Com os casos de microcefalia
aumentando no Nordeste e a relação comprovada entre o agravo e a febre por zika
vírus, eliminar o mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da
infecção, virou prioridade no Brasil. No Estado, a proximidade da quadra chuvosa,
quando os índices de infestação tendem a crescer, colocam as autoridades em
alerta maior e a população ainda mais preocupada.
Ações emergenciais de
controle estão sendo anunciadas no País, inclusive no Ceará. Porém, na visão de
especialistas, combater o mosquito, hoje, significa tentar reverter décadas de
medidas insuficientes, descontínuas e paliativas.
Ontem,
em reunião com o ministro-chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, e o ministro da
Saúde, Marcelo Castro, em Brasília, Camilo Santana pediu apoio da União no
enfrentamento ao vetor, de forma a começar o trabalho antes do período de
chuvas. A ideia é promover uma campanha de mobilização, articulação e prevenção
para evitar a maior proliferação do mosquito e impedir que as doenças
relacionadas a ele façam mais vítimas.
Apoio
O
pedido de ajuda atesta a dificuldade histórica do Estado em lidar com o Aedes
aegypti - transmissor de doenças como a dengue, febre chikungunya e o zika
vírus - e sua forte capacidade de adaptação e reprodução. Os órgãos de saúde
estão perdendo a luta contra o mosquito e um dos principais motivos, diz o
infectologista Anastácio Queiroz, do Hospital São José (HSJ), é a insuficiência
das ações empregadas em seu combate até agora.
"Para
eliminar o mosquito, é preciso dar respostas definitivas, mas todas ações
realizadas hoje são paliativas. Precisaria realmente que acabássemos com alguns
focos para sempre. Uma resposta definitiva seria, por exemplo, resolver o
problema do abastecimento de água, para evitar que as pessoas armazenassem, e o
problema do lixo nas ruas, para impedir a formação de criadouros", diz
Queiroz.
A
pesquisadora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Izabel Guedes, que estuda
vacinas contra a dengue, explica que medidas como a pulverização de bairros, o
uso de larvicidas e outras estratégias adotadas pelos órgãos de saúde são apenas
paliativas. "Temos total consciência de que isso não vai ter eficácia.
Deveríamos pensar na educação primeiro, em ensinar que o combate deve ser feito
o ano todo. Depois, precisamos de ações constantes e cooperativas entre
prefeituras e secretarias de saúde", opina.
Colaboração
O
coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Ivo Castelo Branco, aponta a necessidade de colaboração da população no
processo, uma vez que 80% dos focos do mosquito estão dentro das residências.
"Tem que haver envolvimento da população. Mas também precisa haver estudos
sobre a situação de cada local e precisa haver combate contínuo. Se não
tivermos um trabalho feito initerruptamente por, pelo menos, dez anos, não
chegaremos ao controle", diz.
Do
outro lado, as autoridades de saúde do Estado e de Fortaleza defendem a
necessidade de integração e o compartilhamento de responsabilidades entre
órgãos. A supervisora do Núcleo de Controle de Vetores da Secretaria de Saúde
do Estado (Sesa), Roberta de Paula, explica que as ações contra o Aedes aegypti
são realizadas diariamente e incluem visitas de agentes de endemia casa a casa,
bloqueios de transmissão e outros eixos de trabalho. Segundo ela, o órgão segue
as diretrizes do Ministério da Saúde.
Diante
da disseminação de epidemias envolvendo o mosquito, Roberta afirma que, para os
próximos meses, deverá haver reforço das estratégias. "Estamos conversando
com outras secretarias e pedindo reforço, porque o Aedes aegypti não deve ser
uma responsabilidade somente da saúde", diz.
Conforme
o gerente da célula de Vigilância Ambiental e Riscos Biológicos da Secretaria
Municipal de Saúde, Nélio Morais, o órgão age sob orientações do Ministério.
Ele diz que algumas medidas, como a territorialização dos agentes de endemias e
a realização de mutirões contra a dengue, têm gerado efeitos positivos. Mas
reconhece necessidade de reforço e apoio.
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