Fortaleza/São Paulo. Peça fundamental para a logística de
diversas atividades produtivas, o transporte rodoviário de cargas teve um dia
tumultuado ontem, quando caminhoneiros iniciaram, em ao menos 14 estados
brasileiros, uma série de protestos e interdições de rodovias em vários pontos
do País. A paralisação da categoria foi mais forte nas regiões Sul e Sudeste,
mas também atingiu o Nordeste ao longo desta segunda-feira, inclusive o Ceará,
que pode sofrer sérios impactos em sua economia caso a situação se alastre
pelos próximos dias.
De
acordo com o presidente da Câmara Temática de Logística (CTLogística), Marcelo
Quinderé, o fato do Ceará ficar localizado "na ponta do País" deixa a
situação ainda mais preocupante. "A localização do Estado é um grande
problema nesse sentido, pois estamos na ponta, no limite. Se a greve se
alastrar e os caminhões vindos do Sudeste não conseguirem entregar as
mercadorias e voltarem com produtos nossos, não teremos como escoar a produção.
Isso afetará praticamente todos os setores, como comércio, indústria,
agricultura e fruticultura", comenta.
Quinderé
ressalta ainda que, caso a situação ganhe proporções maiores e se alastre por
vários dias, o Estado corre o risco de ver algumas mercadorias faltarem em suas
prateleiras. "Imagine, por exemplo, se começa a faltar itens nos
supermercados? Seria um caos. Isso já aconteceu na Venezuela. O governo federal
precisa saber negociar", diz.
O presidente da CTLogística
também destacou a dependência que não só o Ceará, mas todo o País possui do
transporte rodoviário. Segundo ele, situações assim servem para o governo
estudar, de fato, outras alternativas para a logística brasileira. "Há uma
concentração muito grande de cargas nas estradas e isso não é um problema
quando há paralisação. Precisamos da cabotagem, das ferrovias", defende.
Trechos impactados
Conforme
a Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 14h50 de ontem um trecho do quilômetro
(km) 318 da BR 222, localizado no município de Tianguá, foi interditado por
caminhoneiros, que montaram uma barreira de pneus e impediram que caminhões
passassem ao longo do dia. Só veículos leves, de prestação de serviços de
utilidade pública e de emergência (ambulâncias e viaturas policiais) trafegaram
normalmente pelo local. Em Russas também foi registrado aglomeração de
caminhoneiros na BR 116, mas sem interdição da via. Além do Ceará, outros
estados nordestinos registraram interdições ontem. No Rio Grande do Norte, por
exemplo, aproximadamente 100 caminhoneiros bloquearam a BR 304, na altura do km
51, próximo a Mossoró, onde os manifestantes impediram o trânsito de caminhões
e liberaram apenas a circulação de carros e ônibus. Na Bahia, desde 6h20
protestos aconteceram na BR 407, próximo a Capim Grosso, onde pneus foram
queimados e somente ônibus e veículos de emergência conseguiram passar.
A PRF
também registrou interdição de caminhoneiros em Pernambuco, mais precisamente
em um trecho da ponte Presidente Dutra, na BR 407, que liga as cidades de
Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). A manifestação começou às 12h, disse a Polícia.
Situação nacional
Logo
pela manhã, caminhoneiros realizavam protestos em 48 pontos de rodovias
federais do Brasil, interrompendo pelo menos parcialmente o tráfego de cargas.
A mobilização foi organizada por meio de redes sociais, em protesto contra a
presidente Dilma Rousseff, e já preocupa bastante alguns setores exportadores,
posto que as manifestações se concentraram em estados importantes para a
produção agrícola do País: Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás,
Bahia e Santa Catarina.
O Rio
Grande do Sul, por exemplo, concentrou 14 pontos de protesto, com bloqueio de
tráfego em um deles. No Paraná, segundo maior produtor de soja, que está na
fase final de plantio, havia uma interdição em oito pontos. "Em todos
esses oito locais, os veículos de passeio, ônibus e ambulâncias têm passagem
liberada. Apenas veículos de carga são impedidos de transitar pelos
manifestantes", afirmou ontem a PRF do Paraná.
Não
houve protestos no Mato Grosso, principal Estado produtor de grãos, que está
transportando grandes volumes de milho e recebendo insumos para o plantio da
nova safra de soja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário