Com a crise hídrica que atinge
o País, o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas vem caindo de forma
acelerada nos últimos anos. No Nordeste a situação é mais crítica. Os reservatórios
da região fecharam o mês de novembro com apenas 4,73% da capacidade total, no
mais baixo nível da série histórica iniciada em 1996, segundo dados do Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Em abril, os reservatórios estavam com
27,4% da capacidade máxima e, desde então, o nível vem caindo mês após mês.
Apesar
desse cenário, ainda é pouco provável que haja desabastecimento de energia -
pelo menos no curto prazo -, pois devido à crise econômica o consumo de energia
vem caindo e, além disso, o Sistema Interligado Nacional (SIN) ainda conta com
usinas termelétricas que podem ser acionadas em caso de necessidade.
Segundo
João Mamede Filho, professor e consultor em energia, as termelétricas
nordestinas podem arcar com cerca de 30% a 40% da demanda total da Região.
"O estado crítico das barragens do Nordeste não vai ocasionar um apagão.
Apesar de Sobradinho (BA), que tem mais da metade de todo o potencial do
Nordeste, estar com uma geração muito pequena, a região tem um certo número de
térmicas que podem dar um suporte", afirma. O reservatório de Sobradinho,
no rio São Francisco, que representa 58,2% da capacidade máxima de
armazenamento de todo o Nordeste, está com apenas 1,4% da sua capacidade
máxima.
Desde
1996, o pior resultado para o mês de novembro para o volume de água armazenada
no Nordeste havia sido registrado em 2001, quando os reservatórios estavam com
7,84% da capacidade máxima, bem acima dos atuais 4,73%. Para efeito de
comparação, em novembro de 2011 os reservatórios da Região estavam com 47,9% da
capacidade, percentual que vem caindo ano após ano para o mês de novembro. No
ano passado, o nível no mês estava em 13,03%.
Com o
declínio dos reservatórios nacionais, a participação da produção termelétrica
vem crescendo. Era de 16,61% do total em dezembro de 2012, e agora está em
22,16%. Em igual período, a participação das hidrelétrica caiu de 79,7% para
70,99%. Enquanto a participação das eólicas no SIN, com a implantação de novos
projetos, passou 0,76% para 3,12%.
Preço da tarifa
Mesmo
que as térmicas tenham capacidade de suprir a demanda, se os reservatórios não
se recuperarem, o valor das tarifas de energia devem subir, pois enquanto preço
do Megawatt-hora (MWh) gerado por uma termelétrica gira em torno de R$ 205, nas
grandes hidrelétricas o preço é de R$ 114 e nas eólicas de R$ 136, segundo
dados do leilão A-5, realizado no fim do ano passado, para a energia que deve
ser entregue em 2019.
"Na
medida em que as termelétricas são acionadas, para reduzir o uso das águas, os
preços podem subir bastante", lembra João Mamede. "É como você usar o
cheque especial. Se não dá para usar a hidráulica tem que usar as
térmicas", emenda. Mas, segundo o consultor, se o reservatório de Tucuruí,
que representa 51,53% da capacidade de armazenamento da região Norte e hoje
está com 16,8% da capacidade máxima, se recuperar, será um alívio para a
região.
Entretanto,
a situação pode se agravar ainda mais se as chuvas no Sudeste forem
insuficientes nos próximos meses. Mamede lembra que o próprio reservatório de
Sobradinho depende mais da ocorrência de chuvas em Minas Gerais do que no
Nordeste. "Se o Sudeste não for abastecido, entraremos em uma situação
crítica", afirma.
Queda do consumo
No
entanto, o encolhimento da economia brasileira e a perspectiva de uma nova
retração em 2016 acabam diminuindo o risco de apagão. "No ano passado a
gente não teve desabastecimento (de energia) porque a nossa economia
afundou", diz Mamede. "Se mantivéssemos uma economia crescendo,
possivelmente a gente poderia ter alguma perda de energia", fala.
Em
setembro, o consumo de energia elétrica no País caiu 3,1%, comparado a setembro
de 2014, atingindo 37.701 gigawatts-hora (GWh). Segundo levantamento da Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), todas as classes de consumo sofreram recuo no
período, sendo a industrial a que registrou maior queda (-6,3%), enquanto
consumo residencial caiu 1,7% e o comercial, 0,8%. Já no acumulado do ano, o
setor comercial continua registrando alta de 1,1%, enquanto o residencial caiu
0,7%.
A
produção de energia das usinas conectadas ao SIN, para o dia seis de dezembro,
atingiu o pico em 2013, com a produção de 66,4 mil MW. Em 2014, a produção caiu
para 58,9 mil MW e, no último domingo (6), foi de 53,6 mil MW. O mesmo fenômeno
ocorreu no Nordeste, onde a produção caiu de 10,3 mil MW, em seis de dezembro
de 2013, para 9,5 mil MW no mesmo dia deste ano.
No Ceará
Hoje,
no Estado, 99,6% do potencial de geração de energia está concentrado entre
usinas térmicas (61,11%) e eólicas (38,57%), segundo dados da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel). O Estado possui 84 empreendimentos em operação
gerando 3,19 MW. E para os próximos anos está prevista uma adição de 1,98 MW
proveniente dos 22 empreendimentos em construção atualmente no Estado, além de
outros 45 em construção não iniciada.
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