Iguatu. Desde a segunda quinzena de janeiro passado que o tempo mudou no sertão
cearense. As chuvas vieram intensas e encheram açudes, riachos e rios em
algumas regiões do Estado. As precipitações permanecem neste mês, que assinala
o início da quadra chuvosa. A terra molhada, o céu nublado, "bonito para
chover", como se diz por aqui, convida o agricultor a voltar para o campo,
preparar a terra e fazer o plantio de grãos - milho e feijão.
O sertanejo se apressa porque sabe que é preciso aproveitar as primeiras
chuvaradas. Não há tempo a perder. A lição dos antepassados permanece viva na
memória de cada um. Quem planta nas primeiras chuvas tem mais chance de tirar
algum legume. Foi o que fez o agricultor Manuel Freitas, 68, do município de
Baixio. Não quis esperar pela distribuição de sementes do programa do governo
do Estado Hora de Plantar. Preparou a roça e cultivou um hectare de milho.
"Pode ser que neste ano o inverno seja mais cedo - bom em janeiro,
fevereiro e março - e depois as chuvas vão embora. Ninguém sabe e o agricultor
vive de arriscar, não há outro jeito", disse. A vida do produtor rural é
assim mesmo. É preciso sempre tentar e acreditar. "No ano passado, não deu
certo. Perdi quase tudo. Que eu me lembre, em 2014 também foi ruim. Antes
também não prestou. Neste ano estou plantando menos da metade, mas acreditando
que o tempo vai mudar, vai melhorar", contou o agricultor.
Cariri
As chuvas que caíram nos últimos dias, na região do Cariri, regaram de
esperanças quem há muito andava preocupado com o longo período de estiagem. O
agricultor José Pereira, 48, se mostra otimista com as precipitações e, ao
contrário do prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (Funceme), em que apontou 65% de probabilidade de as chuvas ficaram
abaixo da média, no período, acredita que o inverno será bom.
"Estamos muito felizes com essas chuvas, já arei minha terra e comecei
a plantar milho e feijão", conta o agricultor, que há quadro décadas
trabalha na roça. O otimismo de seu Zé Pereira é explicado, em números, pelo
gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce),
Sérgio Linhares de Cavalcante. "Em Juazeiro, choveu bem acima da média
para o mês", frisou. A distribuição das sementes já foi concluída e boa
parte dos 1.300 hectares de terra existentes para o plantio no Município já
estão arados, segundo estimativa da Ematerce.
"As chuvas pegaram todos de surpresa, realmente os agricultores não
esperavam que fosse chover tanto neste mês. Eles tiveram que correr para
preparar as terras e aproveitar o momento", pontua Linhares. Na região
ocorre com maior intensidade o plantio de milho, feijão e arroz.
Norte
Na região Norte, os agricultores do município de Granja comemoram o bom
índice pluviométrico registrado desde o último dia 20. As chuvas foram boas e a
barragem do Rio Coreaú sangrou. Nos últimos dias, as precipitações, mesmo
finas, mas persistentes, têm dado novo ânimo a quem busca seu sustento na
agricultura familiar, que tem no plantio de subsistência sua maior renda.
O homem do campo preparou a terra para receber as sementes. Milho, arroz
e feijão estão entre as mais cultivadas. Os agricultores iniciam o plantio
aproveitando o bom momento de chuvas. De acordo com Pedro Fontenele de Sousa, a
esperança voltou a bater no coração do agricultor. "Havia um desânimo, mas
o tempo mudou", disse.
Em Irauçuba, município que ao longo dos anos sofre com o avanço da
desertificação, as chuvas também têm chegado aos poucos, mas com uma certa
regularidade, trazendo esperança para cerca de oito mil pessoas que tiram seu
sustento da terra, segundo o secretário de Recursos Hídricos, Caetano
Rodrigues. "A nossa expectativa é que o Açude Missi, que abastece a
cidade, receba nova recarga".
Em Varjota, o quadro é semelhante. As chuvas ainda não foram suficientes
para a recarga do Açude Araras, que está com 6,26% de sua capacidade, mas as
chuvas que têm caído no Município, nos últimos dias, dá esperança para cerca de
600 famílias que sobrevivem da agricultura familiar. "Todos estão animados
e a maioria já fez plantio. Acreditamos que esse inverno vai vingar",
disse Rocireuda Pires, secretária de Agricultura.
Sertão Central
Até mesmo no Sertão Central, onde as chuvas têm sido reduzidas, os
agricultores preparam a terra e acreditam que em 2016 o inverno será bom,
contrariando prognóstico da Funceme. "Já são quatro anos de seca, mas
agora o tempo mudou, está bem diferente de 2015. As chuvas já começaram bem no
Sul do Estado e vão chegar aqui", disse o produtor rural Luís Viana.
Com o tempo bonito para chover, o casal José Leandro e Maria Ferreira
preparou a terra e fez o plantio de milho e feijão em uma área de meio hectare,
no distrito de Trussu, zona rural de Acopiara. Em uma área vizinha, o
agricultor Ricardo Silva conseguiu um trator e preparou dois hectares para o
plantio de milho. "Aqui todos estão animados, acreditando que teremos boas
chuvas em todos os meses do inverno. Quem dizia ou imaginava que janeiro fosse
tão chuvoso assim?", disse Leandro.
As chuvas de janeiro fizeram com que os agricultores lotassem os
escritórios da Ematerce no Interior do Ceará, em busca das sementes de grãos -
milho e feijão - para o cultivo tradicional de subsistência, sequeiro, aquele
que depende exclusivamente das chuvas. "As sementes selecionadas têm ciclo
rápido de produção", observou o gerente regional da Ematerce, em Iguatu,
Joaquim Virgulino Neto.
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