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sexta-feira, 20 de julho de 2018

35% dos cearenses usam a internet para autodiagnóstico

É comum para muitos cearenses tirar da bolsa ou pedir aos amigos medicamentos para tratar simples dores no corpo. A automedicação é algo não recomendando por diversos profissionais e até mesmo pelo Ministério da Saúde. Em 2018, um novo desafio se apresenta na Medicina: a internet. Uma pesquisa do Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ), aponta que 52% dos cearenses têm abandonado os consultórios e dispensado a opinião do médico em tratamentos de saúde com remédios. Em contrapartida, 35% têm como hábito se autodiagnosticar em sites de buscas, como o Google, e por consequência se automedicar. No Brasil, esse índice é de 40,9%.

O estudo foi realizado em junho deste ano, com homens e mulheres, com idade a partir dos 16 anos. As entrevistas ocorreram de forma pessoal e individual, com 2.090 pessoas de todas as regiões do País, em 120 municípios. As análises de campo aconteceram em maio deste ano, com cotas controladas de acordo com Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em aspectos como gênero e idade. A margem de erro máxima para a amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.
Da região Nordeste, a pesquisa entrevistou 556 pessoas. Do total dos entrevistados, o estudo apontou que 64,38% não costumam realizar buscas em sites para se informar sobre sintomas de saúde simples, enquanto 35,62% afirmaram que utilizam a internet para se medicar.
O Instituto também questionou os meios de informação que os pacientes levam em consideração na hora de se medicar. Os pesquisadores contabilizaram que 47,57% informaram que levam em conta a opinião de médicos na hora de tomar remédios e 11,95% indicações da família. O profissional de farmácia aparece em terceiro lugar com 13,33% dos entrevistados.
Diferente do que pensavam os pesquisadores, a avaliação nacional, destacou que quem mais realiza o autodiagnóstico pela internet são pessoas com alto poder aquisitivo é com bom nível de escolaridade, diz Marcus Vinícius, diretor de pesquisa do ICTQ. "Entre as capitais, os índices são similares, como em Fortaleza e Recife. Existe um comportamento próximo de consumo na região Nordeste. A diferença maior é entre pessoas que moram na Capital e Região Metropolitana. Você percebe que existe 10 pontos percentuais de diferença. As pessoas que estão nos grandes centros têm mais acesso às informações, o que facilita o contato com os medicamentos".
Quanto maior o grau de instrução, maior é o índice de pessoas com o hábito de se autodiagnosticar pela internet. Chega a 63,84% entre os brasileiros de nível superior contra 20,21% dos brasileiros que apresentam o nível fundamental.
Buscas
No site de pesquisas Google, os termos juntos "consulta médica online" somam mais de 24 milhões de links. Os sites oferecem diversos diagnósticos rápidos. Na maioria deles, os pacientes informam, por meio de marcações, os sintomas que estão sentido. No final, o sistema diz a porcentagem da doença que o usuário pode estar acometido. "Oferecemos um apoio ao diagnóstico de doenças, que, no entanto, não substitui qualquer exame, diagnóstico ou tratamento médico", diz uma nota em um dos sites.

FIQUE POR DENTRO

Medicamentos sem prescrição geram economia
O uso de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) gera uma economia de cerca de R$ 400 milhões para o sistema de saúde: para cada R$ 1,00 gasto com MIP são economizados até R$ 7,00. O dado foi comprovado pelo estudo Utilização de medicamentos isentos de prescrição e economias geradas para os sistemas de saúde: uma revisão, publicado no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde. O uso consciente dos MIPS faz parte do conceito do autocuidado, direito assegurado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e trazido para o Brasil pela ABIMIP. Foram utilizados cifras de consultas ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS) e informações de consumo de MIPs no País.

Entrevista com Rosa Freitas*

"Não existe prescrição sem contato com paciente'"
É possível prescrever remédios pela internet?
Não é possível. A prescrição precede a uma anamnese de um paciente. O profissional de saúde precisa ver o estado geral do paciente. A anamnese não pode ser feita online. O paciente precisa ser visto e auscultado. Os profissionais, geralmente, avaliam o olhar, paladar e demais partes do corpo que tenham relação com causas de reclamação de dores. A lei não permite um anamnese virtual.
Qual o prejuízo para o corpo caso o paciente tome uma dosagem errada de uma medicação?
Essa dose errada, seja pouca ou uma superdose, pode não resolver o problema. Como ela está sendo feita de forma online, o paciente pode até imprimir algum arquivo, mas não é uma prova jurídica do que você está passando por uma consulta, mesmo com assinaturas eletrônicas. Na literatura clínica, farmacêutica e de atendimento não cabe esse serviço online. É preciso medir a temperatura, por exemplo. Se ele se queixa de dores, é preciso investigar edemas e como ocorreu.
É correto um profissional de farmácia criar sites que façam diagnósticos?
Não. No Conselho Regional, nós remetemos denúncias ao Conselho Federal. Por vias jurídicas, entramos com uma ação contra esse site desqualificando o serviço. É uma afronta e um risco à sociedade. É uma missão na formação do profissional a preservação do paciente. É de responsabilidade nossa não compactuar isso. Recebendo denúncias remetemos ao Conselho Federal que vão às vias de fato, por meio de promotorias, para que esses sites sejam retirados do ar.
O que diz a lei sobre prescrição?
O artigo 4º da Resolução 586/13 estabelece que o ato da prescrição farmacêutica poderá ocorrer em diferentes estabelecimentos farmacêuticos, consultórios, serviços e níveis de atenção à saúde, de modo que possa haver uma interação entre farmacêutico e paciente a fim de que se possa ter uma semiologia e anamnese precisa. A existência de sites de desvirtua o propósito.
*Assessora Técnica da Diretoria do Conselho Regional de Farmácia

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