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domingo, 25 de março de 2012

Diagnóstico aponta vários problemas


Com indicadores em queda, competitividade, qualificação e proteção às indústrias do Ceará serão repensadas.
Desindustrialização. Uma palavra que andava até meio esquecida, mas que voltou à tona no começo deste ano. Com ela, algumas incertezas que estão deixando em alerta analistas de mercado, empresários, e, principalmente, milhões de famílias que sobrevivem da atividade industrial no Brasil. Mesmo com um crescimento econômico recente acima da média nacional, o Ceará também reflete os efeitos do que já está sendo chamado de crise pelo País afora.

No Estado, há áreas que estão sofrendo e outras em crescimento no seu parque industrial, tudo normal dentro da complexidade da atividade do segundo setor, mas que vem apresentando indicadores negativos desde o início do ano passado, quando são contabilizadas todos os segmentos em atuação no Ceará. É o caso de parte da indústria mais representativa para a economia local, notadamente, que está sentindo o baque de 16 quedas consecutivas na produção.
Estes números dão conta que a produção cearense caiu, em janeiro, 8,3%, e amargou o quarto pior resultado do País. Foi um péssimo desempenho tendo em vista que estamos entre os ruins de uma indústria brasileira, que também não está andando bem.
Difícil reação
"Não podemos assistir à desindustrialização passivamente. Um Estado pobre como o nosso não pode abrir mão da geração de emprego provinda desse setor produtivo que ocupa 20% da nossa população ativa e impacta em todos os outros segmentos econômicos", declara o diretor corporativo do Instituto do Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), Carlos Matos.
Na opinião dele, a indústria deverá reagir, mas não será tarefa fácil para nenhum dos atores deste cenário. "Essa crise que estamos vivendo e coloca em risco o setor pode ser convertida com um amplo programa com visão de futuro. Os empresários necessitam de apoio do governo e maior proximidade das universidades. É preciso investir em educação, tecnologia e inovação para ficarmos menos vulneráveis e nos tornarmos competitivos".
Revendo a política industrial
Na visão de Carlos Matos, é hora de repensar a política industrial brasileira, sobretudo por conta do avanço das importações no País. Em pesquisa recente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que um de cada cinco produtos industrializados consumidos dentro do País vêm do exterior. Parte dessa invasão, liderada pelas mercadorias chinesas, é suplantada pela elevada taxa de juros aplicada no Brasil, fortalecimento do real na relação cambial, infraestrutura longe da ideal para acompanhar o crescimento econômico e, especialmente, pela alta carga tributária que leva para as alturas o preço dos produtos nacionais.
Tudo isso aliado a um competidor agressivo e, muitas vezes, desleal, na opinião dos empresários brasileiros, tem provocado um barreira difícil de ser transposta pela indústria local.
"Não podemos escancarar a nossa economia para China e não tarifar nada. Para completar, lá não tem os encargos trabalhistas que existem aqui. Além disso, não se pode competir quando se cobra 38% de imposto no Brasil e apenas 14% no país asiático. Estamos matando a nossa indústria", compara.
Mais qualificação
Na visão dele, para competir com esse gigante é preciso muito mais do que as medidas protecionistas às quais o governo está recorrendo. "É evidente que precisamos de uma nova mentalidade empresarial aliada a políticas adequadas. Dentre todos esses problemas que resultam no custo alto da produção do Brasil, a principal mudança tem que ser na educação. Nós gastamos 30% do total do orçamento nessa área, todavia não se vê o retorno esperado. Temos que investir corretamente em educação para colher os frutos também na indústria", avalia.
´Ainda é cedo para se falar em desindustrialização´
Mesmo reconhecendo os problemas enfrentados pelo setor industrial, ainda é cedo para de falar em "desindustrialização". Esse é o ponto de vista do economista e consultor internacional, Alcântara Macedo. "É bem verdade que há um declínio na participação da indústria no PIB nacional. Isso é uma realidade. Mas ainda somos o maior polo industrial da América Latina".
Para Alcântara, o que está acontecendo é o crescimento de outros setores na participação de tudo o que é produzido no Brasil. "Vimos um desenvolvimento do polo nacional de agrobusiness em uma boa velocidade. Temos a Embrapa e temos solo para isso. Portanto, a atenção antes que era única para a indústria está compartilhada".
Na opinião dele, no Ceará, o momento é de uma readaptação de todo o sistema industrial. "Estamos prestes a abrigar refinaria, laminadora e siderúrgica. O Complexo Industrial do Pecém já é uma realidade. Temos o melhor porto off shore da América Latina. Em breve, vamos elevar o PIB do Estado", calcula.
Não é fácil

No entanto, Alcântara encara a crise nos setores já existentes como de difícil enfrentamento. "O setor têxtil teve um ano extremamente duro, assim como vestuário e calçado. O problema é que aqui, no Ceará, esses três segmentos juntos têm uma alta representatividade. Em São Paulo, por exemplo, está localizado o maior polo têxtil do País, só que a participação por lá é de 3%, enquanto aqui é de até 20%", comenta Alcântara. (ISJ)
ARMANDO DE OLIVEIRA LIMA/ ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTERES
O QUE ELES PENSAM
Esperança de um ano melhor
Notadamente a questão é conjuntural, o fato é que a situação vem se agravando e o Governo não tem implementado ações eficientes capazes de reverter o atual quadro de perda de competitividade da indústria instalada no País. Estou particularmente confiante num resultado positivo do recente encontro da presidente Dilma com os representantes da Indústria Nacional. Não podemos continuar exportando impostos e assistir apaticamente a nossa população comprando produtos importados com preços aviltados por moeda desvalorizada dos países produtores.
Nicole Barbosa
Presidente do CIC
As perspectivas são moderadas. Creio que a redução das taxas de juros, proteção da nossa moeda e a desoneração da folha devam dar resultados no próximo semestre. Não entendo tais medidas como sendo de proteção. Nossa indústria não precisa de proteção. Se temos uma das maiores cargas tributárias, os juros mais altos do mundo e ainda sofremos a forte pressão cambial que a crise dos países desenvolvidos está nos impondo, precisamos sim de ter condições de competir (principalmente internamente) em igualdade de condições com os países exportadores, ou seja, precisamos de estímulo.
Edilson Teixeira Júnior
Presidente da Aedi
Espera-se que para 2012 a produção industrial se recupere, em virtude de algumas medidas de incentivo do governo federal e estadual, em relação aos tributos, incentivando o consumo e mercado internos. Fica como alerta, no entanto, que o setor da indústria de transformação precisa ser mais incisivo em seus modos de produção. Outro fator que pode contribuir para a recuperação refere-se à safra de alguns produtos agrícolas, que são matérias-primas para a indústria de alimentos e bebidas, que tem peso significativo na produção industrial em torno de 25%.
ELOÍSA BEZERRA
Economista do Ipece
Copilado do Diário do Nordeste

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