As relações entre Brasil e
Portugal são costuradas desde 1500, quando os primeiros portugueses aportavam
na terra nova, fértil de esperança e que representava um mundo novo. Hoje,
quase que num movimento contrário, os brazucas pintam de verde e amarelo as
terras além mar em busca de uma vida nova no velho continente.
É o que
aconteceu com o cearense Antônio Carlos Inácio, 44. Desempregado no Brasil,
recebeu o convite para ser cozinheiro em Lisboa. Já se passaram 13 anos e -
apesar de manter o sonho do retorno para casa - reconhece que a vida como
imigrante tem garantido melhoria para si e a família.
“Aqui
eu nunca fiquei desempregado. Com dois anos, comprei a casa da minha mãe e todo
mês envio dinheiro para ela. Eu trabalho aqui para minha família, mas queria
poder um dia voltar. Sei que, em termos de tranquilidade e qualidade de vida
aqui é melhor, mas sinto falta do Brasil. Minha filha de 19 anos veio morar
comigo há dois. Ela está na faculdade e diz que não volta mais”, conta.
Carlos
faz parte dos 2,5 milhões de brasileiros que moram em outros países, segundo
estimativas de 2014 do Ministério das Relações Exteriores. Um número que só
cresce, se levarmos em consideração o número de declarações de saída definitiva
do País. Os dados da Receita Federal, entre 2012 e 2015, apontam um aumento de
92,35%.
Em
2012, a Receita recebeu a 7.049 declarações. Até agora, em 2015, foram 13.559.
No Ceará, do ano passado para cá houve um aumento de 132%. Durante 2014, foram
registradas 37 saídas do País. A dois meses do fim deste ano, já são 65, sem
contar com imigrantes ilegais.
Só na
terra de Camões, são cerca de 166.775 brasileiros de acordo com dados do
Itamaraty. Já, segundo a Embaixada de Portugal, são 87.493. Apesar da discrepante
diferença, esse número confere ao Brasil o título de principal comunidade
estrangeira residente lá.
A
embaixada portuguesa identifica uma redução no registro de brasileiros vivendo
lá. De 2013 para 2014, foram 4.627 a menos. Contudo, é importante ressaltar
que, entre as principais causas para isso está a aquisição da nacionalidade
portuguesa. Contudo, é importante considerar, ainda, a alteração de fluxos
migratórios e o impacto da atual contexto econômico no mercado laboral
português.
Conjuntura favorecida
Especialista
no movimento migratório brasileiro e português, o professor da Pós-Graduação em
Geografia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, Duval
Fernandes, afirma que há um movimento claro de saída dos brasileiros para lá,
contudo, esse é um fenômenos recente, impossibilitando uma análise completa
sobre o perfil desse imigrante.
“Não
podemos dizer que há uma nova onda, como aconteceu nos anos 90. Esse novo fluxo
é mais comedido, impulsionado, sobretudo, pelo câmbio. Portugal é esse primeiro
destino pela facilidade do idioma, pelos acordos bilaterais que facilitam esse
reconhecimento da nacionalidade e por ser uma porta para Europa”, explica o
estudioso.
O atual
contexto social e econômico do Brasil também corrobora para esse êxodo
internacional. Os brasileiros - assim como os portugueses na época do período
colonial - enxergam na mudança de País uma oportunidade de ganhar dinheiro.
Dificuldades existem
A
cearense Valdirene Pereira se diz mais uma do time dos desesperançados. Noiva
há quatro anos de um português, a estudante de Ciências Sociais trancou a
faculdade e foi impulsionada pela crise daqui a migrar para lá. “Vejo a
situação que o Brasil e Fortaleza se encontram, um estado de abandono,
violência e o custo de vida alto. Aí que penso e procuro aguentar a saudade e
ficar aqui mais um tempo. Porque emprego está difícil, mas aqui vivemos bem,
alimentação é mais em conta, o custo de vida é mais baixo e temos mais
qualidade de vida. E podemos andar na rua sem medo”, justifica.
Mas,
nem tudo são flores para quem aposta todas as fichas na terra nova. Há dois
anos e com o visto por agrupamento familiar, ela reclama que os imigrantes
sofrem com subempregos, sobretudo com a crise pela qual Portugal vem passando.
Mesmo assim, reconhece que as dificuldades ainda se configuram pequenas, se
comparadas à falta de oportunidades no Brasil.
“Existem
muitos portugueses desempregados e eles preferem empregar os portugueses.
Sobram subempregos. Mesmo assim, se um dia eu tiver filho, como se encontra o
Brasil hoje, eu prefiro que ele viva aqui. Ele terá mais chances e poderá andar
na rua sem medo e brincar pelos parques. Eu me sinto insegura no Brasil. Por
isso penso assim hoje”, diz ela, que tem um emprego de meio período como
garçonete e caixa. Ela ainda espera conseguir voltar para a faculdade e
terminar o curso. “Tudo vai melhorar”, espera.
Enquete
Por que sair do Brasil?
"O
principal fator foi meu currículo. Fazer um mestrado em outro país vai
enriquecê-lo. Assim poderei me destacar no mercado de trabalho. Estudar aqui é
mais barato e ter uma vivência internacional é maravilhoso"
Talma Martins
Estudante
"Vim
para cá em busca de uma situação melhor. Não acho que o Brasil esteja bom para
eu retornar e tirar o meu esposo da vida estruturada e segura que ele tem aqui
e que eu acabo por ter também"
Valdirene Pereira
Garçonete
Migração
2,5
milhões de brasileiros atualmente moram em outros países, segundo dados de 2014
do Ministério das Relações Exteriores do Brasil
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