Preocupados com a redução de
investimentos da Petrobras em áreas como abastecimento e energia, medida que
foi sinalizada com a revisão do plano de negócios da estatal para os anos de
2015 a 2019, estão em greve por tempo indeterminado desde domingo (1º). No País
são cerca de 79 mil trabalhadores da estatal, dos quais cerca de 500 estão no
Ceará.
Na
Lubnor, maior base do Estado, localizada no bairro Mucuripe, em Fortaleza,
houve corte de rendição ontem às 7h e às 15h, de acordo com informações da
assessoria de imprensa do Sindicato dos Petroleiros do Ceará e do Piauí
(Sindipetro CE/PI). O sindicato afirma que existem trabalhadores que estão há
mais de 24 horas seguidas em serviço na Lubnor e adianta que acionará a Justiça
do Trabalho para retirar da empresa aqueles que ultrapassarem as horas máximas
permitidas em lei.
Em
Paracuru, segundo a assessoria sindical, apenas 32% da produção de óleo e 37%
da de gás natural estão em operação, e 13 poços tiveram sua atividade
paralisada. Na Usina de Biodiesel de Quixadá, o setor jurídico do sindicato
está fazendo a denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre o excesso
de jornada de três operadores trabalhando initerruptamente e sobre o efetivo
mínimo de brigada, que está sendo descumprido. "A greve tem a tendência de
aumentar com a adesão do regime administrativo a partir desta terça-feira
(3)", diz o Sindipetro.
Ativas à venda
Em
visita ao Estado na última semana, onde esteve na Lubnor e no Edifício
Manhattan para falar com os petroleiros cearenses, o representante dos
trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Deyvid Bacelar, disse
que a venda de importantes ativos da estatal é o que mais impulsiona o
movimento de greve. Bacelar classifica o plano de "desinvestimento"
da Petrobras como "nada mais que um grande plano de venda de ativos da
empresa", o que preocupa bastante os trabalhadores.
"O
Conselho de Administração autorizou a venda de US$ 57,7 bilhões em ativos até
2018. Queremos negociar uma redução disso, pois não admitimos que ativos
estratégicos, como da BR Distribuidora e da Gaspetro, sejam simplesmente
jogados ao mercado desta maneira", ratifica. O representante dos
trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras afirmou que a venda de
ativos estratégicos da estatal pode comprometer o fato da mesma ser uma grande
empresa integrada em todo o País. "Essa foi a vantagem que tivemos neste
primeiro semestre, onde a Petrobras registrou um grande lucro líquido",
disse.
Bacelar
criticou ainda o fato da estatal estar focando seus investimentos apenas na
área de exploração e produção de petróleo, especificamente no pré-sal,
esquecendo das demais atividade da empresa, como abastecimento gás e energia.
"No Nordeste, nenhum dos ativos está ligado ao pré-sal. A região
certamente será prejudicada", destaca.
Risco de demissões
Os
petroleiros também estão preocupados com o risco de demissões dentro da
estatal, afirma Bacelar. Isso porque, na década de 1990, algumas subsidiarias
(exemplos de Petromisa, Nitroflex e Petroquisa) acabaram entregues ao mercado e
geraram uma série de dispensas. O temor é que o mesmo aconteça agora.
"Quando se privatiza, o objetivo se torna unicamente atingir o lucro,
deixando de lado o papel social que a Petrobras possui", opina.
Se isso
acontecer, diz, a repercussão será na economia do País como um todo, posto que
a Petrobras representava, até 2014, 13% do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional. "A questão não é só a situação dos petroleiros, mas de toda a
sociedade brasileira. A Petrobras é um patrimônio do País que precisa ser
conservado", desta Bacelar.
Reconhecendo
o momento conturbado da Petrobras, que tem sofrido com o aumento de suas
dívidas, a própria situação macroeconômica do País e um grande desgaste em sua
imagem, causado pela Operação Lava-Jato, Deyvid Bacelar sugeriu algumas
alternativas para a estatal contornar o momento de dificuldades. Conforme diz,
uma opção é buscar recursos através do banco do Brics, que já conta com US$ 100
bilhões disponíveis para financiamento dos países que o formaram, dentre os
quais está o Brasil. "Também é possível negociar com países parceiros que
necessitam de petróleo, como a China, que pode injetar bilhões aqui em troca de
um pagamento em longuíssimo prazo. Até o BNDES é opção" Outra alternativa
mais ousada, conta Bacelar, seria fechar o capital da Petrobras, algo que ele
considera difícil no momento, dada a situação instável da política brasileira.
"Hoje
a empresa tem o capital aberto, sofrendo todas as consequências das leis,
regras e nuances do mercado de capitais. Se fechássemos, estaríamos menos
sujeitos a esses movimentos, inclusive especulativos. Nãos seria absurdo, posto
que a indústria mundial tem feito isso. Hoje, 75% da produção de petróleo do
planeta é controlada por estatais", finaliza Deyvid Bacelar.
Nota da Petrobras
Em
nota, a Petrobras informa que está avaliando os impactos das mobilizações dos
sindicatos. As equipes de contingência da empresa foram acionadas e estão
operando em algumas unidades. Em alguns locais, estão ocorrendo bloqueios de
acessos, cortes de rendição de turno e ocupação. "A companhia está tomando
todas as medidas necessárias para manter a produção e o abastecimento do
mercado, garantindo a segurança dos trabalhadores e das instalações", diz
a nota.
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