Seja bem vindo...

Páginas

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Bolsa desaba, negócios param; perda de 8,8% é pior desde 2008

São Paulo. A crise que atingiu em cheio o governo Michel Temer fez os mercados brasileiros acionarem travas de proteção contra fortes volatilidades ontem (17). Os mecanismos, porém, foram insuficientes para evitar que a Bolsa tivesse a maior queda em quase nove anos.
A Bolsa brasileira desabou 8,83%, atingindo 61.575 pontos, depois de acionar, pela primeira vez desde 2008, a trava que interrompe seus negócios em caso de forte instabilidade. Essa foi a maior queda desde 22 de outubro de 2008, quando o Ibovespa recuou 10,18%. Foi também o menor patamar desde janeiro deste ano, quase anulando os ganhos obtidos no acumulado do ano.
O pânico nos mercados foi uma reação à notícia de que o presidente Michel Temer foi gravado sugerindo a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. A informação foi dada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal "O Globo", e confirmada pela reportagem.
Parada
Pela manhã, a Bolsa brasileira acionou o circuit break quando o Ibovespa caía 10,47%, aos 60.470 pontos. O circuit break é uma ferramenta acionada quando o índice Ibovespa tem variação negativa de 10% em relação ao fechamento anterior. A última vez em que a Bolsa havia recorrido ao mecanismo tinha sido justamente em 22 de outubro de 2008, quando o Ibovespa recuou 10,18%.
As ações da Petrobras chegaram a cair 20%, enquanto os papéis do setor financeiro, que tem maior peso no índice, recuaram quase 20%. Os negócios ficaram interrompidos por 30 minutos e retomados às 10h50. O mecanismo havia sido adotado pela última vez em 22 de outubro de 2008, quando a Bolsa havia oscilado -10,18%.
Renúncia
A Bolsa chegou a esboçar uma melhora por volta de 15h, após o colunista Ricardo Noblat, do jornal "O Globo", dizer que Temer renunciaria no pronunciamento que faria às 16h.
Em seu discurso, porém, Temer descartou deixar o cargo, o que fez o Ibovespa aprofundar a queda novamente.
"O mercado esperava uma renúncia que não veio ou uma fala mais contundente. Mas o Temer manteve aquela história de que há uma conspiração contra ele, mas não diz de onde vem a conspiração. Foi um comunicado frágil para o que o mercado esperava", ressaltou Alvaro Bandeira, economista-chefe do Home Broker Modalmais.
No dia, as estatais tiveram as maiores quedas do Ibovespa. Os papéis com direito a voto da Eletrobras caíram 20,97%, enquanto as mais negociadas fecharam em baixa de 16,96%. As ações do Banco do Brasil se desvalorizaram 19,91%. Os papéis mais negociados da Petrobras recuaram 15,76%, para R$ 13,15, e as com direito a voto perderam 11,37%, para R$ 14,27. As ações mais negociadas da mineradora Vale subiram 0,39%, a R$ 25,54, e as com direito a voto se valorizaram 0,07%, para R$ 26,86.
O dia não foi um desastre para todas as ações do Ibovespa. Os papéis de exportadoras conseguiram fechar em forte alta, impulsionados pela valorização do dólar. As ações da Fibria, de celulose, subiram 11,48%. Os papéis da Suzano se valorizaram 9,86%, Klabin avançou 1,64% e Embraer teve alta de 2,67%.
Prejuízo
O valor de mercado das empresas listadas na Bolsa brasileira diminuiu em R$ 219 bilhões ontem, após as denúncias contra o presidente Michel Temer, de acordo com dados da Economatica. Considerando apenas as empresas do Ibovespa, índice de referência da B3, houve perda aproximada de R$ 195,8 bilhões em valor de mercado.
Juros
A instabilidade também afetou o mercado de juros. Os contratos mais negociados passaram a prever queda menor da taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), no fim de maio.
Antes da crise que atingiu o governo, o mercado trabalhava com um corte de 125 pontos-base a 150 pontos-base. Agora, passa a ver uma queda menor na taxa Selic, de apenas 75 pontos-base, o que levaria o juro básico a 10,50%. "Todo mundo apostava em juros para baixo. Agora, não sei se vai ter corte de juros nesta reunião ou se o Banco Central vai esperar o cenário se definir", avalia Lucas Marins, analista da Ativa Investimentos.
O contrato de juros futuros mais negociado, com vencimento em julho de 2017, subiu de 10,361% para 10,800%. O contrato com vencimento em janeiro de 2018, que indica a perspectiva para a Selic no final deste ano, avançou de 8,975% para 10,075%. A instabilidade gerada nas taxas de títulos públicos fez o Tesouro cancelar os leilões previstos para essa quinta-feira.
Fique por dentro
Entenda o que é circuit breaker
O circuit breaker é um mecanismo disparado pela Bolsa para interromper o pregão sempre que ocorrem oscilações muito bruscas e atípicas no mercado de ações. Toda vez que isso acontece, esta ferramenta é acionada para amortecer e rebalancear as ordens de compra e venda dos investidores e proteger o mercado da volatilidade. Em seguida, os negócios são retomados. Os negócios são interrompidos por 30 minutos quando índice Bovespa atinge o limite de queda de 10% em relação ao fechamento do dia anterior.
Na reabertura dos mercados após o circuit breaker, se a queda no índice persistir, os negócios podem ser interrompidos novamente quando a baixa chegar a 15% em relação ao fechamento da véspera. A paralisação também ocorre em todos os mercados acionários. Se o pregão for retomado após uma hora e, ainda assim, a Bovespa recuar mais de 20%, a Bolsa poderá determinar a suspensão dos negócios em todos os mercados por prazo definido a seu critério, devendo comunicar sua decisão ao mercado.
Os negócios não podem ser interrompidos na última meia hora de negócios. Mas se houver o circuit breaker na penúltima meia hora do pregão, o horário será prorrogado por no máximo mais 30 minutos, sem interrupções, para garantir um período final de negociação de 30 minutos.
A última vez que o circuit breaker foi acionado foi em 22 de outubro de 2008, quando a Bolsa caiu 10,18%. Em outubro daquele ano, o pregão da Bovespa foi interrompido por quatro vezes durante meia hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário