Apesar de o novo tratamento
com anticorpos ser mais caro, ele quase não tem efeitos colaterais.
Londres. Um tratamento
inovador contra o HIV, com substâncias obtidas a partir do organismo de pessoas
imunes ao vírus, teve eficácia mais duradoura que drogas antirretrovirais
convencionais em testes com cobaias. Após usar anticorpos (moléculas de ataque
do sistema de defesa do organismo) para tratar camundongos geneticamente modificados,
Michel Nussenzweig, o cientista brasileiro que liderou a pesquisa, quer agora
iniciar um ensaio clínico em pacientes humanos.
O tratamento experimental
desenvolvido sob coordenação do brasileiro Michel Nussenzweig pode evitar a
infecção de novas células FOTO: DIVULGAÇÃO
Junto com seus colegas da
Universidade Rockefeller, de Nova York, Nussenzweig descreveu o sucesso do
experimento num estudo que será publicado hoje pela revista científica
britânica "Nature".
Sumiço
Os anticorpos monoclonais
(clonados a partir de uma só célula) usados no teste conseguiram reduzir a
infecção por HIV a níveis indetectáveis nos camundongos. Como o vírus da Aids
não infecta roedores naturalmente, cientistas tiveram de fazer o teste com
camundongos geneticamente modificados, cujo sangue tinha características
moleculares humanas.
Os anticorpos monoclonais
são uma técnica sofisticada que já vem sendo usada para tratar alguns tipos de
câncer e doenças autoimunes. As proteínas usadas no experimento liderado por
Nussenzweig, que já tinham sido descritas em outro estudo em 2011, são capazes
de neutralizar muitas variedades do vírus.
Segundo ele, outras
pesquisas que tentaram usar terapia similar falharam por não ter anticorpos tão
robustos à mão.
Apesar de os anticorpos monoclonais
serem uma abordagem mais cara que os antirretrovirais, existe uma perspectiva
de uso para a técnica no tratamento de soropositivos, pois eles quase não
trazem efeitos colaterais. Os anticorpos são um produto natural, feito pelo
organismo humano, disse o cientista.
"Os voluntários num
teste clínico serão aqueles que não toleram bem as drogas, aqueles nos quais as
drogas estão falhando ou os que queiram receber um tratamento com doses uma vez
a cada poucos meses em vez de ter de tomar algo todos os dias".
No experimento com os
camundongos "humanizados", tanto a terapia de anticorpos quanto as
drogas antirretrovirais foram eficazes em manter a carga de vírus em níveis
baixos. Quando o tratamento foi cessado, porém, o vírus voltou a proliferar em poucos
dias nos roedores tratados com medicamentos.
Testes em humanos
O teste da nova terapia
contra Aids em humanos ainda não tem data para começar. Nussenzweig e seus
colegas ainda precisam levantar verbas, por exemplo. "Um teste como esse
custa caro, mesmo que seja pequeno, e provavelmente sai entre US$ 2,5 milhões e
US$ 5 milhões.
Michel Nussenzweig, porém,
diz-se otimista. Existe até mesmo a chance de que os anticorpos monoclonais
levem à cura da infecção pelo HIV. "Não é provável, mas é possível, pois
alguns animais foram efetivamente ´curados´ no contexto do experimento",
disse.
O entusiasmo com a ciência
faz parte do cotidiano desde a infância de Nussenzweig. O brasileiro passou os
primeiros anos de vida no país onde nasceu. Foi para Nova York a partir dos 12
anos, onde os pais - os renomados parasitologistas Victor e Ruth - foram fazer
um pós-doutorado e acabaram se instalando.
Copilado do Diário do
Nordeste
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