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quinta-feira, 30 de abril de 2015

CE registra 108 óbitos maternos por ano

A dona de casa Janaína Magalhães nunca ouviu falar sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e muito menos que a quinta meta, a saúde da gestante, é um dos mais importantes, pois é indicador de avaliação de pobreza, iniquidade social, da cobertura e qualidade da atenção médico-sanitária da população. Ela acabou de trazer ao mundo seu quarto filho, uma menina saudável que não se cansa de mamar enquanto a mãe conta que optou pelo parto normal e fez tudo direitinho durante a gestação, com sete consultas no pré-natal. "A dor é na hora, mas depois a recuperação é muito rápida e a gente volta à vida diária sem problemas", relata.

Janaína é exemplo positivo de que os índices da mortalidade materna vem caindo no Brasil e Ceará. O País saiu de 143 óbitos por 100 mil nascimentos, na década de 90, para 61,8 pela mesmo número de nascidos vivos. O Ceará tinha, em 1998, a taxa de 93,7. Em 2014, o indicador chegou a 71,4 mortes por 100 mil. Mesmo com um avanço considerável, não conseguiremos alcançar o ODM, que é a razão de 35 mortes por 100 mil nascimentos.
Por ano, 108 mulheres, no ciclo de gestação-puerpério (até 42 dias pós-parto), morrem no Estado. Em 2013, 1.567 mil mulheres morreram no Brasil por complicações ao dar à luz, durante ou após a gestação ou causadas por sua interrupção.
Na avaliação da chefe da divisão médica da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), Zenilda Bruno, a mortalidade materna no Ceará se deve, principalmente, a eclâmpsia ou pré-eclâmpsia grave. "Que se caracteriza por pressão alta, perda de proteína na urina e/ou convulsão", explica.
Segundo ela, a complicação pode ser por problema na coagulação do sangue, insuficiência renal, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e morte da mulher no período na gravidez, que é mais frequente, mas também na hora do parto e até 42 dias após dar à luz.
A melhor maneira de prevenir esta morte materna, aponta, é um pré-natal de qualidade com exame de sangue e urina disponível para todas as gestantes. Durante o exame, quando identificado uma grávida com pressão alta, esta deve ser encaminhada ao pré-natal de alto risco.
Assistência
No momento do parto, a mãe deve dispor de uma assistência garantida, sem a necessidade de a paciente ficar percorrendo várias unidades atrás de uma vaga, o que muitas vezes retarda a conduta correta. "É necessário que seja garantida vaga em UTI materna caso ela necessite. As outras causas de morte materna são sangramento logo após o parto e infecção", indica.
A especialista e assessora de gabinete da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Vera Coelho, reconhece os entraves e assinala que outro empecilho é o grande número de cesarianas nos sistemas público e privado. "Dos 95,5 mil partos realizados, em 2013, no Ceará, 51% ou 48,8 mil foram cesárias. Investir no procedimento normal é um dos nossos maiores compromissos", garante.
Para isso, a ampliação do total de unidades de acolhimento às gestantes de alto risco é prioridade. Neste caso, o Gonzaguinha de Messejana, aonde se realiza o maior número de partos no Estado, deve inaugurar até o segundo semestre, um Centro Especializado em Parto Normal. Ali, são feitos, em média, 420 procedimentos por mês, sendo 41,5% cesárias. "A ideia é quebrar esse paradigma de que a futura mãe não sente dor e sai sem nenhum problema", diz. Para isso, Vera adianta que uma das estratégia é vincular o pré-natal ao local onde a gestante terá seu bebê. "Em Tauá já temos uma experiência bem sucedida", exemplifica.
Outro projeto em andamento é o aumento de leitos de UTI habilitados no interior. Para 2015, informa, a rede de saúde estadual deve somar mais 43 equipamentos desse porte em municípios como Itapipoca, Madalena, Crateús, Crato, Russas, Maracanaú e Brejo Santo. "Sem falar que estamos para entregar o Centro de Atendimento à Gestante de Alto Risco, em Eusébio, em breve".
Com o foco da prevenção, ressalta, o Ceará foi o primeiro estado brasileiro a universalizar, em 2010, os dois testes de HIV e sífilis para gestantes no pré-natal. Isso foi possível com a aquisição de equipamentos para o Laboratório Central (Lacen), unidade da rede estadual de saúde que realiza os testes rápidos de HIV e sífilis, o que facilita uma ação imediata em prol da mãe e do bebê, caso o resultado for positivo.
Lêda Gonçalves
Repórter

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/ce-registra-108-obitos-maternos-por-ano-1.1280135

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