São expressivas as tradições
indígenas que resistem nos confins do Brasil. Festejos, costumes, religiões,
cantos, danças, rituais e outras tantas formas de manifestação vêm se
perpetuando, não sem o enfrentamento de uma série de dificuldades.É com o
objetivo de valorizar e estimular iniciativas culturais de povos indígenas e de
suas comunidades que o Ministério da Cultura selecionou, na última semana, 70
novos Pontos de Cultura Indígena - dentre os quais estão duas comunidades
cearenses.
Aquiraz
Os
Jenipapo-Kanindé, por meio da Associação das Mulheres Indígenas
Jenipapo-Kanindé, foi uma das comunidades premiadas no Estado do Ceará. O
edital visa contribuir para garantir a salvaguarda, preservação e difusão do
patrimônio cultural material e imaterial da etnia.
"Para
nós, Jenipapo-Kanindé, é mais uma conquista, pois já participamos de outros
editais. Ser contemplado com o Ponto de Cultura não deixa de ser uma maravilha.
Ficamos muito felizes com o resultado, pois sabemos que só vai melhorar mais
ainda na valorização cultural de nosso povo", afirma Juliana Alves, a
cacique Iré. Ela é sucessora da cacique Pequena e diretora da Escola Indígena
Jenipapo-Kanindé.
Para
Juliana, ainda não existem políticas de estímulo à cultura indígena suficientes
para preservar as tradições. "Mas aos poucos estamos conseguindo, com a
nossa participação nesses projetos, o Estado já consegue ter uma visão melhor
da perspectiva indígena existente no Ceará. Esses apoios às associações
indígenas têm sido muito importantes para as comunidades", diz.
Histórias
Com
aldeia localizada no município de Aquiraz, os Jenipapo-Kanindé vivem na Lagoa
Encantada. O local - visto pelos índios como um ambiente sagrado - guarda uma
série de histórias e mitos. É comum que integrantes da etnia, em seus rituais,
evoquem a memória dos antepassados, considerada simbologia da raiz do índio e
mesmo do sentimento de pertença a uma família única.
Os
discursos orais dos integrantes mais antigos da aldeia dão conta que os
primeiros da etnia a chegarem na comunidade em Aquiraz vieram por volta do século
XIX.
De
início, eles ocupavam não apenas a Lagoa Encantada, mas também as regiões de
Lagoa do Tapuio, Córrego de Galinhas, Córregos de Bacias, dentre outras.
Os
Jenipapo-Kanindé foi uma das primeiras etnias que, durante a década de 1980,
levantou bandeira em favor dos grupos indígenas do Ceará - juntamente com os
povos Tapeba, Pitaguary e Tremembé. A sobrevivência, eles tiram da agricultura
e da pesca. Durante todo o ano, os Jenipapo-Kanindé plantam mandioca. O cultivo
de milho, batata doce e feijão, porém, eles só fazem quando chove.
A
comunidade mantém fortes os trabalhos artesanais. Lá, os homens costumam fazer
trançados de cipó e palha de carnaúba para produzir cestos, chapéus e caçuás,
enquanto as mulheres fazem renda e artesanato em barro.
Há 20
anos, a Cacique Pequena, como é conhecida Maria de Lourdes da Conceição Alves,
lidera a etnia. Ela foi a primeira cacique mulher do Brasil e tem atuação
importante dentro da aldeia na luta pelos direitos indígenas, demarcação de
terras e preservação da Lagoa Encantada. Pela sua contribuição ao longo da
vida, Cacique Pequena ganhou o reconhecimento como Mestre da Cultura.
Recentemente,
os Jenipapo-Kanindé realizaram uma mostra etnográfica de filmes e fotografias
relacionados à temática dos índios.
Inhamuns
Outro
grupo cearense contemplado no edital dos Pontos de Cultura Indígenas é a Aldeia
Cajueiro. A etnia, que mora na região dos Inhamuns do Ceará (em Poranga), é
formada pelos índios Tabajaras, também presentes em outras cidades do Estado,
como Crateús, Quiterianópolis, Monsenhor Tabosa e Tamboril.
A
Aldeia Cajueiro é fruto de uma retomada de terras. Atualmente, é habitada por
cerca de nove famílias, entre Tabajara e Kalabaça. Um ponto de reivindicação
importante na comunidade diz respeito à regulamentação da terra indígena. O
grupo preserva diversas tradições, entre rituais, danças e a bebida mocororó,
que provém do caju.
Ao
todo, cada um dos 70 grupos selecionados no País como Ponto de Cultura receberá
R$ 40 mil, a serem investidos em duas linhas: uma para estimular manifestações
em diferentes áreas (religião, festas tradicionais, culinária, artesanato,
museus, medicina indígena) e outra que visa financiar ações desenvolvidas no
campo do audiovisual.
Mais informações:
Candidatos
convocados no edital deverão enviar a documentação complementar para o e-mail
cosen@cultura.gov.br até o próximo dia 29 de fevereiro
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