Diante da crise hídrica por que
passa o Ceará e das expectativas de mais um ano de seca em 2016, o governo do
estado busca alternativas para atender a demanda de água para consumo humano,
para o agronegócio e para a indústria. A ideia é estimular tanto o reúso de
água como projetos de dessalinização de água do mar.
Segundo a secretária de
Desenvolvimento Econômico (SDE), Nicolle Barbosa, hoje, há quatro empresas
interessadas na construção de uma usina de dessalinização de água do mar no
Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). Todas são estrangeiras, sendo
duas espanholas e duas israelenses.
Com
investimento estimado em R$ 1 bilhão, a usina seria capaz de produzir, no
primeiro momento, 3m³ por segundo de água industrial, volume suficiente para
atender o consumo atual do Cipp, que gira em torno de 2,7m³/s. Segundo Barbosa,
a ideia é fazer uma usina modelada, que poderia ser ampliada para produzir até
10m³/s. "Com isso as águas do Castanhão seriam liberadas e não precisariam
mais ir para o Cipp", disse a secretária. Para a primeira fase do
empreendimento, o prazo de conclusão das obras é estimado em 12 meses. "A
gente espera que, em 2017, já tenha essa usina", diz Barbosa.
Recursos do investidor
Os
recursos para construção da usina serão exclusivos do investidor e a
contrapartida do Estado é a concessão. "Hoje nós estamos definindo como
vai ser esse modelo de concessão. O grande entrave é a gente achar uma tarifa
que seja viável para a empresa, porque não vai ser o preço que se paga
hoje", diz Barbosa.
Devido
os custos operacionais relacionados à tecnologia envolvida no processo de
dessalinização e os custos de instalação, inevitavelmente, o preço das tarifas
teriam de subir.
Estima-se
que a água bruta, própria para uso industrial, proveniente de uma usina de
dessalinização custaria entre R$ 4,00 e R$ 5,00 por 1m³, enquanto que,
atualmente, as indústrias instaladas no Estado pagam cerca de R$ 1,00 pelo
mesmo volume, uma das tarifas mais baixas cobradas no País, o que, segundo
Nicolle, desestimula outras empresas a entrar no negócio de produção de água.
"Mesmo
no Ceará, que é um estado do semi-árido, a água bruta ainda é muito barata.
Assim, o empresário, dificilmente, vai querer pagar um valor mais alto. Então,
a grande dificuldade, mesmo para o reúso de água, é a questão econômica",
diz a diretora de Mercado da Cagece, Cláudia Caixeta. Para Caixeta, a
instalação da usina de dessalinização no Cipp deixaria o Ceará em uma situação
hídrica confortável. "Isso já ajudaria o Estado como um todo, mas tem que
ser um projeto viável do ponto de vista econômico", afirma.
A
secretária de Desenvolvimento Econômico afirma, no entanto, que o Cipp está
preparado para receber os novos empreendimentos previstos. Mas caso a usina de
dessalinização não fique pronta até 2017, Nicolle diz que, com a conclusão das
obras da transposição do Rio São Francisco, previstas para 2016 e que irá
abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza, o Complexo Industrial terá sua
demanda atendida.
"O
cenário (de seca) para 2016 preocupa, por isso precisamos acelerar ainda mais
esse processo (de concessão). De todo modo, o importante é dizer que o Estado
vai estar preparado (para receber novas indústrias)", garante Nicolle.
Reúso
Além da
dessalinização, outra solução que vem sendo discutida como saída para enfrentar
a seca é o reúso de água. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Alvaro Menezes, coordenador da
consultoria GO Associados, que faz estudos de reúso, hoje, a prática já é comum
para fins industriais ou para a agricultura, mas o ideal é ampliar também para
produzir água potável para consumo humano.
"Aqui
no Nordeste, esse tipo reúso pode se dar com mais urgência, para fazer, por
exemplo, a recarga de aquíferos e de barragens, para você ter água para atender
as populações", disse Menezes, que participa hoje do XII Encontro Técnico
de Reúso, promovido pela Cagece. Embora, segundo ele, ainda haja preconceito
contra água de reúso, "muitas vezes ela apresenta um padrão melhor do que
o daquelas águas que abastecem populações do semi-árido".
No
entanto, ele reconhece que o maior gargalo para a implantação de sistemas de
reúso, assim como os de dessalinização, é a falta de modelo econômico voltado
para esse tipo de produção. "A gente precisa desenvolver projetos de reúso
e, junto com isso, tornar as estações mais eficientes, porque hoje está cada
vez mais difícil buscar financiamentos", observa.
Para
Claudia Caixeta, no médio e longo prazo, não será mais possível evitar soluções
como o reúso e a dessalinização. "A gente tem que implementar isso, a
questão do reúso não tem mais volta, porque a gente não tem mais alternativa",
afirma.
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