição de ontem, o reajuste no Imposto Sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente na gasolina (de 25% para 28%), que
entrou em vigor no dia 1º de março, já repercute nos postos de combustíveis do
Estado. Em Fortaleza, o litro da gasolina pode ser encontrado até R$ 3,99, 3,6%
a mais em relação ao último preço médio observado pela ANP (R$ 3,85), de 21 a
27 de fevereiro.
'Barreira'
O economista Alex Araújo acredita que as sucessivas altas no valor da
gasolina são uma barreira à desaceleração da inflação na Capital, que subiu
1,45% em janeiro de 2016. Foi a maior para o mês em 13 anos, conforme o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"O aumento da gasolina impacta o consumidor direta e indiretamente.
Isso porque ele vai ter que desembolsar mais dinheiro na hora de abastecer seu
veículo e também pagar mais caro por produtos cujos preços são influenciados
pelo valor do frete. Com o frete mais caro devido à alta da gasolina, não há
como escapar da inflação. Gasolina é como energia, ela alimenta a
inflação", explica.
Por outro lado, Alex observa que o impacto do reajuste do combustível no
preço dos produtos não é uniforme, pois depende de onde as mercadorias estão
sendo transportadas, do preço da gasolina em cada região, entre outros fatores.
"O frete é um dos principais custos do transporte rodoviário, e o
preço da gasolina está mais alto em todo o País. Mas acredito que, em Fortaleza
e no Ceará como um todo, o consumidor deverá gastar ainda mais com itens que
compõem a cesta básica. Ou seja, a inflação não tende a desacelerar",
alerta.
Além da gasolina, o governo estadual reajustou a alíquota do ICMS, de
25% para 28%, de bebidas alcoólicas, ultra leve e asa delta, armas de fogo e
munição, fumo e cigarro, e prestação de serviço de comunicação.
Opinião do especialista
Mudança foi inoportuna
Não há justificativa técnica e nem econômica para o aumento da alíquota
de ICMS sobre a gasolina de 25% para 28%. É uma mudança que chega em um momento
altamente inoportuno, em que todos os trabalhadores estão tentando reduzir suas
despesas. A Sefaz (Secretaria da Fazenda do Ceará) não pode achar que a
gasolina é um bem supérfluo, comparado a uma garrafa de cerveja, por exemplo.
Assim como existem pessoas que precisam da gasolina para lazer, há gente que
depende do combustível para trabalhar, nos mais diferentes segmentos
econômicos. Essa história de que o mercado é livre e o posto aumenta o preço se
ele quiser é de uma infantilidade tremenda. A gasolina já está mais cara no
Ceará e não duvido que, daqui a pouco, teremos estabelecimentos vendendo o
litro por R$ 4,05, R$ 4,10. Em 2015, tivemos no País uma retração de 1,3% no
consumo de gasolina frente a 2014. Em relação ao diesel, a queda foi de 5,5%.
Isso é um forte indicador de que nossa economia está desaquecida, o problema
pode se tornar ainda maior. Isso porque o valor da gasolina traz impactos em
toda a cadeia de consumo (transporte escolar, transporte público, frete, etc.),
portanto, no preço final de vários serviços e produtos.
Bruno Lughetti, Consultor na área de Petróleo e Gás
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