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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Uma única corrente

Cair de divisão no futebol brasileiro pode acarretar em vários fatores negativos para o cenário futebolístico de um Estado, ainda mais quando se trata de um clube de massa. Essa é apenas uma das muitas responsabilidades que carrega o Ceará rumo ao "jogo da vida", neste sábado (28), contra o Macaé, para permanecer na Série B nacional.

É inegável que o ano tem sido desfavorável para o futebol cearense. À exceção do título alvinegro na Copa do Nordeste, o que se tem é um quase desastre, com o Icasa rebaixado na Série C; o rival, Guarani, sem conseguir sequer uma vitória na D, e o Fortaleza, outra vez, terminando o ano sem o acesso para a Segundona. Nesse contexto, a importância de o Ceará obter êxito em sua missão, neste sábado, cresce substancialmente de tamanho para a "marca" futebol cearense.
De acordo com Evandro Ferreira Gomes, consultor especialista em Marketing Esportivo, o prejuízo para o clube começa pelo fato de a Série B ser, hoje, um dos campeonatos mais competitivos do Brasil. "Quem dela participa se vangloria sempre de fazer parte do seleto clube dos 40, principais times do País, e isso não é pouco num contexto de mais de 400 equipes nacionais, a grande maioria com calendário incerto, situação econômica precária e perspectivas quase nulas de crescimento e até de sobrevivência", considera.
Para Ferreira Gomes, essa maior visibilidade acaba gerando um a espécie de corrente positiva para o clube. "O time está sempre nas TV pagas e abertas, tem seus jogos divulgados em mídia espontânea, participam dos pacotes de pay-per-view e os melhores momentos dos seus jogos são veiculados nos programas esportivos. Isso gera um sensação de aumento de autoestima para clubes com potencial de torcida e exploração de campanhas de relacionamento com rentabilidade financeira, como é o caso dos programas de sócio-torcedor e venda de produtos licenciados", acrescenta.
Mas o prejuízo, no âmbito estadual, definitivamente, não será só do clube alvinegro em caso de fracasso amanhã. "Imagino um cenário devastador para o nosso futebol, se o Ceará vier a fracassar neste sábado. Já perdemos demais com o fato de o Fortaleza não ter conseguido o acesso. Pior ainda foi o Icasa, que se desmanchou nos últimos anos. Sem falar que o caminho do retorno é íngreme. Taí a situação do Fortaleza, que não nos deixa mentir", detalha o comentarista da TV Diário, Wilton Bezerra.
Exemplo do Pará
Fred Gomes, que passou pelo Ceará na época do técnico PC Gusmão e, recentemente, ajudou o Clube do Remo a conquistar o acesso à Série C, avalia o tamanho da "encrenca" para os times locais em caso de descenso alvinegro. Ele lembra o panorama desolador que viu ao chegar para trabalhar no clube paraense, no início deste ano.
"Estudamos a situação em que o clube se encontrava. Foi preciso fazer um planejamento emergencial, pois o Remo não tinha nem divisão para jogar. Isso tudo afetava o futebol paraense, já que se trata de um clube de massa, que precisava retomar o caminho das conquistas. Daí você imagina como um clube que nem o Ceará pode ser prejudicado e, consequentemente, o futebol do Estado, visto que isso afetaria nas rendas e nas negociações com jogadores. É um cenário muito complicado", aponta.
Já o colunista Tom Barros lembra de exemplos negativos que aconteceram no futebol nordestino. "Se acontecer, não vai ser o fim do mundo. Quando Bahia e Vitória caíram para a Série C, o futebol baiano passou por maus momentos, principalmente na parte financeira, mas os dois conseguiram dar a volta por cima. O Santa Cruz foi outro que chegou ao fundo do poço e conseguiu, só agora, retornar à elite. Então vejo que a continuidade do Ceará na Série B representa pelo menos a manutenção dentro de um patamar mais confortável em diversas situações. Um exemplo é o aspecto comercial, que cai consideravelmente. Vejo, no entanto, a parte financeira como a mais prejudicada", relata.
Opinião do especialista
'Seguir na B é vital para elevar a autoestima'
O Ceará Sporting Club não pode prescindir da condição de estar na Série B e o futebol cearense como um todo, que tem a grande maioria dos seus times praticamente quebrados, tende a sofrer ainda mais consequências. Uma delas é a redução nos valores de contratos de mídia e TV, patrocínios pontuais e, principalmente, a perda da autoestima do torcedor local. Isto porque ele acaba comparando o futebol cearense com o de outros estados e se sente ainda mais inferiorizado em relação a realidades economicamente mais favoráveis e de consequente sucesso esportivo, como é o caso de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O próprio campeonato cearense fica mais desvalorizado quando suas principais equipes vêm de fracassos nas competições nacionais, que hoje preenchem mais o calendário em termos de número de meses de disputa. Isto aumenta ainda mais o número de jogos deficitários, clubes pagando para jogar e uma pequena quantidade de jogos que realmente vai despertar o interesse do consumidor, que, no fundo, age como cliente diante de um produto ruim. Enfim, o futebol cearense acaba fazendo parte de um ciclo vicioso, que pode trazer péssimas consequências na gestão dos clubes se algum plano de soerguimento em conjunto, que envolva a estrutura como um todo, não possa ser coordenado a partir de lideranças e instituições responsáveis como a FCF.
Evandro Ferreira Gomes

Consultor em Marketing Esportivo


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