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sexta-feira, 20 de maio de 2016

Estado supera meta de doações em 2016

Transformar a tristeza da partida em nova chance de recomeço em solidariedade a quem nem mesmo é conhecido. O estímulo constante à doação de órgãos e tecidos traz consigo a oportunidade de manter vivas pessoas que, muitas vezes, já não têm mais esperança em conseguir reparar um erro das próprias funcionalidades fisiológicas.O atual cenário da efetivação de doadores e transplantes, contudo, preocupa a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). O último levantamento comparativo realizado pela instituição aponta uma queda nas doações realizadas em todo o Brasil no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período do ano passado.
A taxa de doador efetivo, que entre janeiro e março de 2015 foi de 14,1 por milhão da população (pmp), chegou, em 2016, a 13,1 pmp, um decréscimo de 7,1%. Dessa forma, a meta para este ano, de alcançar 16 pmp, foi temporariamente prejudicada.
O Ceará, no entanto, apesar das dificuldades, tem conseguido superar a expectativa. O documento da ABTO mostra que o Estado notificou 138 potenciais doadores nos três primeiros meses deste ano, mas destes, apenas 44 tiveram os órgãos reaproveitados. Dos 94 não efetivados, 36 foram por recusa familiar. A contraindicação médica aparece como motivo para a não concretização de 34 doações, enquanto 14 não se concretizaram por paradas cardíacas, e 10 por outros motivos.
Ainda assim, a taxa de doadores efetivos ao fim do primeiro trimestre do ano totalizou 19,8 pmp. Embora o levantamento aponte um número expressivo de doações não realizadas, o Ceará se mantém com número similar de doadores efetivos em relação a 2015. Pelo menos no Instituto Dr. José Frota (IJF), maior captador de órgãos do Estado, no mesmo intervalo destacado pelo levantamento da ABTO, enquanto em 2015 foram notificados 46 potenciais doadores, com 29 efetivações, neste ano foram 47 possíveis doadores, com 30 recolhimentos de órgãos.
Apesar do cenário, a Capital sedia constantemente histórias de quem se dispõe a ajudar o próximo mesmo diante da dor da perda de um ente querido. Foi no IJF, há quase dois anos, que a dona de casa Michelle Maciel, de 38 anos, precisou tomar a decisão de permitir que os órgãos do filho fossem destinados a salvar a vida de outras pessoas. Rômulo Filho, com dois anos de idade, levou um choque ao encostar em uma extensão. Levado ao hospital ainda vivo, acabou não resistindo.
"Passamos cinco dias com ele no hospital e mesmo com a equipe fazendo tudo o que podia, ele acabou morrendo. Meu pai já passou por um problema de saúde, pelo qual se fosse preciso, eu mesma doaria. Então por que não doar os do meu filho também?", comenta.
As córneas e os rins de Rômulo puderam ser doados. Apesar da dor de perder o filho, Michelle revela que consegue encontrar felicidade ao lembrar que ele permitiu que outras vidas fossem salvas.
Conforme a coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Transplante de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do Instituto José Frota (IJF), Livianne Paiva, a forma como todo o processo é administrado pelo hospital, além da aplicação de estratégias de estímulo à doação, tem feito com que o Instituto não se enquadre no contexto nacional de queda.
Surpresa
"O nosso número de óbitos dentro do hospital diminuiu, o que é uma surpresa positiva. No primeiro trimestre de 2015, foram 390 mortes, enquanto em 2016 foram 314. Isso significa que conseguimos melhorar a nossa efetivação de doadores e otimizar o processo de doação dentro do hospital. Melhoramos nas falhas que podiam fazer com que perdêssemos possíveis doadores. Nossa equipe também está sempre se capacitando para diminuir a negativa dos familiares e incentivar a prática entre a população", conta Livianne.
As negativas no IJF representam entre 20% e 30% das famílias sondadas, índice inferior aos de outros estados, onde 45% não autorizam a retirada. Outro ponto que chama atenção no IJF é o perfil daqueles que se tornam doadores, muitas vezes vítimas da violência urbana. "São famílias que passam por uma situação que não os estimula para que sejam generosos e solidários. Por isso, se os profissionais que estão à frente do processo não tiverem essa capacidade de aproximação, a família não vai ser receptiva", diz Livianne.
Desde 2003, a Fundação Edson Queiroz realiza a campanha Doe de Coração, estimulando a doação de órgãos e tecidos. O movimento tornou-se referência em todo o Brasil, sendo reconhecido pela ABTO por conta da contribuição pela doação voluntária no Estado do Ceará.

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