Após 12 anos consecutivos de
crescimento, a economia cearense registrou queda de 3,48% em 2015, a primeira
da série histórica que compila dados desde 2003. Só no último trimestre do ano
passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado recuou 5,56%, segundo dados
divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará
(Ipece). No Brasil, o PIB teve retração de 5,9%, de outubro a dezembro de 2015,
e de 3,8% no acumulado do ano.
A
atividade econômica estadual caiu em todos os setores em 2015, mas quem
apresentou o pior desempenho foi o agropecuário (-24,93%), seguido pela
indústria (-4,63%) e pelos serviços (-2,40%), segmento que, até então, estava
driblando a crise.
A
retração na agropecuária foi puxada, principalmente, pela seca que se prolonga
no Ceará. A falta de chuvas trouxe prejuízos tanto para a produção de grãos e
outras lavouras quanto para a cultura de frutas. Em relação aos grãos, algodão
(-95,56%), milho (-62,37%) e fava (-52,41%) apresentaram as maiores quedas. Na
lista das frutas, foram abacaxi (-74,78%), melancia (-56,56%) e melão
(-49,87%). "Mesmo ligada à agricultura irrigada, a fruticultura vem
sofrendo os efeitos da seca. Há menos água disponível para a irrigação, e isso
afeta a produção", afirma Nicolino Trompieri, coordenador de Contas Regionais
do Ipece, lembrando que 2016 caminha para ser o quinto ano consecutivo de seca
no Estado.
Indústria
Setor
que historicamente já sofre pela falta de competitividade no País, a indústria
é a atividade que mais vem sendo afetada pela crise econômica nacional. No
Ceará, o setor recuou -4,63%, influenciado pela indústria de transformação
(-9,74%) e pela extrativa mineral (-9,27%). Os segmentos da construção civil e
de eletricidade, gás e água (que compõem os serviços de utilidade pública)
tiveram pequenos aumentos de 0,37% e 0,21%, respectivamente.
"Independentemente
da crise, existe uma questão estrutural na indústria brasileira. Mas,
atualmente, há uma combinação perversa para o setor, com inflação e
encarecimento do crédito. Um ambiente pouco propício para ao
investimento", reforça Witalo Paiva, analista do Ipece. Segundo ele, desde
o início da série histórica do PIB Ceará, em 2003, até agora, a atividade
industrial só cresceu nos anos de 2010 e 2013.
Serviços
Representando
73,8% do PIB cearense, o setor de serviços até que começou o ano de 2015 bem,
com crescimento no primeiro trimestre, mas foi afetado pela crise.
As
piores quedas foram nos segmentos de intermediação financeira (-7,73%),
transportes (-5,51%) e comércio (-2,54%). Outros serviços (2,18%), administração
pública (1,02%) e alojamento e alimentação (0,64%) foram os únicos que
registram taxas positivas no ano passado.
O que
mais surpreendeu os economistas do Ipece, no entanto, foi a retração no
comércio, cuja atividade vinha se mantendo aquecida há anos. Em 2015, o volume
de vendas do varejo ampliado no Estado - que inclui a comercialização de
veículos e material de construção - sofreu retração de 16,9%.
Segmentos do varejo
A
grande maioria dos segmentos do varejo recuou, com exceção dos artigos farmacêuticos,
médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (6,1%), tecidos, vestuário e
calçados (2,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,4%).
"Há
12 anos não havia queda significativa no varejo cearense, mas em 2015 as vendas
despencaram. A crise está afetando as decisões de compra dos consumidores,
devido à inflação e ao desemprego. Isso é uma tempestade perfeita para a
redução das vendas", diz Alexsandre Cavalcante, analista do Ipece.
O PIB
trimestral é um indicador que mostra a tendência do desempenho da economia
cearense. Suas informações e resultados são preliminares e sujeitos a
retificações, quando forem calculadas as Contas Regionais definitivas, em
conjunto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as 27
unidades da federação.
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