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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Cearenses retornam a Portugal

As relações entre Brasil e Portugal são costuradas desde 1500, quando os primeiros portugueses aportavam na terra nova, fértil de esperança e que representava um mundo novo. Hoje, quase que num movimento contrário, os brazucas pintam de verde e amarelo as terras além mar em busca de uma vida nova no velho continente.

É o que aconteceu com o cearense Antônio Carlos Inácio, 44. Desempregado no Brasil, recebeu o convite para ser cozinheiro em Lisboa. Já se passaram 13 anos e - apesar de manter o sonho do retorno para casa - reconhece que a vida como imigrante tem garantido melhoria para si e a família.
“Aqui eu nunca fiquei desempregado. Com dois anos, comprei a casa da minha mãe e todo mês envio dinheiro para ela. Eu trabalho aqui para minha família, mas queria poder um dia voltar. Sei que, em termos de tranquilidade e qualidade de vida aqui é melhor, mas sinto falta do Brasil. Minha filha de 19 anos veio morar comigo há dois. Ela está na faculdade e diz que não volta mais”, conta.
Carlos faz parte dos 2,5 milhões de brasileiros que moram em outros países, segundo estimativas de 2014 do Ministério das Relações Exteriores. Um número que só cresce, se levarmos em consideração o número de declarações de saída definitiva do País. Os dados da Receita Federal, entre 2012 e 2015, apontam um aumento de 92,35%. 
Em 2012, a Receita recebeu a 7.049 declarações. Até agora, em 2015, foram 13.559. No Ceará, do ano passado para cá houve um aumento de 132%. Durante 2014, foram registradas 37 saídas do País. A dois meses do fim deste ano, já são 65, sem contar com imigrantes ilegais.
Só na terra de Camões, são cerca de 166.775 brasileiros de acordo com dados do Itamaraty. Já, segundo a Embaixada de Portugal, são 87.493. Apesar da discrepante diferença, esse número confere ao Brasil o título de principal comunidade estrangeira residente lá.
A embaixada portuguesa identifica uma redução no registro de brasileiros vivendo lá. De 2013 para 2014, foram 4.627 a menos. Contudo, é importante ressaltar que, entre as principais causas para isso está a aquisição da nacionalidade portuguesa. Contudo, é importante considerar, ainda, a alteração de fluxos migratórios e o impacto da atual contexto econômico no mercado laboral português.
Conjuntura favorecida
Especialista no movimento migratório brasileiro e português, o professor da Pós-Graduação em Geografia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, Duval Fernandes, afirma que há um movimento claro de saída dos brasileiros para lá, contudo, esse é um fenômenos recente, impossibilitando uma análise completa sobre o perfil desse imigrante.
“Não podemos dizer que há uma nova onda, como aconteceu nos anos 90. Esse novo fluxo é mais comedido, impulsionado, sobretudo, pelo câmbio. Portugal é esse primeiro destino pela facilidade do idioma, pelos acordos bilaterais que facilitam esse reconhecimento da nacionalidade e por ser uma porta para Europa”, explica o estudioso.
O atual contexto social e econômico do Brasil também corrobora para esse êxodo internacional. Os brasileiros - assim como os portugueses na época do período colonial - enxergam na mudança de País uma oportunidade de ganhar dinheiro.
Dificuldades existem
A cearense Valdirene Pereira se diz mais uma do time dos desesperançados. Noiva há quatro anos de um português, a estudante de Ciências Sociais trancou a faculdade e foi impulsionada pela crise daqui a migrar para lá. “Vejo a situação que o Brasil e Fortaleza se encontram, um estado de abandono, violência e o custo de vida alto. Aí que penso e procuro aguentar a saudade e ficar aqui mais um tempo. Porque emprego está difícil, mas aqui vivemos bem, alimentação é mais em conta, o custo de vida é mais baixo e temos mais qualidade de vida. E podemos andar na rua sem medo”, justifica.
Mas, nem tudo são flores para quem aposta todas as fichas na terra nova. Há dois anos e com o visto por agrupamento familiar, ela reclama que os imigrantes sofrem com subempregos, sobretudo com a crise pela qual Portugal vem passando. Mesmo assim, reconhece que as dificuldades ainda se configuram pequenas, se comparadas à falta de oportunidades no Brasil.
“Existem muitos portugueses desempregados e eles preferem empregar os portugueses. Sobram subempregos. Mesmo assim, se um dia eu tiver filho, como se encontra o Brasil hoje, eu prefiro que ele viva aqui. Ele terá mais chances e poderá andar na rua sem medo e brincar pelos parques. Eu me sinto insegura no Brasil. Por isso penso assim hoje”, diz ela, que tem um emprego de meio período como garçonete e caixa. Ela ainda espera conseguir voltar para a faculdade e terminar o curso. “Tudo vai melhorar”, espera.
Enquete
Por que sair do Brasil?
"O principal fator foi meu currículo. Fazer um mestrado em outro país vai enriquecê-lo. Assim poderei me destacar no mercado de trabalho. Estudar aqui é mais barato e ter uma vivência internacional é maravilhoso"
Talma Martins

Estudante

"Vim para cá em busca de uma situação melhor. Não acho que o Brasil esteja bom para eu retornar e tirar o meu esposo da vida estruturada e segura que ele tem aqui e que eu acabo por ter também"
Valdirene Pereira

Garçonete

Migração
2,5 milhões de brasileiros atualmente moram em outros países, segundo dados de 2014 do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

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