Fortaleza. É mais comum se dizer que "o mar não está para peixe" na
expressão de que algo não vai bem, uma analogia das dificuldades básicas sobre
qualquer assunto. Falta dizer que as águas marítimas não estão para peixe
mesmo, sem metáforas, por conta da pesca indiscriminada. Em outras palavras, a
forte concentração de pesca de mais de dez espécies, sem importar o tamanho ou
a idade, está aproximando os peixes mais consumidos do desaparecimento no mar
do Ceará.
Pargo, cioba, ariacó, dentão, guaíba, sirigado, robalo, badejo, serra,
cavala, lagosta, pescadas amarela e branca estão sob forte risco de irem menos
para a mesa do cearense. Até não irem mais.
A pesca de animais que ainda não chegaram à fase de reprodução é um dos
principais problemas apontados em relatório do Centro de Desenvolvimento de
Pesca Sustentável do Brasil (Cedepesca).
A Organização Não Governamental reuniu dados como o tempo de maturação
de cada espécie e a forma e quantidade com que tem sido pescada, comprada e
consumida no Estado do Ceará.
Classificação de risco
Com risco estão pescadas amarela e branca, pargo, cioba, ariacó, dentão,
guaiuba, sirigado, robalo, badejo, serra, cavala e lagosta; atum tem risco
médio e carangueijo, somente, sob risco baixo. "As espécies mais populares
na mesa dos cearenses encontram-se em risco de uma exploração não
sustentável", afirma o estudo da Cedepesca.
Muito antes, e com palavras simples, esse problema é sentido nos
pescadores de comunidades como Redonda, em Icapuí. Vão na madrugada para o mar
e muitas vezes só trazem a lagosta que vale o almoço de um dia.
"Só quem é pescador sabe como é complicado você subir o manzuá e
não ter uma lagosta", explica Tobias Sousa, da associação de pescadores de
Redonda.
Defeso
"A
lagosta, pelo menos, tem período de defeso e normas para o tamanho da captura,
embora nem essa legislação seja cumprida", explica Vladila Oliveira, da
Cedepesca. À lagosta se soma o pargo entre as espécies consumidas no Estado com
período de defeso. Conforme o estudo, somente pargo, lagosta, caranguejo,
robalo e badejo possuem tamanhos mínimos legais de captura determinados, medida
que deve ser adotada para dar oportunidade as espécies de se reproduzirem pelo
menos uma vez. O departamento de fiscalização do Ibama afirma contar com poucos
funcionários para a fiscalização da lagosta e, quando consegue, é com uma
embarcação que faz o principal trabalho de acompanhamento da atividade no mar
do Ceará. Se o produto sujeito à fiscalização está à revelia, é ainda pior a
situação dos pescados sem normativas.
Espécies
Mas
pode ser ainda mais trágico: segundo os técnicos da Cedepesca, não existe
pesquisa biológica sistemática sobre a situação dessas espécies.
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