Orós O sertanejo depende da chuva
para plantar e para ter água de beber e matar a sede dos animais. Nessa época
do ano, os olhos estão todos voltados para o céu, para as plantas e para a
natureza. É tempo de observação e de troca de conhecimento popular entre os
agricultores. No sítio Aroeira, zona rural deste município, na região
Centro-Sul do Ceará, foi realizado, na manhã de ontem, o 7º Encontro dos
Guardadores de Experiências Populares de Chuva e de Sementes no Sertão.
O
evento reuniu dezenas de agricultores e pesquisadores das experiências
populares, que apresentaram seus relatos em uma roda de conversa sob a sombra
de um pé de cajarana. Todos estão confiantes de que o Ceará terá boas chuvas
entre os meses de fevereiro e maio. As observações populares estão, portanto,
contrariando os primeiros prognósticos científicos que apontam maior
probabilidade para a ocorrência de chuvas abaixo da média histórica na próxima
quadra chuvosa.
A
iniciativa é do projeto Sertão Vivo e tem por objetivo manter a tradição, a
memória dos antepassados que nos meses de dezembro e janeiro costumavam fazer
previsões acerca do período chuvoso no Ceará, que é conhecido por inverno.
O autor
do projeto é o poeta e músico Zé Vicente, que avisa sem perder tempo: "Não
é uma reunião de profetas, mas de guardadores de experiências populares, para
manter viva a história, o costume do sertanejo, a preservação ambiental".
Confiante
O
agricultor Antônio Alcântara, 82, está confiante na ocorrência de boas chuvas.
"O vento Aracati não falhou um dia, veio forte, correu bem", disse.
"No ano passado, eu disse que 2015 seria ruim, e foi, mas esse ano será
bom, podem esperar". Baseado no vento, que costuma soprar do litoral para
o sertão, nos meses de agosto a dezembro, Alcântara mostra esperança de que as
águas vão escorrer e encher riachos, rios e açudes.
O
comerciante e criador da cidade de Icó participou pelo segundo ano seguido do
encontro e prevê que este ano será bem melhor que o passado. "As
experiências dos dias 8, 18 e 28 de outubro, do dia 8 de dezembro e da lua
cheia em dezembro foram muito boas", afirmou. "São observações que
não falham".
Da
cidade de Lavras da Mangabeira, os primos José Machado Neto, 47; e Gilsivan
Gabriel, 65, disseram que a florada da aroeira, do pau d'arco, do ipê e do
gonçalo-alves foram intensas e, por isso, prenunciam um bom período de chuvas
para a alegria do sertanejo.
O
agricultor Francisco Domingos Dias, 76, que há mais de 40 anos observa os
sinais da natureza, disse que a barra de Natal foi favorável a boas chuvas.
"Estava firme, com relâmpagos", observou. "As casas de Maria de
Barro estão sendo feitas viradas para o poente". Já as experiências das
pedras de sal, em dezembro passado, não foram boas. "Gostei do vento
Aracati, foi um sinal muito bom", disse. Outros observaram a chuvada na
noite de Natal como um sinal de "um bom inverno que está por vir".
O
músico José Vicente, idealizador do Sertão Vivo, disse que o encontro de ontem,
Dia de Reis, fecha o ciclo das festas natalinas. "O que lutamos é para a
preservação da nossa cultura, da história, da natureza, do nosso sertão, que é
vivo e quando chove todo fica verde, a vida pulsa, em cada roça volta a florir
e floresce a esperança no coração de cada um de nós", afirmou.
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