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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

30 anos convivendo com o mosquito

Às vésperas de completar 30 anos da chegada da dengue no Ceará - o primeiro registro ocorreu em 1986 -, o Estado enfrenta uma tríplice epidemia: de dengue, da febre chikungunya e do vírus zika. O que essas três doenças têm em comum? O mosquito Aedes aegypti como vetor. Ele representa ameaça também às gestantes, por causar, através do zika, microcefalia em seus bebês, com possíveis lesões cerebrais que exigem cuidados especiais.
Com alta capacidade de reprodução, o Aedes possui grande potencial de multiplicação, sobretudo no ambiente urbano.
Existe o receio ainda de que outro surto ocorra. O epidemiologista Manoel Dias da Fonseca alerta que, teoricamente, o Aedes aegypti pode ser responsável pela urbanização de outro vírus: o da febre amarela. Depois de 30 anos convivendo com o Aedes, acrescenta que o governo e a sociedade civil precisam enfrentar, com o mesmo espírito solidário e cooperativo, nova batalha contra o mosquito, que se mostrou competente, resistente e capaz de se adaptar e sobreviver a vários inseticidas já empregados pelo Ministério da Saúde.
Falhas
Embora muitas vidas tenham sido poupadas ao longo desses anos em decorrência das ações desenvolvidas pelo governo federal, em parceria com as secretarias de saúde estaduais e municipais, o especialista comenta que é preciso reconhecer as falhas no enfrentamento desta que considera grave ameaça. Os principais desafios são: educação, comunicação, inovação tecnológica, saneamento básico e a estratégia de investimentos.
Fonseca observa que durante 15 anos, os investimentos foram concentrados em larvicidas, inseticidas, máquinas e carros para borrifar inseticidas, embora também tenha tido investimento na capacitação de profissionais para cuidar dos pacientes e contratação de agentes de endemias. No entanto, só nos últimos 10, 15 anos houve um investimento maior em inovação tecnológica: vacina e controle biológico.
"Está próximo de termos uma vacina razoavelmente eficaz contra os vírus da dengue e a experiência de controle biológico com mosquitos transgênicos na Bahia precisa ser corretamente avaliada, bem como outras pesquisas", avalia. Ele questiona, porém, como superar o costume do brasileiro de "jogar lixo no mato" e não separar e acondicioná-lo corretamente para reciclagem. "Como fazer com que a população seja responsável por sua proteção e cuide corretamente da sua casa? A estratégia dos agentes de endemias de fazer o que cada um precisa fazer na sua casa, embora necessária por um tempo, reforça uma certa passividade do cidadão", critica.
União
Fonseca afirma que a escola exerce papel fundamental no sentido de orientar para a importância de proteção ao meio ambiente doméstico e peridomiciliar. E nos grandes aglomerados urbanos, diz que o saneamento básico, fornecimento de água potável e de consumo precisam ser reavaliados e fortalecidos. "Talvez o 'odioso' (Aedes, em grego) do Egito, ao transmitir mais uma doença que afeta bebês, o zika, nos leve a reforçar a união, a solidariedade e a criatividade para, finalmente, vencê-lo", frisa.
Para Anastácio Queiroz, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), preocupa a grande dificuldade de eliminar o mosquito e, em especial, a incapacidade, até certo ponto, de reduzir a morbidade causada pelas doenças por ele transmitidas: dengue, chikungunya e zika, hoje endêmicas no Ceará.
Dentre as patologias transmitidas pelo Aedes aegypti, o especialista afirma que a dengue é a mais grave, porque tem capacidade de matar. Em 29 anos, foram mais de 550 mil casos confirmados e 590 mortes no Ceará, conforme dados do Boletim Epidemiológico da Dengue divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Agora, o País está diante do vírus zika, que causa uma doença, em geral, benigna, mas na mulher grávida tem capacidade de infectar o sistema nervoso do feto, impedindo o desenvolvimento do cérebro, causando a microcefalia.
"É preciso que todos tenhamos a clareza da gravidade do problema e o que, de concreto, podemos e devemos fazer que é eliminar os criadouros do mosquito. Mas é lamentável que as caixas d'água continuem sendo um dos principais focos, quando sabemos que uma simples tela colocada corretamente pode eliminar este tipo de criadouro de modo definitivo", critica.

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