Cair de divisão no futebol
brasileiro pode acarretar em vários fatores negativos para o cenário
futebolístico de um Estado, ainda mais quando se trata de um clube de massa.
Essa é apenas uma das muitas responsabilidades que carrega o Ceará rumo ao
"jogo da vida", neste sábado (28), contra o Macaé, para permanecer na
Série B nacional.
É
inegável que o ano tem sido desfavorável para o futebol cearense. À exceção do
título alvinegro na Copa do Nordeste, o que se tem é um quase desastre, com o
Icasa rebaixado na Série C; o rival, Guarani, sem conseguir sequer uma vitória
na D, e o Fortaleza, outra vez, terminando o ano sem o acesso para a Segundona.
Nesse contexto, a importância de o Ceará obter êxito em sua missão, neste
sábado, cresce substancialmente de tamanho para a "marca" futebol
cearense.
De
acordo com Evandro Ferreira Gomes, consultor especialista em Marketing
Esportivo, o prejuízo para o clube começa pelo fato de a Série B ser, hoje, um
dos campeonatos mais competitivos do Brasil. "Quem dela participa se
vangloria sempre de fazer parte do seleto clube dos 40, principais times do
País, e isso não é pouco num contexto de mais de 400 equipes nacionais, a
grande maioria com calendário incerto, situação econômica precária e
perspectivas quase nulas de crescimento e até de sobrevivência",
considera.
Para
Ferreira Gomes, essa maior visibilidade acaba gerando um a espécie de corrente
positiva para o clube. "O time está sempre nas TV pagas e abertas, tem
seus jogos divulgados em mídia espontânea, participam dos pacotes de
pay-per-view e os melhores momentos dos seus jogos são veiculados nos programas
esportivos. Isso gera um sensação de aumento de autoestima para clubes com
potencial de torcida e exploração de campanhas de relacionamento com
rentabilidade financeira, como é o caso dos programas de sócio-torcedor e venda
de produtos licenciados", acrescenta.
Mas o
prejuízo, no âmbito estadual, definitivamente, não será só do clube alvinegro
em caso de fracasso amanhã. "Imagino um cenário devastador para o nosso
futebol, se o Ceará vier a fracassar neste sábado. Já perdemos demais com o
fato de o Fortaleza não ter conseguido o acesso. Pior ainda foi o Icasa, que se
desmanchou nos últimos anos. Sem falar que o caminho do retorno é íngreme. Taí
a situação do Fortaleza, que não nos deixa mentir", detalha o comentarista
da TV Diário, Wilton Bezerra.
Exemplo do Pará
Fred
Gomes, que passou pelo Ceará na época do técnico PC Gusmão e, recentemente,
ajudou o Clube do Remo a conquistar o acesso à Série C, avalia o tamanho da
"encrenca" para os times locais em caso de descenso alvinegro. Ele
lembra o panorama desolador que viu ao chegar para trabalhar no clube paraense,
no início deste ano.
"Estudamos
a situação em que o clube se encontrava. Foi preciso fazer um planejamento
emergencial, pois o Remo não tinha nem divisão para jogar. Isso tudo afetava o
futebol paraense, já que se trata de um clube de massa, que precisava retomar o
caminho das conquistas. Daí você imagina como um clube que nem o Ceará pode ser
prejudicado e, consequentemente, o futebol do Estado, visto que isso afetaria
nas rendas e nas negociações com jogadores. É um cenário muito
complicado", aponta.
Já o
colunista Tom Barros lembra de exemplos negativos que aconteceram no futebol
nordestino. "Se acontecer, não vai ser o fim do mundo. Quando Bahia e
Vitória caíram para a Série C, o futebol baiano passou por maus momentos,
principalmente na parte financeira, mas os dois conseguiram dar a volta por
cima. O Santa Cruz foi outro que chegou ao fundo do poço e conseguiu, só agora,
retornar à elite. Então vejo que a continuidade do Ceará na Série B representa
pelo menos a manutenção dentro de um patamar mais confortável em diversas
situações. Um exemplo é o aspecto comercial, que cai consideravelmente. Vejo,
no entanto, a parte financeira como a mais prejudicada", relata.
Opinião do especialista
'Seguir na B é vital para elevar a autoestima'
O Ceará
Sporting Club não pode prescindir da condição de estar na Série B e o futebol
cearense como um todo, que tem a grande maioria dos seus times praticamente
quebrados, tende a sofrer ainda mais consequências. Uma delas é a redução nos
valores de contratos de mídia e TV, patrocínios pontuais e, principalmente, a
perda da autoestima do torcedor local. Isto porque ele acaba comparando o
futebol cearense com o de outros estados e se sente ainda mais inferiorizado em
relação a realidades economicamente mais favoráveis e de consequente sucesso
esportivo, como é o caso de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O
próprio campeonato cearense fica mais desvalorizado quando suas principais
equipes vêm de fracassos nas competições nacionais, que hoje preenchem mais o
calendário em termos de número de meses de disputa. Isto aumenta ainda mais o
número de jogos deficitários, clubes pagando para jogar e uma pequena
quantidade de jogos que realmente vai despertar o interesse do consumidor, que,
no fundo, age como cliente diante de um produto ruim. Enfim, o futebol cearense
acaba fazendo parte de um ciclo vicioso, que pode trazer péssimas consequências
na gestão dos clubes se algum plano de soerguimento em conjunto, que envolva a
estrutura como um todo, não possa ser coordenado a partir de lideranças e
instituições responsáveis como a FCF.
Evandro Ferreira Gomes
Consultor em Marketing Esportivo
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