Canindé. Desde cedo, os fieis que
lotaram a Praça da Basílica de São Francisco das Chagas se acomodavam pelas
calçadas, deitados no chão, ou em redes armadas nas árvores do logradouro. A
solenidade de hasteamento da bandeira de São Francisco, que antecedeu a missa,
iniciada às 4 horas, foi acompanhada de cânticos e de um foguetório. O evento
litúrgico foi celebrado pelo frei Marconi Lins de Araújo, pároco e reitor do
Santuário, e comemora, além do centenário da Basílica, o da Igreja de Cristo
Rei, conhecida como Igreja do Monte, 125 anos do painel de São Francisco e dez
anos da estátua do santo, que tem 30 metros de altura.
O
religioso destacou a figura carismática de São Francisco das Chagas, "que
escutou o Evangelho e fez dele o motivo da sua vida. São Francisco está na
história há 800 anos. Entretanto, sua mensagem é atual. Ele era um homem de
oração e contemplação".
O frade
lembrou, ainda, que, em 1915, "Canindé e o Ceará viviam também um contexto
de seca e tinha pouco mais de mil habitantes. Entretanto, recebia muitos fieis,
pois o Santuário sempre foi um lugar de oração, de se escutar a palavra de
Deus. Nesse instante em que comemoramos o centenário da bênção da Basílica,
precisamos falar que a família enfrenta um momento de crise. E nNão existe
futuro para a humanidade se não preservarmos a unidade familiar".
Desde a
noite anterior, os romeiros começaram a se concentrar na praça principal da
Cidade. Por volta das 3 horas, já havia uma multidão, calculada pelos
organizadores em torno de 25 mil pessoas, vindas de várias localidades de todo
o Nordeste para assistir ao evento, que teve início uma hora depois.
De
todas as direções, chegaram sertanejos que vinham caminhando solitários, em
família ou no meio de inúmeras romarias. Nem mesmo o quarto ano seguido de
estiagem e o racionamento d'água enfrentado pelo Município abalaram a fé do
homem do campo.
Até o
dia 5 de outubro, quando se realiza a solenidade de arreamento das bandeiras,
na Praça da Basílica (mesmo local onde aconteceu a abertura), serão realizadas
cem missas. São esperados 1,5 milhão de visitantes, segundo os responsáveis
pela organização da festa.
A
reportagem acompanhou uma destas romarias. Por volta das 18 horas, no distrito
de Bonito, cerca de 1.500 pessoas saíram com destino à sede de Canindé
acompanhando a Caminhada Iluminada. O evento foi idealizado há dez anos pelo
metalúrgico João Batista Gomes de Souza e seus irmãos. "Já está se
tornando tradicional aqui na região essa nossa caminhada. A gente se concentra
no distrito de Bonito. Nos 22 quilômetros, percorridos a pé, vamos puxando os
fieis pelo caminho. Passamos por Santana da Cal, Riacho, Cachoeira dos Lessas e
Boa Esperança, até chegarmos a Canindé", explica João Batista.
Cerca
de 4.500 pessoas cortaram a Caatinga com o apoio de carros de som e de uma
equipe de apoio. Tudo começou quando João Batista Gomes resolveu fazer uma
promessa para São Francisco. Ele e os irmãos moravam em São Paulo já há 12
anos. O desejo de regressar para Canindé era imenso: "Foi aí que fiz a
promessa. Se retornássemos, passaríamos a bancar a caminhada até o fim de
nossas vidas. É bom frisar que esse evento não tem conotação política".
Durante
os 22 quilômetros, percorridos em aproximadamente seis horas, o grupo para nos
chamados locais de apoio, para que os fieis possam descansar e se alimentar, já
que são servidos sucos, água e refrigerante, além de sanduíches. O nome
Caminhada Iluminada nasceu pelo fato de os participantes levarem velas,
lanternas e celulares para iluminar o caminho. "Então resolvemos bancar a
iluminação adquirindo geradores para garantir a iluminação artificial",
disse João Batista.
"Há
17 anos acompanho a abertura dos festejos de São Francisco em Canindé. Me
incorporei a esse grupo e nunca mais saí", conta a agricultora Maria
Santos Coelho, 52. Dona Maria assegura que já alcançou várias graças com a
intermediação de São Francisco. "A última delas foi no ano passado. Estava
sofrendo com uma osteoporose no joelho, o que me impossibilitou de vir a pé na
caminhada. As fisioterapias não resolveram o problema. Foi quando fiz a
promessa de que, se ficasse curada, iria para a festa na Basílica com a roupa
do santo". Segundo dona Maria, a graça mais importante que conseguiu foi
em relação aos filhos. "Pedi para educar todos os sete sem problemas. E
São Francisco foi bondoso comigo. Nenhum deles jamais me deu trabalho",
conta.
Outra
romeira que testemunha sobre sua fé é a comerciante Aparecida Cristina, 44.
Residente em Cachoeira dos Lessas, sua residência e mercearia se transformaram
em ponto de apoio para os fieis. "Há três anos, quando mudei da sede de
Canindé para cá, me empolguei com essa caminhada. Além de dar apoio, quando o
pessoal sai daqui, fecho meu comércio e acompanho", conta.
Por
volta de 1h50, os primeiros integrantes da Caminhada Iluminada começaram a chegar
à Praça da Basílica para acompanhar a missa. No fim, se dispersaram em grupos.
Cem missas
O tema
deste ano, conforme ressaltou o frei Marconi Lins, durante sua celebração,
"é uma exortação apostólica do papa Francisco: "São Francisco,
alegria de viver o Evangelho". Segundo ele, "o objetivo é refletir
sobre a vida de São Francisco, e oferecer a todos que vierem a Canindé a
oportunidade de conhecer mais São Francisco e de, com ele, viver a alegria do
Evangelho de Jesus e de nos deixar transformar em construtores de um mundo mais
fraterno, mais justo e mais pacífico onde a vida é levada a sério porque
pertence a Deus, nosso Pai". Até o dia 5 de outubro, serão celebradas cem
missas nas igrejas católicas de Canindé. Pela primeira vez, a Secretaria de
Ação Social funcionará em regime de plantão para atender os visitantes em
situação de vulnerabilidade.
Mais informações:
Santuário
de São Francisco das Chagas - Canindé (CE)
Telefone: (85)3343-0774
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