O jantar mensal do cantor e compositor Chico Buarque com
um grupo de amigos terminou anteontem de forma inesperada. Por volta da
meia-noite, Chico e os companheiros foram hostilizados por um grupo
antipetista, em uma movimentada esquina do Leblon, na zona sul carioca.
"Você é um merda, quero ouvir da sua boca: quem apoia o PT, o que
é?", perguntou um dos provocadores.
"É petista",
respondeu o compositor. "É um merda", interrompeu o rapaz. Vídeos da
discussão foram publicados nas redes sociais e replicados
durante todo o dia.
Em determinado momento, o grupo ironizou o fato de Chico ter um
apartamento em Paris. "Para quem mora em Paris é fácil", disse
um deles. "Você mora em Paris?", retrucou Chico.
Simpatizante do PT, Chico já participou de várias campanhas do partido,
inclusive em 2014, quando gravou um vídeo de apoio à reeleição da presidente
Dilma Rousseff.
Chico saía do restaurante Brigite’s com o cantor, compositor e
arranjador Edu Lobo, os cineastas Cacá Diegues, Miguel Faria Jr. e Ruy Solberg
e o jornalista e escritor Eric Nepomuceno. Com exceção de Cacá, os artistas se
encontram uma vez por mês para jantar. Edu Lobo já tinha ido embora e, enquanto
os demais esperavam um táxi, um grupo que saía do restaurante Sushi Leblon
começou a gritar "petista", "ladrão", "vai para Paris",
"vai para Cuba".
Diante das provocações, Chico decidiu argumentar com os jovens. "Vai
se informar, não basta sair falando", disse o cantor. Embora tenha
discutido com o grupo, Chico manteve a voz baixa e riu em alguns momentos. Um
dos jovens afirmou a Chico que "o PT é bandido" e o compositor
respondeu: "Eu acho que o PSDB é bandido".
"Chico foi um santo, um cavalheiro. Os meninos começaram a
hostilizar, do outro lado da calçada. Chico atravessou e foi lá falar com eles.
Essa cena de repressão nazista é um exemplo do que está acontecendo no Brasil:
a absoluta intolerância. As discussões políticas estão indialogáveis. A disputa
política se transformou em duelo. Eles não queriam argumentar, só xingar",
comentou Cacá Diegues na tarde de segunda.
Eric Nepomuceno lamentou que uma noite divertida com velhos amigos tenha
sido encerrada com aquela discussão. "É muito impressionante a fúria
agressiva dessa direita que saiu do armário embutido", declarou Eric.
"Estávamos numa ótima, de repente vieram os caras, muito agressivos. Eu
estava mais irritado que o Chico, mas depois nós todos demos risada",
contou o escritor.
Segundo Eric, não foi o primeiro episódio de provocação, embora tenha
sido o mais ostensivo. "Uma outra vez, o cara na mesa ao lado pegou o
celular e falou com alguém: 'Estou em um restaurante caríssimo de Ipanema onde
os comunistas adoram vir'" lembrou.
Questionado pelo cantor, o agressor respondeu que seu nome era Tulio
Dek, rapper. "Eu sou fã do Chico Buarque, é um ídolo. Mas como um cara
desse nível intelectual continua apoiando cegamente o PT? (...) Eu não vou
deixar de me posicionar."
Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu na terça-feira em seu
perfil no Facebook sobre o episódio. "É muito triste ver a que ponto o ódio
de classe rebaixa o comportamento de alguns que se consideram superiores, mas
não passam de analfabetos políticos. Apesar de vocês, amanhã há de ser outro
dia. Receba, querido Chico, nossa solidariedade, sempre", escreveu Lula.
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