Educadores reafirmam que a pessoa que não lê ou quando o faz não
consegue entender o texto ou produzir uma análise do que leu tem dificuldade de
se relacionar, de se expressar no convívio social e profissional pela falta de
argumentos e vocabulário pobre. Nessa questão, no entanto, dados do Sistema
Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE), relativos a 2014,
apontam resultados preocupantes no desempenho dos alunos da rede pública do
Ensino Fundamental.
De acordo com a pesquisa, 38,6%, em um universo de 101.585 avaliados,
chegam ao 9º ano apresentando desempenho crítico em Língua Portuguesa e leitura
e outros 20,2% ou 20, 5 mil, num estágio ainda pior. Isso significa que 58,8%
desse total ou quase 60 mil, entre escolas municipais e estaduais, têm graves
dificuldades nesses quesitos, complicando o processo de aprendizagem e a
formação integral do cidadão.
Em comparação com anos anteriores, o cenário piorou. Em 2013, por
exemplo, os estágios entre crítico e muito crítico atingiram 56,2% dos
avaliados do último ano. No padrão intermediário, caiu de 34% para 31% em 2014.
No grau adequado para leitura e Língua Portuguesa, de 9,85% para 9,5%, ou seja,
apenas 9,7 mil dos examinados atingiram bom desempenho.
Deficiências
Os gestores das secretarias de educação do Estado (Seduc) e Município
(SME) reconhecem o problema. A coordenadora da Célula de Avaliação do
Desempenho Acadêmico da Seduc, Carmilva Flores, explica que, com o Programa de
Alfabetização na Idade Certa (Paic), houve um foco grande para que crianças
aprendessem a ler e escrever até os seis anos de idade e, agora, o investimento
maior se dará aonde foi detectado mais deficiências: entre os alunos do 5º ao
9º ano do Ensino Fundamental. "Para isso, é preciso a formação continuada,
alinhar os currículos entre todos dos estados e subsídios para que as escolas
reformem ou instalem bibliotecas e projetos de incentivo à leitura".
Professores que estão em sala de aula não escondem suas apreensões. Um
deles, da rede municipal, Eustáquio Alvarenga Júnior, explica que o hábito da
leitura influencia diretamente no cotidiano de qualquer pessoa. "Fico
assustado com o que presencio diariamente. A maioria não gosta de utilizar
dicionário, não quer ler, só se interessam na internet pelo bizarro, violento e
isso resulta em vocabulário rasteiro e escrito sofrível. Observo a realidade
até em alunos do 3º ano do Ensino Médio".
Em sua avaliação, a leitura ajuda a aumentar o vocabulário, pois
familiariza a criança com a palavra escrita e, de quebra, ajuda a fixar a
grafia correta das palavras e a construção harmônica das frases.
A pesquisadora Adriana Lima Verde, da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Ceará (UFCE), lembra que a história recente sobre
alfabetização nas escolas públicas cearenses aponta melhorias quanto ao
desempenho dos estudantes nos primeiros anos do ensino fundamental. No entanto,
os recentes resultados das avaliações externas, apesar de indicarem avanços,
ainda revelam dados alarmantes quanto à consolidação das habilidades requeridas
para uma pessoa ser considerada de fato alfabetizada.
Desequilíbrio
Para ela, no Ceará há problemas de equidade no sistema educacional. Há
escolas com resultados de avaliação do nível de leitura que merecem destaque,
enquanto há outras com desempenhos considerados abaixo da média. Há diferenças
quanto às condições de trabalho dos professores e de materiais de leitura e até
ausência de bibliotecas. O desafio para o poder público é oferecer condições de
trabalho equitativas a todos os docentes.
Mesmo com as dificuldades, a rede pública de Fortaleza investe em
projetos de incentivo à leitura. Em um deles, na Escola de Tempo Integral
Carolino Sucupira, no bairro Itaoca, os alunos são motivados a ler e apresentar
o resultado em diversos formatos como teatrinhos e contação de estória.
"Eu gosto de escolher um livro e depois contar para minhas colegas de
classe", comenta Vivian Marques, de 9 anos, da 4ª série.
Yasmin de Oliveira e Pedro Lopes também estão entusiasmados com o
projeto de literatura. "Eu vou poder levar um livro para casa e quando
acabar, trazer de volta e apresentar o que li para todos na classe",
dizem. A diretora da unidade, professora Márcia Morais, argumenta que o maior
investimento feito na escola é a formação de leitores. "É importante o
trabalho para quando essa turma chegue as séries mais elevadas não tenham
dificuldades em ler, escrever, falar e se expressar", pontua.
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