Genebra. O vírus da zika pode causar danos ao feto em qualquer período da
gestação, aponta um estudo realizado com gestantes do Rio de Janeiro e
publicado no sábado (5) na revista científica "The New England Journal of
Medicine".Até então, a hipótese era de que o risco fosse concentrado no primeiro
trimestre, quando há mais chances de o vírus ultrapassar a barreira placentária
e atingir o feto. Feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e
da Universidade da Califórnia, o trabalho mostrou que, na amostra estudada, de
cada dez mulheres infectadas por zika, três tiveram bebês com defeitos
congênitos.
Entre os problemas, morte do feto, restrição de crescimento, danos na
placenta e lesões no sistema nervoso central. O estudo selecionou 88 gestantes
que apresentaram sintomas de zika, como manchas avermelhadas.
Dessas, 72 tiveram a doença confirmada por exame molecular no sangue
e/ou na urina. Duas abortaram no início da gravidez. Das 70 restantes, 42 foram
acompanhadas com ultrassonografia na gestação (as outras não aceitaram essa
etapa). Elas tiveram infecção pelo zika entre a sexta e a 25ª semana de
gestação.
Nesse grupo, 29% dos fetos apresentaram problemas como restrição de
crescimento intrauterino e alterações no sistema nervoso central. Dois casos de
morte fetal foram registrados após a 30ª semana de gestação. Num deles, a
mulher foi infectada pelo zika durante a 25ª semana de gravidez. Em outro, na
32ª semana da gestação.
"É um trabalho rigoroso e muito bem conduzido. Sugere fortemente
que o zika pode comprometer o feto em qualquer período da gestação", diz o
obstetra Thomaz Gollop, especialista em medicina fetal.
"É um estudo ainda pequeno, mas é a primeira evidência de
associação (entre o zika e os casos de microcefalia). É original, de
relevância", afirmou Luis Correa, professor da Universidade Federal da
Bahia (UFBA).
Alerta internacional
A Organização Mundial da Saúde (OMS) caminha para elevar o alerta
internacional em relação ao zika hoje, quando uma reunião de emergência
ocorrerá na entidade para reavaliar o surto.
A informação foi passada por Bruce Aylward, diretor-executivo do
Departamento de Surtos da OMS, a cientistas de todo o mundo em reunião
realizada ontem, apontando para a relação entre o vírus e a microcefalia.
No dia 1º de fevereiro, a OMS declarou a microcefalia como emergência
internacional, alertando que ainda não existiam indícios claros da relação com
o zika. Aylward insiste que o cenário "mudou". Segundo ele, já são 41
países com casos de zika e o número continua a aumentar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário