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terça-feira, 17 de julho de 2018

Mortalidade infantil no Ceará volta a subir após 26 anos

Após mais de duas décadas de reduções consecutivas, a taxa de mortalidade infantil no Ceará voltou a crescer. Dados mais recentes do Ministério da Saúde revelam que, em 2016, o índice chegou a 14,3 óbitos por 100 mil nascidos vivos, enquanto, no ano anterior, totalizava 13,0 óbitos. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o crescimento pode ser atribuído à introdução do vírus zika no Ceará, que afetou, em especial, crianças. No entanto, especialistas afirmam que falta de investimentos no Programa de Saúde da Família (PSF) teve maior influência nas estatísticas.

De acordo com as informações do Ministério, em 1990, o Estado registrava 79,5 mortes por 100 mil nascidos vivos, taxa superior à nacional, que alcançava 47,1. No período de 15 anos desde a época, o índice sofreu uma queda de 83,6%. Seguindo uma tendência vista em quase todo o País, só voltou a aumentar em 2016.
Em nota, a Pasta federal afirma que o aumento registrado em nível nacional não é caracterizado como significativo e não implica em mudança no cenário de redução observado nos últimos anos. O Ministério cita, por exemplo, que o Brasil alcançou a meta de diminuição de dois terços da mortalidade infantil, prevista nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
A coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, destaca que, mesmo com o aumento, o Ceará continuou com taxa inferior à nacional, estipulada em 14,0 no ano de 2016. Segundo Daniele, a oscilação é resultado da epidemia gerada pelo vírus zika no Estado entre 2015 e 2016, que, além de ter provocado óbitos entre crianças, refletiu-se na diminuição da taxa de natalidade, a qual está diretamente relacionada à taxa de mortalidade.
Natalidade
"Por conta de todo o pânico, diante desse evento epidemiológico, tivemos redução da natalidade. Muitas mulheres esperaram até que o cenário fosse mais favorável para engravidar. Quando acontece uma redução da natalidade, há impacto na taxa de mortalidade, porque ela é o numero de mortes dividido pelo número de nascidos vivos", explica a coordenadora.
Para a professora Magda Almeida, do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), os casos de zika e microcefalia resultaram mais em sequelas do que em óbitos infantis. Na visão da especialista, as dificuldades enfrentadas pelo Programa Saúde da Família (PSF), responsável pelo trabalho de acompanhamento de gestantes e recém-nascidos, têm maior reflexo na mortalidade.
A professora ressalta que o principal obstáculo é a falta de profissionais nas equipes do programa, em especial de agentes comunitários de saúde. "Muitas equipes estão descobertas. Os agentes estão sobrecarregados e não tem como fazer a função de vigilância em saúde, que é monitorar nascidos vivos, os faltosos em vacinas, as gestantes", frisa.
Magda também salienta que, embora a crise econômica tenha aumentado a demanda na rede pública, as falhas do atendimento na atenção primária não são recentes. "Claro que a crise fez com que mais pessoas procurassem os postos de saúde, mas as equipes já estavam subdimensionadas antes disso", completa.
Fortalecimento
Daniele Queiroz, da Sesa, afirma que a qualificação da atenção primária é uma das ações da Secretaria para reverter o crescimento da mortalidade infantil. "Temos investido para que seja identificado, ainda no pré-natal, se existe algum risco, prevendo mortes infantis. Fazemos um acompanhamento das gestantes que têm risco maior e desses bebês nos primeiros meses de vida na unidade básica", diz.

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