Os profissionais do CE serão
capacitados por profissionais do Sebrae para que produzam peças específicas.
Meruoca Os artesãos de todo
o Estado começaram a receber, na última semana, o curso de capacitação
ExporArte, que visa a preparação dos grupos para a Copa das Confederações e
Copa do Mundo de 2014. A primeira parte do treinamento foi voltada para o
design e desenvolvimento das coleções.
A próxima etapa está marcada para 3 de
setembro e trabalhará a gestão e excelência no artesanato. Na Zona Norte do
Ceará, os Municípios participantes são Meruoca, Pindoguaba e Cruz.
A ExporArte faz parte do
programa Sebrae de Artesanato Ceará Original. Segundo o gestor de artesanato do
órgão, responsável pela região Norte, Tomaz Machado do Carmo, durante o projeto
serão trabalhados cursos que capacitarão os artesãos em termos de mercado,
associativismo e empreendedorismo.
"Isso acontece para que
eles possam obter os melhores resultados na comercialização dos seus produtos
na Copa de 2014. No fim do programa, 64 grupos deverão ter sido capacitados.
São 1.600 artesãos que atendem a cerca de 30 Municípios do Estado. Neste ano,
20 grupos serão contemplados até novembro de 2012", informa.
O projeto trabalha com
grupos produtivos de artesanatos, buscando aperfeiçoamento da técnica para a
produção de peças específicas. A Associação de Artesãos da Meruoca teve como
instrutor o designer Epitácio Mesquita Ayres Junior, que trouxe produtos que
possuem como matéria-prima principal a palha de bananeira.
Familiaridade
Conforme ele, a escolha
desse material se deu pela familiaridade que os artesãos já possuíam com a
palha. Além dela, também é usado bambu e tecido em abundância. O designer é
responsável por criar a coleção que será produzida pelo grupo Mulheres de
Fibra, que faz parte da associação. Com o nome temporário de
"Exuberância", a coleção é composta por jogos americanos, centro de
mesa, bandeja, luminária e caixas organizadoras.
"No curso, o grupo pega
cada produto, que são cinco ou seis por coleção, e o produz duas vezes. Uma das
cópias vai para a curadoria representando o grupo, e a outra fica servindo de
modelo. Esses produtos que irão para a curadoria do Sebrae e poderão ser, ao
fim do projeto, transformados em uma Casa do Artesanato, tanto que, entre os
grupos que estão sendo capacitados, foram divididas as coleções por tipologia e
produto", disse.
Epitácio afirma que a
coleção foi pensada especialmente para o público presente no Estado durante a
Copa, sendo de fácil transporte e de cunho sustentável. Segundo ele, o turista
pode esperar da coleção bastante cor e formas tropicais, além da tipologia da
Mata Atlântica.
"Nas bandejas, poderão
ser encontrados relevos que lembram a Serra da Meruoca, e nas estampas, moldes
de flores e folhas estilizados. Como somos uma região com uma pegada tropical,
as cores serão remetidas a isso", declarou Epitácio.
Matéria- prima
A presidente da Associação,
Terezinha Adelino, diz que uma das partes mais difíceis da produção é a
extração do tronco da bananeira, que será transformado em palha. A artesã a
responsável por conseguir a palha, já que traz do sítio onde mora.
Conforme ela, o tronco é
extraído após a colheita do cacho de banana, para que nada seja perdido ou
sacrificado. "Essa extração deve ser feita de uma altura de 30cm a partir
do solo, pois essa parte mais baixa não serve para o artesanato devido ao risco
de conter fungo", explica.
A artesã ainda informa que,
após a extração, o trabalho não pode ser feito de forma imediata. Depois da
peça solta, ela tem que ficar dois dias exposta ao sol. "Depois disso,
separamos a parte interna da externa e cada uma fica dois dias ao sol também,
para que estejam completamente secas. A parte que não usamos do caule, aquela
abaixo dos 30cm, recortamos e usamos de adubo na própria planta, para que nada
se perca".
A diferença entre a parte
interna e externa do tronco faz com que suas aplicações sejam especificas.
"Nós usamos a parte interna para um trançado chapado, pois ela é mais
rígida e quebradiça, o que dificulta até mesmo o manuseio da peça. Quase não
usamos essa parte, mas ela serve, principalmente, para fundos de bandejas e
objetos mais rígidos", completa Terezinha.
Já a parte externa é
utilizada na tecelagem e costura, além de crochê. Segundo a presidente, por
conta dessa função, é prioritário que se retire a maior peça possível do caule,
pois o fio deve ser preferencialmente longo, evitando emendas e problemas na
hora do acabamento.
ENQUETE
Expectativa para além do
Mundial
"O Sebrae já tem
ajudado bastante na parte de organização do meu trabalho. Dessa vez, a
oportunidade de uma renda melhor na época da Copa faz com que se tenha o
interesse de produzir o melhor possível"
MARIA DAS GRAÇAS OLIVEIRA
Artesã
"Já participei de outros
cursos que, inclusive, me possibilitaram a abertura da minha própria loja.
