Dos 500 mil casos de câncer registrados
todos os anos, pelo menos entre 20 mil e 25 mil estão relacionados à ocupação
do paciente. Um levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca) lista 19
tipos de tumores malignos - entre os de pulmão, pele, fígado, laringe e
leucemias - que podem ser provocados pela exposição a produtos químicos e falta
de equipamentos de segurança adequados.
Os dados fazem parte do estudo
"Diretrizes para vigilância do câncer relacionado ao trabalho",
divulgado na segunda-feira (30), véspera do Dia Internacional do Trabalhador.
A estimativa de 20 mil a 25 mil casos pode
ser conservadora - leva em conta pesquisas europeias, que apontam que 4% dos
novos tumores são ligados à ocupação.
"Considerando o ambiente de
trabalho, maquinários obsoletos, processos ultrapassados, os trabalhadores
brasileiros estão ainda mais expostos que os europeus. Em alguns tipos de
tumor, podemos trabalhar com uma proporção de 8% a 16% dos novos casos",
ressalta Ubirani Otero, coordenadora do estudo e responsável pela Área de
Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente do Inca.
O documento recomenda, como principal
estratégia para a redução do número de tumores malignos, a eliminação da
exposição aos agentes causadores. Além de listar os cânceres ligados ao
trabalho, relaciona os produtos cancerígenos e a atividade econômica a que está
ligado, como a de cabeleireiros, agricultores profissionais, da construção
civil, indústria do petróleo, entre outras.
Aponta ainda a dificuldade de se obter
dados a respeito da ocupação dos pacientes. Ubirani levantou por exemplo
estatísticas sobre câncer de bexiga, a partir do cadastro Integrador de
Registros Hospitalares de Câncer, entre 2008 e 2010. Nesse período, hospitais
relataram 2.426 casos da doença - em 46,2% não havia informações sobre o tipo
de trabalho exercido.
"Não basta saber a ocupação atual,
mas também a atividade pregressa. Só com informações corretas vamos conseguir
relacionar câncer à ocupação. O Sinan (Sistema de Informação de Agravos de
Notificação do Ministério da Saúde) tem apenas 128 registros de câncer
relacionado ao trabalho. É preciso melhorar esse dado", afirma Ubirani. O
estudo propõe a adoção de um questionário ampliado sobre a ocupação e o tempo
de serviço na atividade de risco.
O professor de Epidemiologia da
Universidade de São Paulo, Victor Wünsch, defende que o governo defina metas
para a redução dos riscos no trabalho. "Desses casos ligados à ocupação,
estima-se que metade sejam pacientes com câncer de pulmão. É extremamente grave
porque não temos tratamentos eficazes, até o momento para esse câncer. Temos
que fazer a prevenção desses casos", afirmou.
O diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental do
Ministério da Saúde, Guilherme Netto, considerou o documento
"absolutamente estratégico", mas reconheceu que levará alguns anos
até que as diretrizes possam ser implementadas no País.
Fonte: Agência Estado
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