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terça-feira, 19 de julho de 2016

Correios podem pagar multas de até R$ 11 mi

Juazeiro do Norte. Há quatro anos, o universitário Mário Leal Custódio, 23, encontrou, na internet, uma forma de economizar. Os produtos eletrônicos, que antes eram adquiridos em lojas do Cariri, passaram a ser comprados em sites especializados, com descontos de até 20%. Segundo conta, o e-commerce (via redes sociais para compra e venda) poderia ser uma alternativa ainda melhor, não fosse os inúmeros atrasos na entrega das correspondências.

A demora na prestação do serviço por parte dos Correios está generalizada no Interior e na Capital. Em Fortaleza, o Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon) investiga irregularidades e inconstâncias nas entregas. O que pode, se permanecer, resultar em multa de até R$ 11 milhões para a estatal.
A frustração na demora na entrega dos Correios é motivo de protestos de muitos. O fiscal de obras Robério Ferreira Menezes é outro que, assim como Mário, lastima-se da falta de eficiência por parte da empresa. Há 40 dias ele espera a chegada de um HD comprado no dia 26 de maio. "O prazo dado pela loja virtual era de 20 dias, já está com o dobro do tempo e nada de receber o produto. O que complica", disse. A economia, superior a R$ 100, se comparado aos preços verificados nas lojas de Juazeiro do Norte, já não está compensando.
"O barato, nesse caso, vai sair caro. Eu preciso do HD para trabalhar e até agora estou sem saber quando irei receber", reclama. Casos como os de Mário e Robério se multiplicam por todo o Estado. Para atestar o tempo de entrega de algumas correspondências, o Diário do Nordeste enviou, de Fortaleza, cartas para quatro cidades do interior: Banabuiú, Sobral, Iguatu e Juazeiro do Norte. O mesmo foi feito destas cidades com envio de correspondências para a capital cearense. Todos os envios aconteceram às 12 horas do dia 22 de junho.
Extrapolação
As postagens, com prazo de entrega de dois a cinco dias, chegaram à redação do jornal uma semana após o envio, ou seja, fora do prazo estipulado. No Interior, a entrega das correspondências postadas na agência do Dionísio Torres com destino a Sobral, Iguatu e Juazeiro também excederam o prazo em três dias. Já para Banabuiú, a demora foi bem maior. A carta chegou na terça-feira, dia 5 de julho, 13 dias após o envio. Neste caso, a justificativa pode estar atrelada à insegurança.
O município, situado no Sertão Central, está sem sua agência dos Correios desde o último dia 13 de maio, quando esta foi explodida por assaltantes. De forma provisória, a empresa está operando em uma escola, no entanto, os serviços de postagem ainda não são feitos.
A prioridade, segundo os carteiros locais, é a entrega de correspondências na modalidade "carta registrada". Já quem precisa remeter carta comum ou outra mercadoria deve se deslocar à cidades vizinhas, como Quixadá, por exemplo, cuja a realidade de atrasos é a mesma.
Vários quixadaenses sentem no bolso os prejuízos de pagar boletos e faturas com juros devido à chegada das cartas que ocorre sempre com dias e até semanas depois da data de pagamento agendada. André Firmino de Freitas, 29, relata que sempre tem que pagar além do valor habitual a fatura do plano de telefone celular que usa.
"Eu sempre pago três, quatro reais a mais. Pode não parecer muito, mas, em tempos de crise, toda economia é válida", relata. Ele conta que, no ano passado, depois que teve o nome incluso no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), perdeu a chance de uma boa negociação depois que a carta informando a proposta chegou com dez dias depois do vencimento do boleto. "Era uma dívida de R$ 850, a maior parte em juros, e na negociação veio com R$ 85 só que chegou atrasado e eu perdi a chance de resolver a questão", lamenta.
Prejuízo
A diretora do Procon Fortaleza, Cláudia Santos, lembra, no entanto, que o consumidor não pode ser penalizado, pagando juros e multas de boletos bancários entregues com atraso pelos Correios. A responsabilidade, ressalta, pela demora de correspondência não é do consumidor que, inclusive, paga pela promessa de um serviço eficiente com qualidade e rapidez na entrega.
Cláudia explica que, caso o consumidor tenha pago o boleto entregue com atraso, arcando com juros e multas, é possível pedir a devolução do valor nos órgãos de defesa do consumidor, mas apenas em situações de atraso na entrega, ressalta.
A explicação para morosidade na entrega das correspondências está no déficit de profissionais, que flutua entre 30 e 40% em cada centro de distribuição dos municípios cearenses. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Correios, Telégrafos e Similares do Estado do Ceará (Sintec), a empresa possui, atualmente, 1.353 carteiros concursados no Ceará. Deste total, 665 atuam em Fortaleza.
Em Juazeiro do Norte, cerca de oito mil correspondências deixam de ser entregues todos os dias, conforme informou um carteiro que pediu para ter seu nome preservado. Segundo ele, a defasagem de profissionais é grande. "Aqui era para ser 50 carteiros, hoje não temos nem 30 nas ruas. Uma diferença grande e que acarreta em sobrecarga e atrasos", disse.
Diante da situação, a estatal contratou, no início do mês, 60 profissionais, sob o regime de mão de obra temporária, para atuar nas entregas na capital, além de outros 38 para o Interior do Estado. Outras medidas postas em prática são a realização de horas extras, a adoção de entregas também aos sábados, o uso do apoio de empregados da área administrativa em atividades operacionais e a mobilização de mutirões nos fins de semana para triagem de objetos.
Segundo o Sintec, a insegurança também prejudica a categoria. Assim como em Banabuiú, outras agências do Estado ficaram inoperantes devido a ataques de quadrilhas. Carteiros a pé e motorizados são igualmente vítimas dos criminosos. Ainda conforme o Sindicato, quase que diariamente um carteiro é vítima de assalto no Ceará. O coordenador jurídico do Sintec, Francisco Duarte, conta que "dos 51 carteiros motorizados da Capital, apenas três ainda não foram assaltados", informa.
Para o coordenador, os carros de encomendas têm sido os principais alvos dos bandidos por serem "mais rentáveis". No entanto, estes não são os únicos. A maioria das unidades dos Correios não dispõe de medidas efetivas de segurança, mesmo prestando serviços bancários por meio de Banco Postal. A empresa, entretanto, afirma que tem uma área específica para avaliação de riscos e planejamento de estratégias de segurança.
"A empresa mantém contato direto com órgãos de segurança pública do Estado e possui parceria de nível nacional com a Polícia Federal visando a prevenção e repressão de roubos a carteiros e assalto a agências". Em relação à segurança nas agências de atendimento, a estatal esclarece que as unidades são equipadas como circuito fechado de televisão, alarme e cofre. "Parte delas também conta com a presença de vigilância armada", assegura.

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