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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Tempo 'bonito pra chover' faz a alegria do povo cearense

Iguatu. Desde a segunda quinzena de janeiro passado que o tempo mudou no sertão cearense. As chuvas vieram intensas e encheram açudes, riachos e rios em algumas regiões do Estado. As precipitações permanecem neste mês, que assinala o início da quadra chuvosa. A terra molhada, o céu nublado, "bonito para chover", como se diz por aqui, convida o agricultor a voltar para o campo, preparar a terra e fazer o plantio de grãos - milho e feijão.


O sertanejo se apressa porque sabe que é preciso aproveitar as primeiras chuvaradas. Não há tempo a perder. A lição dos antepassados permanece viva na memória de cada um. Quem planta nas primeiras chuvas tem mais chance de tirar algum legume. Foi o que fez o agricultor Manuel Freitas, 68, do município de Baixio. Não quis esperar pela distribuição de sementes do programa do governo do Estado Hora de Plantar. Preparou a roça e cultivou um hectare de milho.
"Pode ser que neste ano o inverno seja mais cedo - bom em janeiro, fevereiro e março - e depois as chuvas vão embora. Ninguém sabe e o agricultor vive de arriscar, não há outro jeito", disse. A vida do produtor rural é assim mesmo. É preciso sempre tentar e acreditar. "No ano passado, não deu certo. Perdi quase tudo. Que eu me lembre, em 2014 também foi ruim. Antes também não prestou. Neste ano estou plantando menos da metade, mas acreditando que o tempo vai mudar, vai melhorar", contou o agricultor.
Cariri
As chuvas que caíram nos últimos dias, na região do Cariri, regaram de esperanças quem há muito andava preocupado com o longo período de estiagem. O agricultor José Pereira, 48, se mostra otimista com as precipitações e, ao contrário do prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em que apontou 65% de probabilidade de as chuvas ficaram abaixo da média, no período, acredita que o inverno será bom.
"Estamos muito felizes com essas chuvas, já arei minha terra e comecei a plantar milho e feijão", conta o agricultor, que há quadro décadas trabalha na roça. O otimismo de seu Zé Pereira é explicado, em números, pelo gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Sérgio Linhares de Cavalcante. "Em Juazeiro, choveu bem acima da média para o mês", frisou. A distribuição das sementes já foi concluída e boa parte dos 1.300 hectares de terra existentes para o plantio no Município já estão arados, segundo estimativa da Ematerce.
"As chuvas pegaram todos de surpresa, realmente os agricultores não esperavam que fosse chover tanto neste mês. Eles tiveram que correr para preparar as terras e aproveitar o momento", pontua Linhares. Na região ocorre com maior intensidade o plantio de milho, feijão e arroz.
Norte
Na região Norte, os agricultores do município de Granja comemoram o bom índice pluviométrico registrado desde o último dia 20. As chuvas foram boas e a barragem do Rio Coreaú sangrou. Nos últimos dias, as precipitações, mesmo finas, mas persistentes, têm dado novo ânimo a quem busca seu sustento na agricultura familiar, que tem no plantio de subsistência sua maior renda.
O homem do campo preparou a terra para receber as sementes. Milho, arroz e feijão estão entre as mais cultivadas. Os agricultores iniciam o plantio aproveitando o bom momento de chuvas. De acordo com Pedro Fontenele de Sousa, a esperança voltou a bater no coração do agricultor. "Havia um desânimo, mas o tempo mudou", disse.
Em Irauçuba, município que ao longo dos anos sofre com o avanço da desertificação, as chuvas também têm chegado aos poucos, mas com uma certa regularidade, trazendo esperança para cerca de oito mil pessoas que tiram seu sustento da terra, segundo o secretário de Recursos Hídricos, Caetano Rodrigues. "A nossa expectativa é que o Açude Missi, que abastece a cidade, receba nova recarga".
Em Varjota, o quadro é semelhante. As chuvas ainda não foram suficientes para a recarga do Açude Araras, que está com 6,26% de sua capacidade, mas as chuvas que têm caído no Município, nos últimos dias, dá esperança para cerca de 600 famílias que sobrevivem da agricultura familiar. "Todos estão animados e a maioria já fez plantio. Acreditamos que esse inverno vai vingar", disse Rocireuda Pires, secretária de Agricultura.
Sertão Central
Até mesmo no Sertão Central, onde as chuvas têm sido reduzidas, os agricultores preparam a terra e acreditam que em 2016 o inverno será bom, contrariando prognóstico da Funceme. "Já são quatro anos de seca, mas agora o tempo mudou, está bem diferente de 2015. As chuvas já começaram bem no Sul do Estado e vão chegar aqui", disse o produtor rural Luís Viana.
Com o tempo bonito para chover, o casal José Leandro e Maria Ferreira preparou a terra e fez o plantio de milho e feijão em uma área de meio hectare, no distrito de Trussu, zona rural de Acopiara. Em uma área vizinha, o agricultor Ricardo Silva conseguiu um trator e preparou dois hectares para o plantio de milho. "Aqui todos estão animados, acreditando que teremos boas chuvas em todos os meses do inverno. Quem dizia ou imaginava que janeiro fosse tão chuvoso assim?", disse Leandro.
As chuvas de janeiro fizeram com que os agricultores lotassem os escritórios da Ematerce no Interior do Ceará, em busca das sementes de grãos - milho e feijão - para o cultivo tradicional de subsistência, sequeiro, aquele que depende exclusivamente das chuvas. "As sementes selecionadas têm ciclo rápido de produção", observou o gerente regional da Ematerce, em Iguatu, Joaquim Virgulino Neto.

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