O número de solicitações de
seguro desemprego recebidas pelo Sistema Nacional de Emprego/Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT) no Ceará caiu quase pela metade (48%),
em outubro deste ano, quando comparado ao mesmo período de 2014. Enquanto no
ano passado 19.587 trabalhadores solicitaram o recebimento do benefício em
outubro, neste ano, apenas 10.153 conseguiram se habilitar.
De
acordo com Júlia Torres, coordenadora de Seguro Desemprego do Sine/IDT, a
diminuição do número de habilitados é reflexo não só da nova legislação, que
limitou o acesso dos trabalhadores ao benefício, mas também da greve dos
agentes bancários, que durou cerca de vinte dias. "Para pedir o seguro
desemprego, o trabalhador precisa comprovar ter recebido o FGTS. Sem banco, muita
gente não tinha acesso a esse documento", explica.
Em
relação ao acumulado do ano, a queda do número de solicitações foi em torno de
7%. Enquanto 171.470 trabalhadores solicitaram o seguro até outubro deste ano,
184.168 se habilitaram para receber o benefício no mesmo período do ano
passado. A coordenadora ressalta que o número não representa o total de
beneficiários do Estado, uma vez que a Superintendência Regional do Trabalho e
Emprego do Ceará (SRTE/CE) e unidades municipais do Sine também habilitam
trabalhadores para o seguro desemprego.
Uma das
restrições que mais dificultaram o acesso dos trabalhadores ao benefício,
segundo Júlia, foi a ampliação do período trabalhado de seis para 12 meses, no
caso daqueles que vão solicitar pela primeira vez. O trabalhador poderá receber
de três a cinco parcelas em um valor proporcional ao salário que recebia -
sendo, pelo menos, o valor do salário mínimo (R$ 788) até, no máximo, R$
1.385,91.
Rescisão
Lara
Carvalho, 31, há quase um mês foi desligada de uma concessionária de veículos,
que rescindiu o contrato com todos os vendedores, tanto da matriz como das
filiais. "Nosso salário era a comissão em cima da nota fiscal e a empresa
achou inviável continuar pagando, por conta das vendas baixas, e fez o corte geral.
Todos os vendedores foram demitidos e novos foram contratados", explicou.
Segundo
Lara, a medida prejudicou muitos funcionários, inclusive pessoas que estavam
perto de se aposentar e outras com mais de 50 anos e problemas de saúde. Ontem,
na unidade do Centro do Sine/IDT, ela deu entrada no pedido para receber o
seguro desemprego e se deparou com uma surpresa: por conta das novas regras,
não teria direito a receber o máximo de cinco parcelas do benefício, mas apenas
quatro.
"Fiquei
um ano nessa empresa e achei que iria receber as cinco parcelas do seguro, como
recebi de outras vezes, só que não é mais. Com as novas regras, eu só teria
direito se estivesse trabalhado lá dois anos. É ruim porque o mercado de
trabalho já não está muito fácil e, ainda por cima, essa diminuição dificulta o
tempo que a gente vai ter para encontrar emprego", destacou.
O valor
do benefício, segundo Lara, não é suficiente, principalmente por conta de
aumentos da energia, das compras no supermercado e do aluguel, entre outras
despesas. "Já passei o ano de 2015 todo praticamente sem gastar, sem fazer
compra, exatamente com medo. O dinheiro da minha rescisão vai ficar juntando e,
devagarzinho, me segurar nesses quatro meses", explicou, afirmando que
utilizará o período para estudar para concursos públicos.
Cortes
Ângela
Patrícia, 28, é outro exemplo de profissional que perdeu o emprego por conta de
cortes de gastos das empresas. Ela trabalhou como auxiliar de uma creche por 10
meses e acabou perdendo o trabalho, juntamente com outras duas pessoas.
"Até achei que não ia receber o benefício, porque precisa ter trabalhado
12 meses para receber pela primeira vez, mas juntou com os quatro meses em que
trabalhei em outra empresa e deu certo".
Edmilson
Araújo, 50, por sua vez, acabou de retornar do Pará, onde trabalhou por dois
anos e quatro meses como mecânico na Usina de Belo Monte, por conta do fim da
obra em que estava inserido. Ontem, ele também deu entrada no pedido de
seguro-desemprego, ganhando direito de receber as cinco parcelas, e espera encontrar
em breve um novo trabalho. "Vamos ver se no próximo ano melhora e aparecem
mais obras", aguarda.
Esperança
Já
Cleilton Alves, 31, estava trabalhando como autônomo, na elaboração de projetos
rurais e, com a diminuição da demanda no final do ano, retornou à Capital para
procurar um trabalho formal, tanto na área agrícola como de auxiliar de
contabilidade, com a qual tem certa experiência. Ele conta que há poucas
oportunidades para quem está no interior. "Tem vagas, mas é mais
difícil", lamenta.
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