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terça-feira, 29 de maio de 2018

800 mil flores no lixo; até 100% de perda em frutas

A greve dos caminhoneiros se alonga, chegando ao nono dia nesta terça-feira (29). Com o passar do tempo, setores - em especial de produtos perecíveis, como flores e frutas - experimentam prejuízos ainda mais amargos. Também impactados com o desabastecimento de insumos e estoques, construção pesada e comércio também freiam, em outra frente, suas obras e vendas.


No caso das flores, é forte o impacto com a crise do desabastecimento nacional. Na Fazenda da Reijers, em São Benedito, a produção de oito dias (800 mil hastes) foi jogada fora por não haver ainda nenhuma alternativa viável de escoamento.
O prejuízo para a empresa está sendo calculado, mas o principal afetado é o consumidor, considera o gerente geral da Fazenda Reijers em São Benedito e do Norte/Nordeste, Márcio Maradona. Maio, mês das noivas, muitas festas planejadas com até dois anos de antecedência foram canceladas por falta de flores para decoração, relata.
"Está acontecendo muito isso e nossa produção está toda parada desde quinta-feira (24). Estamos fazendo colheitas internas normalmente, mas falta insumo como fertilizantes e adubos para o plantio. E vai faltar embalagem", afirma.
Dia dos Namorados
Como o ciclo da flor é de 45 dias, a produção para o Dia dos Namorados já foi providenciada e está garantida. Ao todo, serão de 150 mil a 170 mil hastes produzidas, 50% a 60% a mais que a produção normal.
O temor de Maradona é o prolongamento da greve impedir ou prejudicar a plena distribuição do produto. Hoje, a fazenda atende todas as capitais do Nordeste e parte da região Norte, com destaque no Pará.
"Hoje, está tudo normal, todo mundo trabalhando, mas não sei como vai ficar se a greve continuar". Apesar do temor, estima que o fornecimento do produto se restabelecerá rapidamente, tão logo os caminhões fiquem livres para cruzar o País. A depender da praça. "Em Fortaleza e Teresina, por exemplo, já daria para resolver o fornecimento em 24 horas. Agora, em Recife, João Pessoa e Natal, este tempo aumentaria para 48 horas, em média", destaca.
Com o atraso no plantio e o descarte de flores, a empresa estima resultados negativos dentro de 45 dias.
Fruticultura
Na edição de 26 de maio, o Diário do Nordeste publicou que 85% das cargas de fruticultores estavam presos nas estradas. Sem caminhões para finalizar as antigas entregas e dar fluxo ao escoamento de produtos frescos, empresas já registram perda de 100% de sua produção.
"Algumas atividades estão jogando toda a sua produção fora, como é o caso de laticínios, bananas, flores, mamão, hortaliças... Inclusive, uma parte da nossa produção de melão e pimentão nem está sendo colhida", lamenta o CEO da Itaueira Agropecuária, Tom Prado, para quem a greve dos caminhoneiros já deveria ter sido finalizada na última sexta-feira (25), quando do primeiro recuo do presidente Michel Temer ante às reivindicações dos caminhoneiros.
Normalização
Mesmo com a liberação das vias em todo o País, Prado estima que a produção e distribuição dos produtos da Itaueira, que engloba ainda melões rei e melancias baby, sejam normalizadas dentro de um prazo mínimo de 15 dias. "(O fluxo normal de atividades) é um ciclo que depende da velocidade de todo o setor produtivo e não só dos caminhoneiros. É necessário esvaziar as carretas cheias e, mesmo com um trabalho extra de 24 horas, não vai ser possível encher um supermercado (de produtos) de uma vez".
Maior produtora e exportadora brasileira de melão e melancia, a Agrícola Famosa também iniciou esta semana com a produção "zerada", afirma o sócio-diretor da empresa cearense, Carlo Porro. Isto porque, na semana passada, mil toneladas de frutas da empresa ficaram presas em carretas pelas estradas.
"A situação continua preocupante. Devemos demorar no mínimo 10 dias para adequar tudo e começar a voltar (a produzir) normalmente. Isto, sendo otimista", ressalta.
Para players da produção agrícola, o setor não está sendo ouvido e é um dos mais prejudicados com a greve. "Notoriamente, a produção agrícola está pagando uma conta maior e, sem liberação (das vias), não há mais o que fazer. A própria indústria que faz nossa embalagem não vai ter mais condições de produzir porque não tem matéria-prima", complementa o CEO da Itaueira, lembrando que os prejuízos ainda estão sendo calculados.
Tendo em vista a lei da oferta e da procura, alguns produtos inevitavelmente serão onerados. Isto porque, antes mesmo do varejista, distribuidores e produtores vão repassar os custos do prejuízo. "É previsível que haja o aumento de preços de algumas culturas na gôndola porque o setor produtivo não vai arcar com 100% dos custos. E a sociedade acaba pagando por tudo", critica Tom Prado.

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