Os efeitos da retração
econômica foram sentidos fortemente pelo setor calçadista neste ano, especialmente
pela indústria cearense. De janeiro a outubro, o Estado exportou 18,1% a menos
em relação a igual período do ano passado, conforme dados da Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Ainda assim, o Ceará
mantém a posição de segundo maior exportador do País, atrás do Rio Grande do
Sul.
Até
outubro deste ano, o Ceará embarcou no intervalo o equivalente a US$ 198
milhões, enquanto, em 2014, foram US$ 242 milhões. A queda é maior que a da
média das exportações do País, de 12,4%. Em igual período de 2014, os embarques
somaram US$ 874 milhões. Neste ano, foram exportados US$ 766 milhões em
calçados.
Somente
em outubro, o Rio Grande do Sul, principal exportador do País, teve receita de
US$ 26,31 milhões, uma queda de 6,3% frente a igual período do ano anterior
(US$ 28,08 milhões). O Ceará embarcou 18,6% a menos, caindo de US$ 22,91
milhões em 2014 para US$ 18,66 milhões em 2015. Já São Paulo teve queda de
37,9% da receita, registrando US$ 8,37 milhões em outubro ante US$ 13,48
milhões no ano passado.
Na
visão do presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, as exportações ainda
não reagiram à desvalorização do real, que pode tornar os produtos brasileiros
mais competitivos em relação aos de outros países. "Também houve uma
redução do preço médio do par, efeito da mudança do câmbio. Era de US$ 8,33 em
2014 e chegou a US$ 7,93 no mês passado, uma redução de quase 5%",
destacou
Dólar
Segundo
Klein, o efeito da valorização do dólar será sentida de maneira mais lenta, uma
vez que as negociações acontecem com meses de antecedência. Ele espera uma
recuperação das exportações no primeiro semestre de 2016, por conta das
coleções primavera-verão. A comercialização dos produtos foi realizada entre
julho e agosto, quando o dólar estava mais alto.
Expansão
Ainda
que já seja um estado referência na produção e na exportação de calçados, Klein
avalia que o Ceará precisa buscar maior presença nos mercados internacionais e
mais qualificação do produto para consolidar as marcas cearenses no mercado
internacional. "Principalmente, pela adição de valor agregado e design
diferenciado nas coleções", avaliou, lembrando que o preço médio do par no
Estado caiu de US$ 5,55 para US$ 5.20.
Consumo interno
As
vendas no mercado doméstico também têm sofrido com a retração econômica do
País. Segundo o presidente, o setor prevê uma retração de 8% a 10% do volume de
calçados demandados do varejo em 2015 em relação ao ano passado. "É um
reflexo das dificuldades financeiras pelas quais passam as famílias
brasileiras, que estão evitando o endividamento", apontou Klein.
No
Ceará, a expectativa também é de queda da produção. O presidente do Sindicato
das Indústrias de Calçados e Vestuário de Juazeiro do Norte e Região
(Sindindústria), Antônio Mendonça, lembra que, em anos anteriores, a produção
calçadista do Estado vinha crescendo acima da média nacional por conta dos investimentos
que estavam sendo realizados pela indústria.
"Em
2015, esses investimentos pararam e as fábricas mantiveram suas produções ou
até diminuíram um pouco. Observamos que não houve um aumento significante da
demanda do varejo para que a indústria fizesse novas contratações para o fim do
ano, o que era costumeiro acontecer", disse Mendonça.
"Temos
que ver como será o movimento no varejo nos próximos meses para, a partir daí,
termos uma visão da indústria", acrescentou o presidente do Sindindústria.
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