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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Ações contra mosquito são paliativas

Com os casos de microcefalia aumentando no Nordeste e a relação comprovada entre o agravo e a febre por zika vírus, eliminar o mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da infecção, virou prioridade no Brasil. No Estado, a proximidade da quadra chuvosa, quando os índices de infestação tendem a crescer, colocam as autoridades em alerta maior e a população ainda mais preocupada. 


Ações emergenciais de controle estão sendo anunciadas no País, inclusive no Ceará. Porém, na visão de especialistas, combater o mosquito, hoje, significa tentar reverter décadas de medidas insuficientes, descontínuas e paliativas.

Ontem, em reunião com o ministro-chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, e o ministro da Saúde, Marcelo Castro, em Brasília, Camilo Santana pediu apoio da União no enfrentamento ao vetor, de forma a começar o trabalho antes do período de chuvas. A ideia é promover uma campanha de mobilização, articulação e prevenção para evitar a maior proliferação do mosquito e impedir que as doenças relacionadas a ele façam mais vítimas.
Apoio
O pedido de ajuda atesta a dificuldade histórica do Estado em lidar com o Aedes aegypti - transmissor de doenças como a dengue, febre chikungunya e o zika vírus - e sua forte capacidade de adaptação e reprodução. Os órgãos de saúde estão perdendo a luta contra o mosquito e um dos principais motivos, diz o infectologista Anastácio Queiroz, do Hospital São José (HSJ), é a insuficiência das ações empregadas em seu combate até agora.
"Para eliminar o mosquito, é preciso dar respostas definitivas, mas todas ações realizadas hoje são paliativas. Precisaria realmente que acabássemos com alguns focos para sempre. Uma resposta definitiva seria, por exemplo, resolver o problema do abastecimento de água, para evitar que as pessoas armazenassem, e o problema do lixo nas ruas, para impedir a formação de criadouros", diz Queiroz.
A pesquisadora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Izabel Guedes, que estuda vacinas contra a dengue, explica que medidas como a pulverização de bairros, o uso de larvicidas e outras estratégias adotadas pelos órgãos de saúde são apenas paliativas. "Temos total consciência de que isso não vai ter eficácia. Deveríamos pensar na educação primeiro, em ensinar que o combate deve ser feito o ano todo. Depois, precisamos de ações constantes e cooperativas entre prefeituras e secretarias de saúde", opina.
Colaboração
O coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco, aponta a necessidade de colaboração da população no processo, uma vez que 80% dos focos do mosquito estão dentro das residências. "Tem que haver envolvimento da população. Mas também precisa haver estudos sobre a situação de cada local e precisa haver combate contínuo. Se não tivermos um trabalho feito initerruptamente por, pelo menos, dez anos, não chegaremos ao controle", diz.
Do outro lado, as autoridades de saúde do Estado e de Fortaleza defendem a necessidade de integração e o compartilhamento de responsabilidades entre órgãos. A supervisora do Núcleo de Controle de Vetores da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), Roberta de Paula, explica que as ações contra o Aedes aegypti são realizadas diariamente e incluem visitas de agentes de endemia casa a casa, bloqueios de transmissão e outros eixos de trabalho. Segundo ela, o órgão segue as diretrizes do Ministério da Saúde.
Diante da disseminação de epidemias envolvendo o mosquito, Roberta afirma que, para os próximos meses, deverá haver reforço das estratégias. "Estamos conversando com outras secretarias e pedindo reforço, porque o Aedes aegypti não deve ser uma responsabilidade somente da saúde", diz.
Conforme o gerente da célula de Vigilância Ambiental e Riscos Biológicos da Secretaria Municipal de Saúde, Nélio Morais, o órgão age sob orientações do Ministério. Ele diz que algumas medidas, como a territorialização dos agentes de endemias e a realização de mutirões contra a dengue, têm gerado efeitos positivos. Mas reconhece necessidade de reforço e apoio.

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