Iguatu. O ano de 2015 se despediu dos cearenses com
um registro negativo quanto ao volume médio acumulado nos reservatórios. O
índice atual de 12,2% é o mais baixo desde 1994, quando a Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos (Cogerh) começou a fazer o monitoramento das reservas
hídricas acumuladas em açudes.
O ano
de 2016 começa com forte tendência de ser o quinto período anual de chuvas
abaixo da média. O cenário permanece desfavorável e preocupante. Nos próximos
três meses a situação no Ceará poderá ser agravada ou amenizada. O que vai
ocorrer? A resposta está nas condicionantes climáticas. O tempo vai responder.
Daqui a
um ano como estará o nível médio dos açudes no Estado do Ceará? É uma questão
que preocupa a todos, governo, produtores rurais e moradores. O tempo trará a
resposta certa, mas a probabilidade atual, que é incerta, aponta para um
elevado risco de registro de uma nova seca. O El Niño permaneceu intenso em
novembro e dezembro passados e pode ter sido o mais elevado, superando os
registros de 1997 e 1998. Em breve será divulgado esse índice.
Prognóstico
A
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) divulga, no
próximo dia 20, o primeiro prognóstico para a quadra chuvosa (fevereiro a maio)
desde ano. Dois dias antes, começa, na sede do órgão, na capital cearense, um
seminário com a participação de meteorologistas de institutos do Nordeste e do
Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe).
Segundo
o meteorologista da Funceme Raul Fritz, o fenômeno meteorológico do El Niño,
que se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico
Equatorial, tem forte influência sobre a quadra chuvosa no Ceará. Os estudiosos
vão agora observar a temperatura das águas do Oceano Atlântico, acima e abaixo
do Equador.
A
análise dos dados de temperatura das águas superficiais dos oceanos e de outros
fatores vai determinar o estudo de probabilidades da próxima quadra chuvosa,
com percentuais nas categorias acima, abaixo e dentro da média anual histórica
para a quadra chuvosa, que é de 600 mm.
Os
indicadores não são nada favoráveis e é bem provável que o próximo prognóstico
apresente um elevado índice das chuvas permanecerem abaixo da média,
comportamento que vem se repetindo desde 2012.
Os
meteorologistas chamam a atenção para o fato de que as chuvas verificadas no
último mês de dezembro em áreas isoladas do Estado não têm relação com o
sistema prevalecente na quadra chuvosa. O fenômeno denominado Vórtice Ciclônico
de Altos Níveis (VCAN) vem provocando essas precipitações.
Para
alguns agricultores a chuva caída recentemente seria o presságio de "um
bom inverno". Outros observam que a regularidade e intensidade do vento
Aracati e a floração de árvores típicas do sertão indicariam boas chuvas nos
próximos três meses.
A
observação popular contraria as primeiras previsões científicas. Mais uma vez,
o tempo tem a resposta. O certo é que o cenário atual é preocupante: perda das
reservas hídricas e previsão e chuvas abaixo da média. Como o cearense vai
enfrentar 2016? Ainda não temos com certeza a resposta para o futuro, mesmo
próximo, mas o passado vem sendo desanimador.
A
Funceme observa que, desde 2012, as chuvas ficaram abaixo da média histórica e
houve seguidas perdas no volume dos açudes. A escassez de água resulta em um
quadro grave.
O atual
ciclo de estiagem, que começou em 2012, é o mais longo desde 1973, segundo
estudos da Funceme. No fim da quadra chuvosa passada (fevereiro a maio) os
açudes acumulavam 21%. Hoje estão em 12,2%. Há pelo menos quatro anos que se
vem registrando déficit hídrico no Ceará. A tendência é de queda continuada das
reservas hídricas no Ceará pelo menos neste mês e no próximo.
Em 10
de junho passado, o volume médio dos reservatórios era de 20%. Sete meses
depois, ocorreu uma queda de 8%. Se não houver recarga nos próximos meses, o
cenário será agravado em várias cidades do Estado. Muitas já enfrentam
racionamento, falta de água. Com os açudes secando, dezenas de adutoras
instaladas emergencialmente não vão funcionar por absoluta falta de recurso
hídrico para ser transferido.
Por
enquanto, o governo prefere manter a cautela, aguardar a previsão da Funceme e
o comportamento do clima. Recentemente, o secretário de Recursos Hídricos,
Francisco Teixeira, e o governador Camilo Santana, repetiram que há
monitoramento permanente do nível dos açudes e discussão sobre as medidas mais
urgentes a serem adotadas em todas as regiões do Estado.
Estratégia
Uma das
estratégias já anunciadas, que pode ser concretizada em abril de 2016, caso não
ocorra recarga no Castanhão é a operação de transferência de água do Açude Orós
para aquele reservatório, no Médio Jaguaribe. Remanejamento de água semelhante
ocorreu em 1993, quando o Orós foi totalmente esvaziado para salvar a população
e empresas da Grande Fortaleza, por meio do Canal do Trabalhador. Atualmente, o
Orós está com 33% de sua capacidade.
Será
que as águas tão esperadas do Rio São Francisco chegarão ao Ceará no segundo
semestre deste ano para amenizar a escassez de recurso hídrico em algumas
regiões? E o "Velho Chico" terá água para atender a demanda regional,
já que também enfrenta quadro de seca no seu curso? O que o governo pode fazer
diferentemente das medidas adotadas até agora baseadas em um receituário
antigo: carro-pipa, adutora e perfuração de poço? E a população o que pode
fazer? Para esta última questão há uma resposta: economizar água, usar de forma
consciente.
Mais informações:
Funceme
Telefone:
(85) 3101-1117
Cogerh
Telefone:
(85) 3218-7024
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