Estou participando desse para aprimorar uma técnica e ajudar na produção da
associação para a Copa do Mundo"
EXPEDITA DIAS DOS SANTOS
Artesã
"Nós sempre estamos
aprendendo, melhorando as técnicas do trabalho manual e a gestão. Há
expectativa de um bom aproveitamento do mercado do artesanato não só para Copa,
mas para o dia a dia e o futuro da gente"
ALOISIO PLÁCIDO DO
NASCIMENTO
Artesão
Grupo
Mulheres de Fibra ganha força em Meruoca
O grupo se destaca por produzir artesanato com a fibra de
bananeira. Apesar das dificuldades, os integrantes se reúnem na Casa do Artesão
uma vez por semana
Meruoca. Na Associação de Artesãos deste Município, o
grupo Mulheres de Fibra se destaca pelo trabalho com a fibra de bananeira e
histórias pessoais. Apesar dos problemas, as participantes sempre encontram
tempo para se reunir às quartas-feiras na Casa do Artesão. Para tanto, algumas
chegam a caminhar mais de cinco quilômetros, às vezes sozinhas e levando o
material, como Terezinha Adelino. Assim como outras integrantes, ela retira a
principal renda da família do trabalho com o artesanato.
A artesã caminha durante duas horas para poder chegar à
Casa do Artesão. Quando não está lá, ela diz que trabalha em casa até 22hs e
conta, muitas vezes, com a ajuda das filhas. "Lá em casa, somos eu e
minhas duas filhas que trabalhamos diretamente com isso. Meu filho mais novo me
ajuda, mas só quando não está estudando. Meu marido também dá uma forcinha, mas
trabalha mesmo é com agricultura", afirma.
De acordo com ela, a Associação foi um ponto importante
em sua vida. "Nós sempre trabalhamos com artesanato, mas cada uma na sua
casa, de maneira bastante rústica. Apenas há três anos conseguimos oficializar
a Associação, foi quando as coisas começaram a melhorar".
Além da oficialização da entidade, os artesãos de Meruoca
tiveram à disposição uma residência, onde funciona a Casa do Artesão, além de
máquinas apropriadas e parcerias com instituições como o Sebrae, que
possibilitam cursos de capacitação e aprimoramento.
Gestão
O artesão Aloísio Plácido do Nascimento tem como
matéria-prima principal o cipó, que utiliza para fazer esculturas. Segundo ele,
os cursos trazidos para a Associação foram de extrema importância, pois, antes,
não sabia o quanto valia seu trabalho.
"Às vezes, eu fazia obras complexas, vendia do mesmo
preço das simples e acabava perdendo, pois o que eu recebia não dava para pagar
o material gasto. Com os cursos de gestão, isso mudou", comemora.
De acordo Aloísio, a maior escultura que já produziu, uma
locomotiva, tinha dez metros de comprimento. Na época, o artesão vendeu o
objeto por R$1.500, mas, hoje, depois de ter consciência de quanto vale o seu
trabalho, venderia pelo dobro do preço.
A artesã Expedita Dias dos Santos afirma que por causa da
formalização conseguiu abrir sua própria loja e melhorar a qualidade de suas
bonecas. "Além da loja da Associação, mantenho também minha própria loja,
onde vendo minhas bonecas e brinquedos de panos. Esses são meus principais
produtos, mas também trabalho com vassouras, esteiras, bolsas e chapéus",
explica a artesã que, mesmo com 73 anos, não quer parar de aprender.
"Sempre que posso saio de casa e venho pra cá. É um hobby, ocupa a cabeça
e ajuda na economia de casa", fala.
Hobby
O aposentado José Maria de Sousa diz que chegou à
entidade depois que ela foi formalizada. Prefere aperfeiçoar as técnicas vendo
os amigos que já participaram de cursos. "Eu aprendi com a televisão. Via
os índios trançando e fazendo as coisas e repetia em casa. Depois que vim para
a Associação, aprendi a trabalhar com cipó, palmeira, carnaúba e palha de
bananeira", diz.
Ele acredita que o artesanato é um hobby e, para
mantê-lo, faz alguns sacrifícios, como sair a pé de uma localidade há quase
três quilômetros de distância e caminhar até a Associação.
Segundo o secretária de Cultura de Meruoca, Cláudia
Carneiro, o nome Mulheres de Fibra remete ao dia a dia de cada um dos
participantes. "São pessoas que batalham no seu cotidiano e encontram uma
maneira de se reunir para melhorar a técnica".
Após a oficialização da Associação e dos cursos
promovidos pelo Sebrae, os profissionais passaram a valorizar mais as produções
Eles têm à disposição uma residência onde funciona a Casa
do Artesão, além de máquinas que ajudam na fabricação dos objetos
JÉSSYCA RODRIGUES
COLABORADORA
A ExpoArte vai atender, ao todo, 1.600 artesãos que
fabricam para 30 cidades Fotos: Jéssyca Rodrigues
Mais informações:
Expoarte Sebrae Sobral Avenida Dr Guarany, 1077 Centro
Sobral/CE
Telefone: (88) 3611.8300
Copilado do Diário do Nordeste
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