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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Fortaleza na rota do tráfico internacional de drogas

O caminho percorrido para entrar com drogas no Ceará supera fronteiras e passa por meios terrestres, marítimos e até aéreos, como no caso do Aeroporto Internacional Pinto Martins, que se tornou, nos últimos anos, uma das portas do narcotráfico. Em repressão à atividade, a Polícia Federal (PF) tem fechado o cerco às quadrilhas e como resultado já efetuou 57 prisões por tráfico internacional e interestadual de entorpecentes no terminal aeroviário, em menos de três anos.

De acordo com o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), delegado federal Erisvaldo Graça Souza, os nove primeiros meses de 2015 tiveram um aumento considerável nos flagrantes. Foram 32 traficantes presos no período. É um acréscimo de 190% em relação aos casos do ano passado, e de 128% se comparado com 2013, quando foram feitas 11 e 14 prisões, respectivamente.
Nestes três anos, também foram apreendidos quase 300 quilos de drogas pela PF. A substância mais capturada nas fiscalizações é a cocaína, originária do Peru, Bolívia e Colômbia. Os federais também apreenderam uma quantidade considerável de 'skunk', uma espécie de supermaconha, vinda do Amazonas.
Erisvaldo Graça avalia que as quadrilhas têm percebido grande potencial de consumo no Ceará. Com isso, a ação criminosa teria se intensificado. "O Brasil é considerado o segundo país que mais consome cocaína. Como Fortaleza é uma das grandes cidades, os traficantes tentam encontrar formas de entrar com as drogas e explorar esse mercado. Um desses caminhos seria o aeroporto, mesmo com toda a fiscalização dos voos", afirmou.
Negócio lucrativo
O titular da DRE revela que a maioria dos presos no aeroporto de Fortaleza são "mulas" - pessoas pagas para transportar a droga. Para realizar o transporte sem serem pegos, os criminosos escondem o material em fundos falsos de malas ou no corpo. Os atravessadores recebem cerca de R$ 10 mil para transportar, em média, cinco quilos de entorpecentes por viagem.
A quantidade, mesmo que aparentemente pequena, custaria em torno de R$ 100 mil no mercado negro, conforme o delegado. Após chegar às ruas, a droga é misturada a outras substâncias, fazendo com que o produto renda mais. Assim, uma única 'mula' consegue abastecer uma boca de fumo, em um esquema lucrativo, principalmente para os 'chefões do tráfico'.
"Isso nada mais é que um negócio. A Lei não difere quem é mula ou quem é o produtor. Todos são traficantes. Mas sabemos que essas pessoas são os elos mais frágeis desse esquema. O valor que eles ganham é bem abaixo do que o chefe recebe com a venda final. Esses grandes traficantes podem mandar várias mulas ao mesmo tempo, para lugares diferentes. Deste modo, eles conseguem manter vivo o esquema, lucrando muito dinheiro com o tráfico", apontou.
A PF tem intensificado as investigações para tentar identificar toda a teia do crime, a partir das prisões das 'mulas'. Em determinados flagrantes, os policiais monitoram o destino da droga em Fortaleza e durante a entrega chegam a outros envolvidos.
"Nossa estratégia é não ficar apenas no ato da prisão. A partir das mulas, tentamos investigar e subir até o topo da cadeia, chegando aos comandantes do tráfico. Não é sempre que acontece, mas estamos mantendo esse monitoramento para tentar chegar nessas quadrilhas", reiterou.
Rotas do tráfico
Erisvaldo explica que as drogas entram no Brasil por estados fronteiriços, como Amazonas, Acre e Rondônia. Essas seriam as principais rotas do narcotráfico internacional identificadas pela PF. A partir desses lugares, os entorpecentes seguem por diversos caminhos até se expandirem pelo País, incluindo o Ceará.
Além do aeroporto, as quadrilhas têm atuado nas rodovias e nos portos marítimos. Por terra, o transporte é feito, geralmente, em ônibus e caminhões. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 12 pessoas foram presas neste ano por tráfico, e 945 quilos de entorpecentes foram apreendidos nas estradas.
O chefe de Policiamento e Fiscalização da PRF, Karlos Derickson, diz que o esquema funciona semelhante ao do aeroporto. "A maioria das drogas apreendidas estavam dentro de malas, nos compartimentos de bagagens dos ônibus, sendo trazidas por atravessadores", indica.
Dificuldades
O titular da DRE acrescenta que os grandes carregamentos que entram no Ceará são destinados à exportação. As drogas são armazenadas, aguardando o momento do envio ao Exterior em grandes embarcações.
O delegado revela que a principal dificuldade da PF é controlar o escoamento das substâncias pelo mar. "Existem milhares de contêineres nos portos e se a droga chegar lá dificilmente vamos conseguir monitorar. Outro problema são os grandes veleiros, que podem cruzar o oceano tranquilamente, sem tanta fiscalização. Por isso, nós trabalhamos para evitar que o carregamento chegue ao mar, fazendo os flagrantes antes mesmo da entrada nos portos", conclui.
(Colaborou Valdir Almeida)

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