Entre janeiro e o dia 8 de abril desse ano, 67 municípios do Ceará
(36,4%) estavam em situação de risco ou alerta para a dengue, segundo dados do
Índice de Infestação Predial (IIP), da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Durante o último Levantamento Rápido de Índices do Aedes aegypti, do Ministério
da Saúde, de novembro de 2015, apenas 11 se encontravam nesse cenário
preocupante.
No período, mais 56 entraram na lista amarela e vermelha
ministerial. Um salto de 509%. Sendo que o objetivo era chamar atenção dos
prefeitos e gestores da Saúde para um possível surto neste ano e evitar que
isso aconteça.
As cidades de Viçosa, Baturité, Varjota e Ipu estão entre as que mais
preocupam por alcançarem índices acima de 10%, quando o ideal é abaixo de 1%. O
indicador aponta a relação entre o número de imóveis onde foram encontradas
larvas do mosquito e o montante de residências pesquisadas em cada unidade.
São Luis do Curu, com 9.81% de Índice de Infestação Predial; Itapajé,
com 9.48% e Tauá (9.32%) também chamam atenção de infectologistas e
sanitaristas do Estado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que as
variações vão desde condições satisfatórias (inferiores a 1%), em situação de
alerta (de 1% a 3,9%) e riscos de surto (superior a 4%). Sobre isso, os
especialistas advertem que o complicador é que o mosquito Aedes também
transmite a zika e a febre chikungunya.
Assim como outros municípios, Fortaleza não divulgou seus dados e,
portanto, não teve números comparativos. Em novembro passado, o IIP da Capital
era menor que 1% ou seja, 0.86.
Capital
Mesmo com a redução, 38 bairros enfrentavam situação de alerta. Neste
ano, segundo o boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS),
os bairros Jangurussu (138), Palmeiras (65), Barroso (54), Messejana (42) e
Monte Castelo (33) lideram lista.
"Não foi por falta de avisos", garante o coordenador da Sala
de Estadual de Combate ao Aedes aegypti, Moacir Tavares. Segundo ele, a saúde é
municipal e cabe aos secretários da pasta e o prefeito colocarem em prática as
ações preventivas. "Oferecemos ajuda no sentido de ministrar palestras. O
Ministério libera verbas, mas o desenvolvimento do trabalho é de
responsabilidade de cada um", afirma.
O problema, aponta, é que essas ações são ou não são executadas de
acordo com cada gestor. "Toda vez que um prefeito sai ou secretário, as
políticas públicas são abandonadas. Estamos vivenciando não uma municipalização
da saúde ou educação, mas uma "prefeiturização", além do que não
existe na população uma cultura do fazer, ela espera pelo poder público que
sozinho não vence a guerra", ressalta.
O professor e infectologista Ivo Castelo Branco se diz
"extremamente" preocupado com o cenário atual e o que vamos
enfrentar. "Estou nessa luta há 25 anos, e a cada um deles continuamos com
a mesma conversa, com os mesmos questionamentos, e pior, sem sucesso".
No entanto, para ele, tudo que se fez e faz está correto. "Só não
podemos ficar eternamente, mas não caminha. Falta os gestores assumirem o
problema, alertarem e não esconderem da população a gravidade do que estamos
vivenciando. Além disso, com todos sabendo dos números reais, cada morador tem
que ser responsabilizado pelos focos em seus imóveis. Se a dengue está aí, a
chikungunya começa a mostrar sinais que irá fazer muitas vítimas".
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