Quixeramobim. A decisão do Governo do Estado,
de decretar "situação crítica de escassez hídrica em todo o Ceará",
não é surpresa em algumas regiões do Interior, como o Sertão Central. Noutras,
como o Centro-Sul, a divulgação obteve ampla repercussão. O presidente da Associação
dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Expedito Nascimento, prefeito de
Piquet Carneiro espera que, após o decreto emergencial reconhecendo a crise
hídrica em todo o território cearense, aconteçam novas ações emergenciais,
principalmente, a perfuração de mais poços.
Enquanto isso, em várias
localidades do sertão, a disputa pela água se acirra.
O
representante dos prefeitos cearenses reconhece o esforço do Governo em buscar
soluções para a crise. Equipes da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) estão
realizando estudos geológicos e orientando a perfuração de poços nas cidades
onde a situação está mais crítica. Mas há a necessidade de perfuração de mais
poços, em menor tempo. Ele espera que o impacto da divulgação do ato
declaratório hídrico tenha serviço de alerta para a população, inclusive da
capital, quanto à necessidade do uso consciente, do racionamento de água.
O prefeito de Quixeramobim, no
Sertão Central, Cirilo Pimenta, faz a mesma avaliação. Desde 1993 a sua cidade
não tinha passado por situação tão crítica. Enquanto a adutora do açude Pedras
Brancas, em Banabuiú, não é concluída, para o abastecimento de cerca de 50 mil
habitantes, já que os açudes do Município secaram, a salvação está vindo dos
carros-pipa e do subsolo, de onde a água está sendo captada. Ele atribuiu o
quadro atual ao descontrole dos recursos do açude Arrojado Lisboa, em Banabuiú.
Muita água foi desperdiçada. O alerta é feito também para quem mora em
Fortaleza.
Contra a liberação
Na
cidade de Iguatu, o decreto Estadual motivou representantes de entidades de
classe a reforçar a luta contra a liberação de água no Açude Trussu para
reduzido número de produtores rurais. No próximo dia 15, haverá reunião da
Comissão do Açude com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) para
definir novos valores. "A situação está ficando cada vez mais grave e não
podemos aceitar a continuação dos valores atuais porque o açude que abastece
três cidades (Iguatu, Acopiara e Quixelô) está secando rapidamente", disse
o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva.
O
embate deve ser acirrado na próxima reunião da Cogerh. O prefeito de Iguatu,
Aderilo Alcântara, disse que o governo precisa adotar ações mais concretas
porque a continuidade do quadro de seca é iminente. "As comunidades
precisam de mais carros pipa e de mais poços profundos instalados",
defendeu. "Houve uma lentidão no programa de poços, mas é preciso ampliar
agora, com aquisição de mais máquinas perfuratrizes".
A
extensão do quadro de seca vai inviabilizar a continuidade dos criatórios de
peixe no Açude Orós e em outros reservatórios, além de afetar a economia rural,
com impactos nas atividades produtivas agropecuárias. "Muitos produtores
vão suspender a atividade, gerando desemprego e aumentando a crise no
campo", prevê o diretor da Unidade de Pecuária de Iguatu (Upeci), Mairton
Palácio. Já o agrônomo Paulo Maciel, da ONG Instituto Jaguaribe, observou que a
prioridade e a preocupação deve ser com o acesso à água para o consumo humano e
animal.
Essa
também é a preocupação dos trabalhadores rurais de Canindé. Eles promoveram uma
manifestação nesta quinta-feira no pátio da Prefeitura. Querem a ampliação do
número de senhas por comunidades rurais, dos carros-pipa, ainda maquinas
retroescavadeiras para abrir cacimbas nas áreas de aluviões, nos leitos dos
rios e nos açudes secos, ainda a perfuração de poços e a instalação dos já
perfurados. O protesto, encabeçado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais
deste Município, com a participação de agricultores de Boa Viagem, Caridade,
Itatira, Madalena e Paramoti, deve seguir até hoje. Eles pretendiam acampar
defronte ao Paço Municipal.
Ampliação
A
perfuração de mais poços e a transposição do rio São Francisco. Essas são as
alternativas traçadas pelo Governo do Ceará, através da Secretaria dos Recursos
Hídricos (SRH), na eventualidade de os prognósticos desfavoráveis quanto à
pluviosidade no Estado se confirmarem no próximo ano durante a quadra
invernosa. Até o início da segunda quinzena de outubro, serão realizadas mais
cinco atas de registros de preços, para contratação de serviços de perfuração
de poços e compra de mais máquinas perfuratrizes.
A
informação foi passada pelo secretário estadual dos Recursos Hídricos,
Francisco Teixeira, um dia após o Governo publicar no Diário Oficial do Estado,
Ato Declaratório de situação crítica de escassez de água. Para atender as
cidades onde há eminência de esgotamento dos recursos hídricos disponíveis nos
açudes, o subsolo realmente será a salvação. Apesar de mais de 80% do solo
cearense ser pobre em vazão, a ampliação do número de perfurações é a
alternativa para evitar o colapso total.
O
Governo do Estado pretende comprar mais 20 maquinas perfuratrizes e juntamente
com as outras 11 já disponíveis, serão distribuídas nos consórcios municipais.
O número de empresas a serem contratadas para também realizarem esse tipo de
serviço ainda não foi definido, mas a estratégia é agilizar, aumentar o número
de perfurações. No início de setembro passavam de 500 este ano.
Regiões críticas
As
ações estarão concentradas em cidades onde há um número razoável de habitantes.
Francisco Teixeira diagnosticou cada região do Estado e apontou como mais
críticas o Sertão dos Inhamuns e o Sertão Central, onde Boa Viagem é um
exemplo. Com cerca de 30 mil habitantes, a área urbana está sendo abastecida
através de 80 poços. Mas no caso de cidades maiores, como Quixadá e
Quixeramobim, o açude Pedras Brancas, em Banabuiú, garantirá o abastecimento
até 2017. Uma adutora de 60Km está sendo construída para levar água até esta
última cidade.
No
Cariri, a situação é a menos grave. Boa quantidade de água pode ser captada do
subsolo da região. Trata-se de um aquífero sedimentar, esponjoso, de onde é
possível extrair a água com mais facilidade. Noutra região onde há grande
concentração populacional, a Zona Norte, mais precisamente Sobral, além da
facilidade da água escorrer da Serra Grande, os açudes ainda apresentam bom
volume, o suficiente para suportar a continuação da estiagem em 2016.
De
acordo com o último boletim, os 153 açudes do Estado monitorados pela Cogerh
apresentavam volume de 2,93 bilhões m³, o equivalente a 15,61% da capacidade
total.
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