Seja bem vindo...

Páginas

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Serviços puxam e PIB cearense despenca 5,5% no 1º trimestre

Pela primeira vez em pelo menos cinco anos, a economia cearense iniciou o ano em queda. O Produto Interno Bruto (PIB) relativo ao primeiro trimestre de 2016 teve recuo de 5,51% frente a igual período de 2015. Essa é a primeira queda no indicador registrada de janeiro a março desde 2011, quando teve início a nova série histórica considerada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), que divulgou as informações ontem.

Esse também foi o quarto trimestre consecutivo de queda no PIB, seguindo-se às retrações do segundo (-5,69%), terceiro (-8,60%) e quarto (-7,40%) trimestres de 2015, de acordo com cálculos revisados pelo Ipece. No acumulado dos últimos 12 meses, a retração é de 6,8%. O primeiro trimestre do ano passado permanece até agora como o último em que houve crescimento do PIB (0,92%).
O recuo de 5,51% no Ceará foi mais intenso que a média nacional (-5,4%), mas representa a terceira menor queda em comparação a sete estados que já divulgaram seus indicadores. Na Bahia, houve queda de 3,7%, e no Rio Grande do Sul, a retração foi de 4,3%.
"Em, por exemplo, Pernambuco, que tem uma estrutura produtiva semelhante à do Ceará, houve uma queda de quase 10%. Em São Paulo (-6%), houve uma queda muito forte. Em Minas Gerais (-5,6%), também", destaca o diretor geral do Ipece, Flávio Ataliba. O pior resultado no período foi atingido pelo Espírito Santo (-14,1%).
Maior impacto
O setor que puxou a queda do PIB no início do ano foi o de serviços (-5,21%), que "representam mais de 70% da economia do estado. Quando o setor cai, isso é um destaque para a economia como um todo", diz o analista de politicas públicas do Ipece, Alexander Cavalcante.
Dentre os segmentos do setor, a maior queda foi sentida no comércio (-9,45%), impactado pela alta inflação, pelo encarecimento do crédito e aumento do desemprego, avalia Cavalcante. Também sofreram recuos significativos os segmentos de transportes (-6,9%) e intermediação financeira (-6,65%), atividade tipicamente exercida por bancos.
Indústria
A indústria do Ceará sofreu um recuo de 8,35% no primeiro trimestre deste ano. O segmento de transformação - que inclui a produção de itens como calçados, alimentos e bebidas, diretamente ligados ao consumo das famílias - teve queda no PIB de 10,01%. A construção civil respondeu por uma retração ainda maior (-13,1%), refletindo a redução de empregos e de lançamentos no segmento, avalia o analista de politicas públicas do Ipece, Witalo Paiva.
No setor da indústria, o destaque positivo ficou por conta do segmento de eletricidade, gás e água (12,51%), em função principalmente da forte produção de energia eólica, que passou a ser considerada no cálculo do PIB. "Nós temos uma termelétrica no Pecém que estava acionada devido à crise hídrica nas regiões produtoras na Bahia, no Sul e no Sudeste", acrescenta Paiva.
A agropecuária foi o único dos três setores da economia que registrou variação positiva (8,91%), mas é o que possui menor peso na economia cearense. Influenciou no crescimento as estimativas coletadas de produtores pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com relação à produção de grãos no Ceará em 2016, que são tradicionalmente otimistas nos primeiros meses do ano. "Outro componente é a pecuária. A despeito da crise hídrica, você tem um crescimento na produção de leite. Também aumenta a produção de ovos e de aves", acrescenta Witalo Paiva.
Para os próximos meses, o Ipece espera melhora no PIB do Ceará. "A gente acredita que o novo cenário político traga menos incertezas para a economia, que as pessoas passem a voltar a consumir e as empresas passem a investir", prevê ele. Desconsiderando-se os dados divulgados ontem, a previsão mais recente do Ipece para o fechamento do PIB em 2016 é de queda de 2%. No ano passado, segundo o Instituto, houve retração de 5,3%.
Mudanças
Os dados divulgados ontem vieram com mudanças. Antes, o Ipece considerava o ano de 2003 como o início da série do PIB trimestral. Agora, vale o período a partir de 2011. Além disso, o Instituto revisou os cálculos já divulgados a partir daquele ano, incluindo, por exemplo, segmentos como o de energia eólica.
O QUE ELES PENSAM
Ambiente econômico afetou resultado
"Ainda não temos caracterizado uma volta dos investimentos. Sabemos que os investimentos foram interrompidos por conta do ambiente econômico e de uma incerteza para a instabilidade política. Natural que, com a dificuldade para resolver esses problemas, os investidores também tivessem mais cautela. Mas as perspectivas não são tão ruins, principalmente, daqui a um ano e meio. No segundo semestre, o preço das commodities deve aumentar, e com o resultado das propostas do governo devemos ter um cenário bom".
Carlos Manso
Assessor econômico da Fiec
"Isso não é verdade. Ainda não houve plantio. Se essas informações fossem do segundo trimestre, com certeza não teria esse número de 8%. Afirmar que uma previsão feita no primeiro trimestre desse ano se confirmou é desconhecer que nós estamos no quinto período de seca. Houve corte de água para agricultura irrigada e foram reduzidas as outorgas - algumas até eliminadas. Apicultura também foi abalada. O que é que faz no nosso setor se desenvolver? Chuvas, mas não tivemos".
Flávio Saboia
Presidente da Faec
"O principal indicador para o setor de serviços no Ceará é a pesquisa de serviços do IBGE e o PIB mostrou muito aderência a ela. O principal item é o relacionado à família e houve uma mudança de comportamento do consumidor de buscar opções mais baratas que impactou os negócios. Já o turismo sofreu um período de sazonalidade nesse tempo e teve um início retardado das atividades, talvez até por conta das Olimpíadas. Mas há uma expectativa grande de como vai ser essa mudança no semestre para avaliar melhor o ano"
Alex Araújo
Diretor da Fecomércio-CE

Nenhum comentário:

Postar um comentário