O caminho percorrido para
entrar com drogas no Ceará supera fronteiras e passa por meios terrestres,
marítimos e até aéreos, como no caso do Aeroporto Internacional Pinto Martins,
que se tornou, nos últimos anos, uma das portas do narcotráfico. Em repressão à
atividade, a Polícia Federal (PF) tem fechado o cerco às quadrilhas e como
resultado já efetuou 57 prisões por tráfico internacional e interestadual de
entorpecentes no terminal aeroviário, em menos de três anos.
De
acordo com o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), delegado
federal Erisvaldo Graça Souza, os nove primeiros meses de 2015 tiveram um
aumento considerável nos flagrantes. Foram 32 traficantes presos no período. É
um acréscimo de 190% em relação aos casos do ano passado, e de 128% se
comparado com 2013, quando foram feitas 11 e 14 prisões, respectivamente.
Nestes três anos, também foram
apreendidos quase 300 quilos de drogas pela PF. A substância mais capturada nas
fiscalizações é a cocaína, originária do Peru, Bolívia e Colômbia. Os federais
também apreenderam uma quantidade considerável de 'skunk', uma espécie de
supermaconha, vinda do Amazonas.
Erisvaldo
Graça avalia que as quadrilhas têm percebido grande potencial de consumo no
Ceará. Com isso, a ação criminosa teria se intensificado. "O Brasil é
considerado o segundo país que mais consome cocaína. Como Fortaleza é uma das
grandes cidades, os traficantes tentam encontrar formas de entrar com as drogas
e explorar esse mercado. Um desses caminhos seria o aeroporto, mesmo com toda a
fiscalização dos voos", afirmou.
Negócio lucrativo
O
titular da DRE revela que a maioria dos presos no aeroporto de Fortaleza são
"mulas" - pessoas pagas para transportar a droga. Para realizar o
transporte sem serem pegos, os criminosos escondem o material em fundos falsos
de malas ou no corpo. Os atravessadores recebem cerca de R$ 10 mil para
transportar, em média, cinco quilos de entorpecentes por viagem.
A
quantidade, mesmo que aparentemente pequena, custaria em torno de R$ 100 mil no
mercado negro, conforme o delegado. Após chegar às ruas, a droga é misturada a
outras substâncias, fazendo com que o produto renda mais. Assim, uma única
'mula' consegue abastecer uma boca de fumo, em um esquema lucrativo,
principalmente para os 'chefões do tráfico'.
"Isso
nada mais é que um negócio. A Lei não difere quem é mula ou quem é o produtor.
Todos são traficantes. Mas sabemos que essas pessoas são os elos mais frágeis
desse esquema. O valor que eles ganham é bem abaixo do que o chefe recebe com a
venda final. Esses grandes traficantes podem mandar várias mulas ao mesmo
tempo, para lugares diferentes. Deste modo, eles conseguem manter vivo o
esquema, lucrando muito dinheiro com o tráfico", apontou.
A PF
tem intensificado as investigações para tentar identificar toda a teia do
crime, a partir das prisões das 'mulas'. Em determinados flagrantes, os
policiais monitoram o destino da droga em Fortaleza e durante a entrega chegam
a outros envolvidos.
"Nossa
estratégia é não ficar apenas no ato da prisão. A partir das mulas, tentamos
investigar e subir até o topo da cadeia, chegando aos comandantes do tráfico.
Não é sempre que acontece, mas estamos mantendo esse monitoramento para tentar
chegar nessas quadrilhas", reiterou.
Rotas do tráfico
Erisvaldo
explica que as drogas entram no Brasil por estados fronteiriços, como Amazonas,
Acre e Rondônia. Essas seriam as principais rotas do narcotráfico internacional
identificadas pela PF. A partir desses lugares, os entorpecentes seguem por
diversos caminhos até se expandirem pelo País, incluindo o Ceará.
Além do
aeroporto, as quadrilhas têm atuado nas rodovias e nos portos marítimos. Por
terra, o transporte é feito, geralmente, em ônibus e caminhões. De acordo com a
Polícia Rodoviária Federal (PRF), 12 pessoas foram presas neste ano por
tráfico, e 945 quilos de entorpecentes foram apreendidos nas estradas.
O chefe
de Policiamento e Fiscalização da PRF, Karlos Derickson, diz que o esquema
funciona semelhante ao do aeroporto. "A maioria das drogas apreendidas
estavam dentro de malas, nos compartimentos de bagagens dos ônibus, sendo
trazidas por atravessadores", indica.
Dificuldades
O
titular da DRE acrescenta que os grandes carregamentos que entram no Ceará são
destinados à exportação. As drogas são armazenadas, aguardando o momento do
envio ao Exterior em grandes embarcações.
O
delegado revela que a principal dificuldade da PF é controlar o escoamento das
substâncias pelo mar. "Existem milhares de contêineres nos portos e se a
droga chegar lá dificilmente vamos conseguir monitorar. Outro problema são os
grandes veleiros, que podem cruzar o oceano tranquilamente, sem tanta
fiscalização. Por isso, nós trabalhamos para evitar que o carregamento chegue
ao mar, fazendo os flagrantes antes mesmo da entrada nos portos", conclui.
(Colaborou
Valdir Almeida)
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