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quinta-feira, 11 de maio de 2017

Lula diz a Moro que processo é ilegítimo e nega denúncias

Curitiba. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ontem, durante um interrogatório de quase cinco horas ao juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, que o processo que atribui a ele a propriedade de um apartamento no litoral de São Paulo é ilegítimo e a denúncia, uma farsa.
"Como eu considero esse processo ilegítimo e a denuncia uma farsa, estou aqui em respeito a lei, em respeito à nossa Constituição, mas com muitas ressalvas com o comportamento dos procuradores da Lava Jato", disse Lula no início do depoimento.

Lula negou categoricamente as acusações de corrupção e denunciou sofrer uma perseguição judicial em um comício posterior, falando a milhares de simpatizantes. O juiz Moro assegurou que o ex-presidente, que governou o país entre 2003 e 2010, seria respeitado como todos os acusados ouvidos por ele e garantiu que não seria preso.
"O senhor ex-presidente vai ser tratado com o máximo respeito, como qualquer acusado e igualmente pela condição do cargo que o senhor ocupou no passado, o senhor ex-presidente pode ficar absolutamente tranquilo quanto a isso", afirmou o juiz a Lula, destacando que "não tem qualquer fundamento" os boatos sobre uma prisão.
"Esse interrogatório é um ato normal do processo", reforçou Moro. "Queria deixar claro que, apesar de algumas alegações nesse sentido, da minha parte não tem qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente, quem vai definir o resultado são as provas e a lei".
"Eu tinha confiança disso", reagiu Lula.
O juiz Sérgio Moro tentou determinar se Lula é proprietário de um apartamento tríplex no balneário do Guarujá, em São Paulo, que teria recebido da empreiteira OAS em troca de vantagens indevidas.
"Nunca solicitei, não recebi, não paguei nenhum tríplex e nunca recebi esse apartamento", afirmou Lula durante o depoimento. "Nunca tive a intenção de adquirir o tríplex".
Lula confirmou que visitou o triplex porque a OAS queria vendê-lo para sua família, mas afirmou que não orientou qualquer reforma no imóvel.
"O que eu sei que, no dia que eu fui, é que vi muitos defeitos no prédio, defeitos de escada, defeitos de cozinha".
"Eu coloquei 500 defeitos no apartamento. Quando eu fui ao apartamento eu percebi que aquele apartamento era praticamente inutilizável por mim pelo fato de eu ser uma figura pública e eu só poderia ir naquela praia na segunda-feira ou na quarta-feira de cinzas".
Moro questionou o ex-presidente sobre um documento de adesão de uma unidade duplex no prédio no Guarujá que acabou se transformando no triplex. O documento foi encontrado pela polícia na casa de Lula e não está assinado.
"Então, não está assinado, doutor... Talvez quem acusa saiba como foi parar lá. Eu não sei como está um documento lá em casa, sem adesão, de 2004, quando a minha mulher comprou o apartamento (da Bancoop) em 2005".
Em outro trecho do depoimento, Lula negou ter orientado o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro a destruir provas de supostos pagamentos de propina ao PT. "Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer".
"Vítima"
O ex-presidente afirmou, em suas considerações finais no depoimento, que está sendo julgado, na realidade, "porque já tinham tese anterior de que o PT era uma organização criminosa". Lula citou, para justificar seu argumento, o Power Point, apresentado por promotores do Ministério Público Federal (MPF), em que era apontado como o principal responsável pelo esquema de corrupção deflagrado pela Lava Jato. "Estou sendo vítima da maior caçada política que um político brasileiro já teve", disse o ex-presidente.
"Sou julgado pela construção de um Power Point mentiroso, aquilo é ilação pura", disse antes de ser interrompido por Moro. O juiz frisou que o depoimento deveria ter relação com o processo, e não um "discurso político".
Durante sua fala, Lula reafirmou que é vítima de um processo de criminalização pelo que fez no governo. "Tentam me incriminar, independentemente de que em 2 anos eu prove minha inocência". Capas de revistas, assim como volume de matérias positivas e negativas nos jornais, foram usadas como exemplo deste processo.
Neste momento, Moro questiona se tal processo seria encampado pela imprensa ou por acusadores. "Falo dos vazamentos que saem para a imprensa", explicou Lula. Moro, então, salientou que "não é a imprensa que faz a acusação no processo". Além disso, Lula afirmou que acreditava merecer "mais respeito" durante o processo.
"Algumas pessoas são acusadas e ninguém é atacado 10% do que eu sou atacado", declarou. "Quero que se pare com ilações e digam qual crime eu cometi".
Desavença
Ao falar na abertura do depoimento do ex-presidente, Moro disse que não tem desavença pessoal com o ex-presidente e frisou que a acusação é feita pelo Ministério Público Federal.
"O que vai determinar o final são as provas e a lei. Eu sou o juiz. Estou aqui para ouvi-lo e proferir julgamento ao final do processo", disse Moro.
Retrospectiva
Entenda o caso do tríplex do Guarujá (SP)
1996- Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo é criada
2006 - Lula declara ter pago R$ 47 mil em sua declaração eleitoral de bens por um apartamento em Guarujá da Bancoop
2007 - MP começa a investigar desvios na cooperativa. A suspeita é que valores foram para campanhas do PT
2009 - Falida, a Bancoop transfere seus empreendimentos para a OAS
2011 - Cooperados pagam taxas abusivas e perdem seu investimento
2012 - OAS compra de volta um apartamento de Marice Corrêa Lima, cunhada do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, um ano depois pelo dobro do preço
2013- OAS deixa de entregar 112 de 336 unidades do condomínio na Casa Verde, mesmo depois de pedir um financiamento de R$ 13 milhões para terminar a obra
2014 - Marisa Letícia e Fábio Luis participam de vistoria da obra
2015 - Lula declara no Imposto de Renda a propriedade de cota-parte do ap. 141 no condomínio Solaris. Dona Marisa desiste do triplex
2016 - Fotos mostram visita de Lula ao apartamento acompanhado pelo presidente da OAS, Leo Pinheiro, em 2014. Em março, MP-SP apresenta denúncia contra o ex-presidente e pede sua prisão.
Defesa
"A verdade é a seguinte: não solicitei, não recebi, não paguei e não tenho nenhum tríplex. Nunca solicitei e nunca recebi apartamento. Imagino que o MP apresente as provas"
"Eu repito a mesma coisa: a dona Marisa não me disse no mesmo dia que ela foi lá, que ela não ia ficar com a apartamento. Acho que ela tomou a decisão de não comprar"
"Se as pessoas que estão fazendo essa denúncia querem saber como se governa, elas têm de sair do Ministério Público, entrar no partido, disputar as eleições e ganhar"
"Se um dia eu tiver cometido um erro, não quero ser julgado apenas pela Justiça, mas antes pelo povo brasileiro"
Luiz Inácio Lula da Silva
Ex-Presidente da República

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