Se a última viagem da
presidente Dilma Rousseff ao Ceará, em setembro de 2014, foi marcada sobretudo
pelos anseios em torno das eleições, a visita desta sexta-feira terá um foco
bastante distinto. Esforçando-se para reconquistar a popularidade perdida após
o enfraquecimento da economia e os escândalos de corrupção ligados à Petrobras,
a chefe do Executivo nacional irá se deparar com uma série de demandas de
segmentos que afirmam não ter como suportar novos ajustes e encargos.
Longe
de estarem restritas a pequenos grupos, as queixas partem dos principais
setores econômicos do Estado. "Nós estamos no limite do
estrangulamento", aponta o presidente da Federação das Câmaras de
Dirigentes Lojistas (FCDL) do Ceará, Freitas Cordeiro. Um dos temores do
comércio, afirma o líder classista, é que o governo federal, na tentativa de
conter a inflação, aumente a taxa de juros e cause um impacto ainda maior sobre
o consumo, o que resultaria em um número significativo de demissões no setor,
agravando a crise econômica.
"As
empresas já estão exauridas. Se o governo tentar aumentar as cargas, vai estar
procurando um medicamento que vai matar o carrapato, mas vai levar a vaca
junto, porque estamos no nosso limite", destaca. Para Freitas Cordeiro, o
governo deve agora esforçar-se para dar sinais positivos para o setor,
possibilitando índices maiores de formalização daqueles que atuam no comércio.
O
presidente da FCDL acrescenta que as queixas do setor não estão ligadas a
fatores políticos. "Não nos interessa quem está na presidência. O que nos
interessa é dialogar com quem está lá, para que todos possam contribuir e
prestar o maior apoio, fazendo a gente sair da crise", salienta Freitas.
"Euforia"
Setor
mais fortemente atingido pela crise econômica, a indústria também anseia por
uma retomada no curto prazo. Segundo o presidente da Federação das Indústrias
do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart, o setor foi influenciado pela
"euforia" do primeiro mandato de Dilma, realizando uma série de
investimentos com a perspectiva de continuidade do crescimento do País.
Agora,
compara, os custos elevados e a queda no consumo levaram setores como
construção civil, calçados e indústria metalmecânica a amargar perdas
significativas.
"Acho
que a indústria cearense está dentro do contexto nacional. Ela não precisa ter
nenhum tratamento especial", afirma. De todo modo, ressalta, o governo
deve dar mais atenção às políticas de desenvolvimento regional, uma vez que a
participação do Nordeste no Produto Interno Bruto (PIB) nacional não tem
crescido de forma significativa.
Beto
Studart diz considerar os cortes recentes anunciados pela presidente da
República para buscar equilíbrio fiscal insuficientes. "Ela (Dilma)
anunciou que vai fechar dez ministérios e cortar mil cargos comissionados. Isso
não representa nada. Ela não deveria nem ter dito isso. Só a Fiec já cortou 700
cargos (na atual gestão)", compara.
Agropecuária
Já no
setor agropecuário, a principal preocupação em relação ao governo federal é a
continuidade de medidas voltadas para o enfrentamento à seca. Uma delas, aponta
o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Flávio
Saboya), é a renegociação das dívidas dos produtores rurais.
Vencimento das parcelas
Conforme
explica Saboya, as dívidas renegociadas dos pequenos produtores têm parcelas
com vencimento definido para este ano, o que tem deixado os agropecuaristas
apreensivos.
Outro
pleito do setor, complementa, é a manutenção dos polos emergenciais criados
pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A companhia, justifica,
possui nove polos de distribuição no Estado, mas, devido à seca, foram criados
outros 11 de forma emergencial, os quais foram fechados em janeiro último. O
setor pede que os 11 polos se tornem equipamentos fixos no Estado. Ele ressalta
ainda a demanda por novos subsídios para a aquisição de milho no Ceará, para de
minimizar os efeitos da estiagem.
Legislação trabalhista
Por sua
vez, o setor de serviços demanda algumas mudanças na legislação trabalhista. De
acordo com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-CE),
Rodolphe Trindade, entre os pleitos do segmento está a possibilidade de
contratar aprendizes de 16 a 18 anos para atividades hoje consideradas
insalubres. "Mas não tem como considerar insalubre o trabalho de um jovem
que vai trabalhar de garçom e manusear uma faca ou trabalhar em frente a uma
chapa para fazer sanduíche", comenta.
Outra
iniciativa almejada, aponta, é a regulamentação do trabalho intermitente, que
permitiria a contratação de trabalhadores com uma jornada móvel, baseada na
demanda do estabelecimento. "Se você tiver um restaurante com dois
cozinheiros, mas um deles está de férias e o outro adoeceu, você vai ter que
fechar as portas naquele dia? Se você puder contratar uma pessoa só para aquele
dia, ganha todo mundo, tanto o trabalhador quanto a empresa, que vai ter
segurança jurídica", argumenta. Trindade destaca ainda que o setor espera
maior simplificação na área tributária, além de maior agilidade nos processos
de licenciamento.
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