A Olimpíada do Rio sofreu um corte de R$ 900 milhões no
orçamento, consequência da crise econômica do Brasil. Detalhes sobre a
medida serão apresentados nesta quarta-feira aos membros do Comitê
Olímpico Internacional (COI), em Lausanne. Os responsáveis brasileiros
pelos Jogos vão mostrar que conseguiram equilibrar os gastos com a receita, mas
tiveram de abrir mão de vários projetos. O corte nos investimentos irritaram
dirigentes de várias modalidades que serão atingidas.
No total, R$ 7,4 bilhões serão gastos no Rio, sem contar as obras de
infraestrutura da cidade. Para chegar a esse valor, porém, cerca de 12% dos
custos inicialmente programados foram eliminados.
Os principais cortes foram realizados em instalações esportivas e na
eliminação de construções temporárias. Mas outras obras foram afetadas. O
Metrô, por exemplo, vai operar apenas para levar os passageiros de Ipanema para
a Barra, local dos Jogos, sem parar em todas as estações.
A quebra de promessas da Rio-2016 em comparação ao que
estava nos planos em 2009 não foi bem recebida por organizações esportivas.
No Itaquerão, por exemplo, os cortes estão relacionados com as
estruturas que seriam montadas exclusivamente para os dez jogos dos torneios de
futebol. O hipismo também já deixou claro que quer garantias de que o evento,
em Deodoro, não será afetado.
A arquibancada flutuante na Lagoa Rodrigo de Freitas está
definitivamente descartada. Para aFederação Internacional de Remo, que
contava com os Jogos para garantir sua receita, o abandono do projeto significa
também um importante prejuízo financeiro. Haverá espaço para apenas 6 mil
espectadores, contra um plano original desenhado para 14 mil. Em Londres, a
capacidade foi de 25 mil.
Christophe Rolland, presidente da Federação Internacional de Remo, já
indicou que "entende" a crise no Brasil. Mas criticou o fato de a
decisão ter sido tomada sem consultar o grupo. Segundo ele, a entidade teria
opções a propor se tivesse sido informada antes.
Os responsáveis pelos esportes aquáticos também se mostraram irritados
com o Rio. O Maria Lenk conta com três piscinas, mas o ideal
seria ter uma a mais. As competições não devem ser afetadas. Mas o que preocupa
é a agenda para os treinos de atletas de saltos, nado sincronizado e polo aquático.
Pães de queijo
Cortes ainda foram promovidos no tratamento que os dirigentes receberão.
Coquetéis foram reduzidos e, no lugar de canapés de luxo, serão servidos pão de
queijo e alternativas mais baratas.
No "ranking" das prioridades, os atletas ficaram em primeiro
lugar, com a melhor e mais variada comida. Consultores foram contratados para
orientar a forma de preparação para atletas muçulmanos, orientais e de todas as
regiões do mundo. Mas os dirigentes terão de se contentar com a mesma refeição
do restante da força de trabalho dos organizadores.
Nesta terça-feira, uma reunião preparatória já foi realizada entre os
brasileiros e o COI, justamente para afinar o discurso para a apresentação
desta quarta. Um das cobranças que o Rio-2016 sofrerá é nas obras do velódromo.
Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, vai admitir que estão atrasadas, mas
que ainda há como recuperar o tempo perdido.
Outro ponto delicado será o do Metrô, considerado por membros do COI
como "fundamental". "Sem metrô não teremos público no
evento", alertou o vice-presidente do COI, Craig Reedie. "Não há
opção. Essa obra precisa ocorrer", insistiu.
Prevista para custar R$ 1 bilhão, a obra da Linha 4 conseguiu apenas uma
liberação de R$ 422 milhões do BNDES. O governo do Estado tentou pressionar a presidente
Dilma Rousseff para acelerar os empréstimos. Mas os valores não teriam sido
transferidos.
Hoje, ainda faltam 300 metros de túnel para serem cavados e muitas das
estações estão atrasadas. O resultado é que o metrô não deve estar operando
para a população até agosto e deve apenas servir aos Jogos Olímpicos, fazendo o
trajeto entre Ipanema e Barra.
Para driblar o problema, a linha não vai parar em todas as seis estações
previstas. Em seu site oficial, porém, os organizadores não informaram à
população a mudança.
Para o Comitê Rio-2016, "mais importante do que o valor que foi
cortado é o fato de que o Comitê tem um orçamento equilibrado e vai realizar os
Jogos sem onerar a sociedade, pois não está recebendo nenhum centavo de
dinheiro público".
Zika
Outro tema que será tratado na reunião desta quarta será o vírus zika,
com o COI cobrando ações concretas dos organizadores. Mais, uma vez mais, a
crise econômica deverá afetar os planos. As telas que serão instaladas nos
quartos dos atletas na Vila Olímpica não serão gratuitas e cada delegação terá
de arcar com os custos da compra e colocação. Nas áreas comuns, o Rio-2016
assumirá os custos.
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